É raro uma revista independente ter uma periodicidade fixa, ainda mais mensal! A pernambucana Prismarte, da PADA – Produtora Artística de Desenhistas Associados – consegue esta façanha e vai além: já a um tempo a revista é temática. Neste último número (45) os colaboradores participaram com histórias no gênero terror. A capa, magistralmente desenhada por Zenival, expõe bem os elementos que compõem o tema: mulher demônio-vampira, lobo, homem esquisito sujo de sangue, Lua cheia e casarão. Linda a capa que parece ter sido feita a óleo. Na página dois há o editorial mais o expediente da edição. Algo percebido foi que, ao invés de ter um índice, as histórias são apresentadas (com seus respectivos autores) no editorial sem a menção da página em que a história começa. Poderia ter sido feito o índice à parte, assim o leitor que quer ir direto a uma determinada história o faz sem ter que percorrer a revista em busca da dita cuja, e também como forma de melhor identificação dos autores. No site da revista há a especificação das histórias e dos artistas que as fazem. Da maneira que lá consta ficou bom, se na revista estivesse daquele jeito seria quase perfeito, faltando mesmo somente a página.
A primeira história, Kwi-Uktena, de Wilson Vieira (roteiro) e Fred Macedo (desenhos) é ótima, com traços firmes e de personalidade. Falando em personalidade, algo notado em todas as histórias é isso, cada autor – a sua maneira – têm características ímpares quanto à forma de desenhar. Muito bom ver isso em uma revista diversificada como essa. Votemos a Kwi-Uktena: a trama, apesar de ser simples – homens amaldiçoados por um xamã - consegue surpreender no final (assim, também, como todas as HQs da revista), o destaque maior fica pela quadrinização dos quadros na história; várias vezes Macedo se abstêm das linhas que percorrem os quadros criando bordas com elementos da própria cena. Já em seguida há o conto O Pecado, de Leonardo Santana, com ilustração de página feita por Jean Okada. O conto é bom, mas muito curto, poderia ter sido explorado mais o sofrimento da protagonista, dando assim uma maior identificação com o leitor. O conto me lembrou um pouco O Gato Preto, de Edgar Alan Poe.
A Sutileza da Morte, de Rafael Pereira, é uma boa história, com ótima utilização de páginas com quadros pequenos e retangulares. Falar demais dela estragará a surpresa. Precisa-se, de Bira Dantas, em termos de Terror é a mais fraca, não que não haja, mas ele é em menor dose. E isso não é devido às linhas caricatas, mas sim à dinâmica dada à HQ. Vi muito de Bira no tema, como tudo passar dentro de uma empresa, o chefe ser extremamente capitalista, prezando mais a máquina que o homem. Na seqüência mais um conto, desta vez escrito por Alexandre da Costa e ilustrado por Milson Marins e intitulado A Loira do Banheiro; a narrativa é feita com base na lenda de assombrações em banheiros escolares dando uma justificativa à questão. A HQ Fuga, roteirizada por Alexandre Lobão e com arte de E.C. Nickel, é a história com os traços e tema que mais remetem aos tempos áureos das HQs de Terror brasileiras. O último Quadrinho é A volta do papa-figo, de Leonardo Santana (roteiro) em parceria com Dell Rocha (arte). Na questão de linguagem, é a que mais explora o poder “narracional” da mídia História em Quadrinhos, com excelentes enquadramentos e dinâmica. A trama aborda algo já bastante discutido – canibalismo – apesar disto a abordagem não é desmerecida, já que esta é feita de forma ímpar. Com relação aos traços, eles são limpos e bastante detalhados: destaque para as sombras e o equilíbrio de preto em branco.
Ao final da revista, um texto quanto às novidades para este ano e o prêmio Prismarte 2008. Em suma, Prismarte # 45 - Terror, é uma ótima pedida aos leitores brasileiros, fãs ou não do gênero. Não só este, mas os números anteriores e os por vir merecem ser conhecidos.