NewsLetter:
 
Pesquisa:

Resenha: O vôo da Arara Azul
Por Cadorno Teles
10/10/2007

Reunir História, Quadrinhos e documento em um livro juvenil é uma tarefa que merece nossa atenção. No lançamento O vôo da Arara Azul (Callis, 84 páginas, R$ 29,00), da goiana Maria José Silveira - com ilustrações de Maria Valentina -, se constrói uma narrativa que consegue destilar as barreiras do infanto-juvenil para moldar um misto de literatura para todas as idades. Com uma reflexão apurada e inteligente, a autora usa de maneira simples, mas construtiva, o cenário dos anos da ditadura militar no Brasil, compondo assim uma história juvenil e de transformação. A tão conhecida metamorfose ambulante, a adolescência, é mostrada no personagem André, o protagonista-narrador do romance, que vive pela primeira vez uma intensa paixão platônica pela sua vizinha, que acabava de mudar para a casa ao lado a sua.

André é filho de um bancário e mora em São Paulo, num bairro de classe média. É de família emergente, seu avô era operário e viu seus filhos se formarem a duras penas. O ano da história é o de 1969, o ano do estopim da bomba ditatorial que arrastou o Brasil durante mais de vinte anos ao medo e à falta de liberdade. O jovem de 13 anos vive e sente o drama de muitos brasileiros, perseguidos só por serem opositores da ditadura, como no dia em que ele e o pai foram barrados por uma batida policial. Os militares estão no cotidiano, na conversa diária das pessoas mais velhas, nos noticiários, em jornais e cartazes espalhados pela cidade. Ao mesmo tempo em que vive a brusca transformação que o país sofria, André conhece Lia, uma enfermeira que se muda com o seu esposo, Alfredo - um vendedor -, e o Seu Osvaldo, seu tio. Amante de gibis, André cria uma arara-azul, a Magda, e adora fazer Histórias em Quadrinhos, tirinhas que mostram os principais momentos de sua vida e que servirão anos depois para reconstituir aqueles momentos. O que faz André se aproximar de Lia é ararinha, e assim sente sua paixão crescer, que o ensina a ver a realidade ao seu redor.

Na verdade, o trio que passa a morar na casa ao lado, são "subversivos terroristas", na versão dos militares, mas na verdade são bons companheiros, ou melhor, camaradas que lutavam pelos direitos dos brasileiros. Os pontos fortes do livro são o ataque à casa de Lia, onde Magda é fuzilada, e o reencontro anos depois que André, já um cineasta, teve com Alfredo, em uma entrevista para o filme que estava preparando: O vôo da Arara Azul. A autora usa o suspense para mostrar cada nova revelação ao longo da história como quadros da lembrança do garoto, mesclando os Quadrinhos de Maria Valentina a documentos da época, como o jornal de oposição Unidade Operária. Uma visão de um jovem daquela época para muitos que hoje nem imaginam o que aconteceu pelos anos de ferro da Ditadura Militar. 

Quem Somos | Publicidade | Fale Conosco
Copyright © 2005-2024 - Bigorna.net - Todos os direitos reservados
CMS por Projetos Web