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Resenha: O Assassino das Sombras
Por Cadorno Teles
20/08/2007

"O primeiro que matara, poucos sóis antes, surpreendera-o quando seu medo se desprendera dele em ondas. Pudera sentir a voz de sua mente em seu rosto como se fosse uma brisa morna, ou um gole d'água de um riacho límpido, frio. Fora então que percebera que os pequenos duas-pernas morriam de forma diferente de um urso, de um veado ou de um salmão, pois seus sentimentos de terror eram poderosos, e seus pensamentos mais parecidos com os seus próprios. Embora seus corpos fossem pequenos e frágeis , as vozes de suas mentes eram fortes. Destruí-los, mas só depois de lhes esgotar o medo, dava-lhe uma sensação mais forte do que qualquer outra coisa que ele jamais houvesse experimentado – parecido com o fogo, parecido com o acasalamento ". (página 47)

A princípio, nas primeiras páginas do livro O Assassino das Sombras (The shadow killer, tradução Fernanda Abreu, Objetiva, 544 páginas, R$ 47,90) do norte-americano Matthew Scott Hansen podemos até pensar em um daqueles roteiros que encontramos nos filmes B. De certa maneira o livro traz os clichês do gênero, contudo Scott Hansen consegue dar à narrativa alguns nuances que surpreendem. Para os fãs de thrillers, a forma que o suspense é trabalhado torna o livro inédito. Inspirado na lenda conhecida como o Pé-Grande, fascínio de sua infância, o autor narra a vingança de um Bigfoot enorme – Pé-Grande em inglês - contra os humanos que destruíram seu lar. O mito do Sasquatch, como é conhecido na língua dos nativos da região, vem do folclore norte-americano; segundo os indígenas é uma criatura de hábitos selvagens que se acredita viver nas áreas selvagens dos Estados Unidos (o noroeste do Pacífico, os Grandes Lagos, as Montanhas Rochosas, os Bosques meridionais e os do noroeste) e sudoeste do Canadá. No livro de Hansen, a criatura ganha uma personalidade assassina, além de um tamanho descomunal.

O Pé-Grande de O Assassino das Sombras está furioso, com uma sede de vingança tamanha que não se importará com sua própria vida. No início da história, conta como sua tribo, seu clã, sua família fora morta por um grande incêndio na floresta que habitavam. A calamidade foi provocada por aventureiros descuidados, e o único sobrevivente fará de tudo para destruir os "Guardiões do Fogo", como ele os chama e que ao longo das páginas descobrem que são somente frágeis criaturas de duas pernas. Essa é uma das diferenças que o autor dá a criatura, o seu Sasquatch pensa e age com inteligência para massacrar os visitantes ou qualquer ser humano que encontrar.

No decorrer de sua caçada vingativa, trucida várias pessoas que encontra, chamando a atenção de um ex-magnata de informática, Ty Greenwood, que acha estranho o desaparecimento de tanta gente naquelas montanhas. Arriscando a carreira, a fortuna e a família parte para o local para descobrir o porquê daquela situação. Três anos antes tivera o encontro com uma criatura semelhante, e desconfia de que uma delas está causando os desaparecimentos. Naturalmente ninguém acredita, nem mesmo o inspetor do Departamento do Xerife de Snohomish, Mac Schneider, que investiga os casos - nem mesmo quando descobre uma pegada enorme -, nem a repórter de uma TV sensacionalista, Kris Walker, que acha que é um psicopata a solta. Mas quando Ben Campbell, um velho ator índio, aparece trazendo revelações perturbadoras, a história toma um novo rumo. Conectado a esse animal, o índio começa a procurá-lo sem saber o que acontecerá quando o encontrar, e juntos tentarão pôr fim à ira mortífera do assassino.

A narrativa inicial dobra-se no terror dos ataques e das mortes, um dos principais pontos positivos do livro, até a entrada de Ben, que dá um novo ritmo ao suspense, mais agradável ao estômago. O autor também usa a perspectiva do personagem Pé-Grande, para mostrar o seu sentimento para com suas vítimas. Matthew debuta com esse cruel e rigido thriller e acerta; O Assassino das Sombras segue a linha de O Parque dos Dinossauros de Michael Crichton, cheio de cenas de ação previsíveis, um verdadeiro roteiro para o Cinema, mas que agrada o leitor.

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