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Por Humberto Yashima 03/08/2007 O roteirista curitibano Leonardo Melo é um dos editores da Quadrinhópole, revista independente que está em sua quarta edição e tem chamado a atenção dos leitores pelas boa qualidade das HQs e das entrevistas com desenhistas que publica trimestralmente. Neste bate-papo realizado por e-mail, descobrimos um pouco mais sobre esse jovem talento dos Quadrinhos. As HQs da Quadrinhópole foram os seus primeiros trabalhos publicados ou você já tinha escrito roteiros para outro fanzine ou revista? Não, a única coisa que eu tinha feito antes era escrever fan fictions para a Quadrim, e cheguei a publicar uma HQ online no Pop Balões. Era uma história estilo “RPG solo” chamada Coração Apaixonado. A Quadrinhópole foi meu primeiro trabalho publicado, mesmo. Como surgiu a idéia de produzir a sua própria revista em Quadrinhos? Falando nisso, de onde veio o nome Quadrinhópole? Desde meados de 2000 eu comecei a freqüentar a Gibiteca, onde conheci o André Caliman, o Joelson Souza, o Anderson Xavier e outros. Todos tinham vontade de publicar e desde aquela época, fomos nos aprimorando nos roteiros e nos desenhos. Eu procurei praticar minha escrita com fan fictions no site da Quadrim e li os livros do McLoud, além de sempre pedir a opinião de quem era mais experiente para ver como podia melhorar. Os desenhistas freqüentavam o curso do José Aguiar e foram melhorando cada vez mais. Hoje, inclusive, muitos deles trabalham na área. Finalmente, em 2006, vimos que estávamos num ponto bom para começar. As idéias estavam a mil e resolvemos aproveitar o aniversário da Gibiteca em Outubro para lançar o número #1. O nome surgiu de um estalo numa das reuniões com o pessoal. Ficamos pensando que todos os nomes bons que juntavam “Quadrinhos” com algum outro sufixo já tinham sido usados, até que percebi que o velho “polis” estava disponível. Lasquei a sugestão e o pessoal gostou. Felizmente conseguimos publicar em um material muito bacana (são 32 páginas em papel couchê) e as histórias agradaram os leitores, tanto nesta parte gráfica quanto nos roteiros/desenhos. Apesar de ser um trabalho amador (a princípio) e ter saído com alguns errinhos, recebemos vários elogios, tanto de leitores quanto de profissionais da área, e pudemos corrigir estes erros na segunda edição, que foi lançada em dezembro do mesmo ano. Agora, a tendência é ir melhorando e deixando a revista cada vez mais com uma cara profissional. A repercussão da revista tem sido satisfatória? As vendas são suficientes para cobrir todos os custos de produção? O pessoal tem gostado e muitos perguntam sobre o Undeadman. Temos muitas histórias pra contar com ele, e espero que o pessoal continue gostando. Vender Quadrinhos no Brasil nunca é fácil, ainda mais independente. Mas não dá pra reclamar. Boa parte dos custos está sendo bancada com as vendas das edições anteriores. Quem sabe um dia ainda não acabemos tendo algum lucrinho? Quais os seus roteiristas preferidos, aqueles que o inspiraram a escrever HQs? Nossa, são tantos... acho que depende muito do estilo. Impossível não citar o Alan Moore, que deve ser o exemplo de 11 em cada 10 roteiristas. Só que nem sempre dá pra utilizar seu método meticuloso de pesquisa, mesmo porque, aqui no Brasil, nós temos nossas próprias vidas pra cuidar e acaba não sobrando muito tempo pra se dedicar com mais afinco ao nosso “hobbie”. Talvez por isso o Brasil acabe carecendo de alguns roteiros de qualidade, se comparados com o exterior... mas isso é outra história. Como fã do Aranha, eu gosto muito dos roteiros do Gerry Conway. Bill Mantlo e David Micheline também têm umas histórias bacanas... nada muito complexo, mas eu gosto dessas histórias descomprometidas, sabe? Sem grandes revoluções ou sagas cósmicas... agora, mudando totalmente o gênero, também gosto muito do trabalho do Garth Ennis. Vamos acabar tendo muitas referências a Preacher no decorrer da série Undeadman. E dos nacionais, não dá pra deixar de citar Abs Moraes e Gian Danton. Como eu disse, depende da história que você está escrevendo. Se é algo complexo, com profundidade, você se espelha no Moore. Se é algo violento, com muito humor negro, logo de cara se lembra de Garth Ennis. E por aí vai. Os bons exemplos estão aí para serem seguidos, certo? Foi muito interessante a idéia de fazer adaptações de peças de Teatro na revista. Haverá mais dessas experiências? Eu espero que sim. Como eu sempre digo, essas interações com outros tipos de arte acabam ajudando a divulgar a revista e a produzir eventos nos quais a gente possa vendê-la, por isso fizemos esse tipo de coisa nas edições 2, 3 e 4. Vamos dar um tempo com isso na quinta, já que será lançada durante o aniversário de 25 anos da Gibiteca de Curitiba. Mas depois... quem sabe? Qual a sua opinião sobre o mercado de Histórias em Quadrinhos no Brasil? O mercado nacional é o Quadrinho independente. Acredito que eles estejam em um momento de ascensão. Os Quadrinhos, de modo geral, estão vivendo um "boom" em todo o mundo. Hoje se fala muito do fenômeno que está atingindo a Nona Arte, que é o de termos cada vez mais títulos nas prateleiras de livrarias e comic shops. Alguns de qualidade duvidosa, é verdade, mas há muita coisa boa saindo e coisa que nunca veríamos no Brasil agora está chegando até nós. E os brasileiros não querem ficar de fora, eles querem a sua fatia do mercado. E ainda que esse mercado nacional seja praticamente inexistente, sinto que há muita vontade de se mudar isso, pois vejo cada vez mais gente interessada em produzir material, em verem publicadas as suas histórias. E se as editoras não ajudam, o jeito é ir na raça mesmo, pelo caminho independente. O mais interessante é que os autores estão se unindo num movimento só. Todos sentem a necessidade de se ajudar mutuamente, para contornar os problemas de divulgação e distribuição existentes nesse mercado. E parece que está dando certo. Quem sabe o que pode acontecer no futuro? O Bigorna.net agradece a Leonardo Melo pela entrevista concedida em 1º/08/2007 |
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