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Resenha: Amy Foster
Por Cadorno Teles
24/09/2007

"Então, ele se levantou devagar, do meio de todo tipo de lixo, tenso, faminto, trêmulo, aflito e desconfiado." Você pode comer isto?", perguntou ela com sua voz branda e tímida. Ele deve Tê-la tomado por uma "bondosa senhora". Devorou o pão ferozmente, e lágrimas correram pela crosta.  De repente, deixou cair o pó, agarrou o pulso da moça e deu um beijo em sua mão. Ela não se assustou. Por trás da lastimável aparência dele, Amy Foster observou que ele era bem apessoado. Fechou a porta e lentamente caminha de volta para a cozinha (...)". (página 38)
 

Trama que envolve amor e medo, indiferença e piedade, ódio e coragem, Amy Foster (Revan, 64 páginas, R$ 14,00) de Joseph Conrad (1887-1924), um dos escritores mais notáveis da língua inglesa e um dos melhores autores de todos os tempos. Grande parte de sua vida passou no mar, na marinha, onde aproveitava os momentos de calmaria das viagens lendo diversas obras, de várias línguas. Após esse período de sua vida, se instalou na Inglaterra e dedicou-se a escrever, tornando-se um dos maiores nomes da Literatura mundial. Sua ficção genial estava simplesmente ligada na forma que descrevia os cenários e fatos pelos quais passou quando em atividade na marinha mercante, como exemplo desta genialidade temos Lorde Jim e Dentro das marés, obra que a editora Revan está publicando em um imenso e ambicioso projeto para resgatar todo o trabalho de Conrad, que é vastíssimo.

No caso de Amy Foster, escrita em 1901, é um pequeno romance, publicado primeiramente na Illustrated London News no mesmo ano; uma aventura no seu estilo conhecido, mas é a mais desolada das histórias de Conrad, marcada em suas páginas pelo estudo da intolerância e do medo. Yanko Goorall, um imigrante polonês que viajava para a América, é resgatado de um naufrágio no litoral de Kent, Inglaterra. Sem saber falar inglês, é tratado como um louco, chicoteado, apedrejado e preso pelos habitantes da pacata cidade de Colebrook. Perdido e sujo, não sabe a quem recorrer. Logo, consegue um trabalho na fazenda do Sr. Swaffer, tenta aprender o inglês e conhece Amy Foster, uma jovem empregada da casa, também marginalizada pelos locais apenas por ser introvertida, considerada por alguns como uma bruxa. A única relação especial de Amy é com o mar. Uma mulher afetuosa; com ela, Yanko se casa e tem um filho.

No entanto, depois de casada, não gosta que o marido fale sua língua com o filho do casal. Após alguns meses, cai doente e começa a delirar em sua língua nativa. Amy, assustada, pega sua criança e o abandona em seu último sofrimento. O desfecho, já dá para imaginar, o quanto é trágico. O personagem de Yanko, jovem perdido numa terra estranha, compartilha similaridades com o autor. Como seu personagem, Conrad é um polonês, vivendo na Inglaterra e em Amy Foster expressa seu sentimento de alienação para com a tolerância e o senso comum. Uma obra sobre coragem, individualismo e a resistência do coração humano. Vale a pena ler. Curiosidade: em 1997, o livro foi a base do roteiro para o filme O homem que veio do mar, (Swept from the Sea), com Rachel Weisz e Vincent Perez.

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