Ou melhor...
Começou o FIQ!
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Afinal de contas, como esquecer estes 3 dias maravilhosos em que reencontrei velhos amigos dos cartuns e dos Quadrinhos (amigos da AQC, do HQ Mix, do Angelo Agostini, das Pizzadas dos Cartunistas, dos Bistecões Ilustrados, todo o povo do Quarto Mundo, incrível antro de revistas e fanzines) na Serraria Souza Pinto em BH? Conheci em carne e osso velhos amigos de flogs & blogs (como o Márcio de Castro), recentes amigos virtuais (como o Roberto Ribeiro da Casa 21) e ícones dos Quadrinhos nacionais e internacionais (como Nilson, Mandrafina, Risso, Sokal, Rabaté, Sampayo, Berardi, Saénz). Parece que foi um sonho. Desses em que o impossível acontece. O improvável se torna real. E a gente delira. Exposições sem-fim se desenrolaram perante nossos olhos. Cores espalhadas em fileiras deram forma, cheiro e até textura em páginas outrora brancas. Coisa até pra cego ver, como os Quadrinhos do amigo baiano Cedraz, feitos em relevo, com detalhes quase reais como grama espetada e detalhes em relevo, privilegiando os contornos de seus personagens e do sertão em que vivem. E com os balões escritos em braile! Será o prenúncio de tiras em Quadrinhos para cegos? Cubos em movimento recriaram Julia Kendall, personagem de Berardi, publicada no Brasil. Um painel de Laerte com Suriá e outros personagens deixava encaixes para nossas cabeças serem fotografadas com corpos de desenho. Uma HQ giratória, desenhada nos dois lados, deixava qualquer um louco para descobrir o final de cada uma delas.
Os idealizadores
Roberto Ribeiro (homônimo do grande sambista carioca dos anos 70), um apaixonado pelas HQs de longa data, junto com seu sócio Emanuele (um italiano que praticamente virou carioca, quase homônimo da personagem vivida por Sylvia Kristel nos anos 70 - risos), criaram uma editora que além de editar livros fabulosos como as Cidades Ilustradas, Carnaval, planejou e realizou este festival fantástico. Assim como a Prefeitura de Belo Horizonte, na figura extremamente solícita de Afonso Andrade. Nesta 5ª edição a Prefeitura (através da Fundação Municipal de Cultura) não foi responsável somente pela produção do evento, mas também pela idealização, planejamento e curadoria do Festival. Estiveram juntos com a Casa 21 planejando este evento desde o início do ano. E foi fruto deste trabalho conjunto da Prefeitura com a Casa 21 que os levou a ganharem o HQ Mix com a quarta edição do FIQ. Eles e suas equipes estão de parabéns. Tudo funcionou perfeitamente bem com os convidados. Desde o contato e convite a participar de debates e exposições até a preocupação em saber se estávamos bem acomodados. Prova de um carinho sem par pelos quadrinistas, ilustradores, cartunistas e o público que lá estava extasiado. Prova de respeito pela cultura de nosso país e dos outros. Prova que respeitam e preservam a cultura nacional. E se não bastasse, ainda ganhamos uma simpática sacola repleta de souvenirs. Alguns para ler como as revistas em Quadrinhos do gaúcho Guazelli, dos mineiros Fabiano e Piero e livretos da arte mineira com CD e tudo. Outros pra beber, como o café e capuccinos Três Corações, a simpática xícara com o logo do FIQ e o mel da Usiminas (que minha filha Thaís já reservou pra ela). Aliás, comprei 3 livros para esta figurinha incrível: Brichos de Paulo, Érico e Antonio Eder, Art de Patrick McDonell e Arthur de Suppa. Ela ADORA livros e não agüentava de ansiedade. Foi me buscar no aeroporto com a Cláudia (puxa, que saudade, três dias é muito tempo). Thaís correu pra área das bagagens e queria abrir minha mala ali mesmo, na esteira. (Estou sorvendo o meu capuccino agora. Só faltou o “pãozim” de queijo. Mas este, comemos em abundância nos cafés da manhã do hotel Cheverny) Foi no hotel que bati altos papos com os argentinos Sampayo, Saenz, Berardi. Minha dificuldade maior foi com Mandrafina, que habla muy bajo e para dentro (rs), mas é um grande figuraça. Lá conheci pessoalmente o muito gente-boa Carlos Patati (com a esposa e filha), Santiago, Ricky Goodwin, Renato Guedes, Fábio Moon e Gabriel Bá, Kako, Luis Augusto (baiano talentosíssimo, criador das tiras hiper-mega-giga-super bem escritas de Lucas em Fala menino), entre outros. Todo mundo ganhou cópia desta carica coletiva e Bira Zines (rs). Mas não reencontrei velhos amigos como Henrique Magalhães (Marca de Fantasia) e Gual (HQ Mix), que já haviam partido.
Loucuras do Quarto Mundo na noite em BH
Mas foi no caminho da Confraria, boate dançante de BH, que fiz um dos maiores duetos da minha vida. Como de costume, tocava gaita no hotel, nas ruas, na Serraria e também ali, no caminho pra boate. Quando toquei a Bandera Rosa, hino dos anarquistas italianos Emanoelle e a esposa de Berardi me acompanharam, seguiu-se Da-te me o martelo, Com te partiró e Va pensiero, quando Berardi se juntou ao grupo (ele próprio um guitarrista da banda Skorpio) e na mesma hora cantarolou a letra da música. Daí seguiram-se trechos de Aída de Verdi, Champagne de Pepino di Capri e até Uma furtiva Lacrima. Na danceteria foi chegando todos os quadrinhistas/fanzineiros do Quarto Mundo: lotaram a apertada pista estroboscópica da boate. Daniel Esteves e Leonardo Melo roubaram a cena, executando complicados passos, dignos da Dança dos Famosos do Faustão, passando por rock, samba e funk. E acompanhados nos requebros por Marlon Tenório, Gil Tókio, Plínio, Kako, a japonesa Kan e esposo, e eu próprio, todos regados a caipirinhas e chopps. Nas mesinhas Sam Hart, Cadu Simões, Srbek, Bruno, Papito, Dino, Tiago, Jozz e Guilherme enchiam a cara, mantendo a linha, claro. Tudo acabou em muito blues na gaita e no gogó. Muddy Waters, Bob Dylan e AC/DC me deixaram rouco e com duas notas a menos na gaita.
Expos
Voltando ao evento, vocês podem achar que eu estou exagerando em adjetivos, mas como diria Chicó, amigo de João Grilo no Auto da Compadecida: “Não sei como que foi só sei que foi assim!” Pude conversar com monstros sagrados extremamente simpáticos e acessíveis. Exposições inebriantes coloriam ainda mais a enorme Serraria: Shimamoto (sentimos sua falta, meu amigo), Orlando, Pascal Rabaté, Fábio Moon e Gabriel Bá, revista argentina Fierro, Sérgio Macedo (que prazer poder conversar com ele e sua esposa tahitiana), Niemeyer (da qual participei com uma caricatura), a Gibiteca com acervo invejável, os estandes de Quadrinhos e Fanzineiros conseguiram nos transportar para outra realidade.
Debate
A mesa redonda comigo, Marcatti (amigo há quase 30 anos) e o francês Pascal Rabaté foi intensa. De cara, saquei da gaita e re-homenageei a nobre desenhista Conceição Cahu com Asa Branca e os franceses com: Allons enfant de la patrie. O desenhista Benoit Sokal e esposa estavam na platéia, prestigiando o compatriota. Na mesma hora puseram a mão no peito, e ao sinal do Marcatti, se levantaram para render respeito à pátria! Depois de muitos risos, as pessoas que queriam saber das implicações entre Literatura e Quadrinhos fizeram perguntas. Paulo Ramos do Blog dos Quadrinhos nos questionou sobre a política do governo federal de comprar Quadrinhos (inclusive adaptações de obras literárias) para distribuir gratuitamente em escolas do ensino fundamental. As respostas estão em sua cobertura, muito completa, em texto e imagens.
Infelizmente não pude ficar para assistir à mesa-redonda sobre Humor e Política (a charge na grande Imprensa) com os cartunistas Lor, Nilson e Santiago... Encontrei também o grande Sidney Gusman, que me segredou que foi vítima de direitistas radicais na web que o denunciaram como esquerdista/ revolucionário por causa de uma matéria que ele publicou no Universo HQ. Sobre o gibi que fiz do Lula (imagem ao lado) na eleição em que ele se elegeu presidente no primeiro mandato. Que gente pobre! Perdi o filme em homenagem ao Shimamoto, vou tentar conseguir uma cópia em DVD! A Front estava representada por mim, Daniel Esteves e Mário, mas que mário! Participei em duas revistas lançadas no FIQ: Quadrinhópole de Leonardo Melo e Nanquim Descartável de Daniel Esteves, além de Garagem Hermética de Cadu Simões. O site do FIQ já lançou a notícia de que mais de 50.000 pessoas visitaram a Feira. E como eu disse no começo, parece que todo aquele deslumbramento e agitação entraram em nossos corpos, na corrente sangüínea, e não param de correr e de bombar. Até porque, como diriam os mais jovens: este FIQ BOMBOU GERAL! Quer conhecer mais da Casa 21 e do FIQ? Clique aqui.
(ilustração: Bira Dantas)