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Entrevista: Jerônimo de Souza
Por Eloyr Pacheco
02/08/2007

Trocar e-mails com o Jerônimo para realizar esta entrevista foi um exercício de paciência. Quase sempre ele respondeu minhas perguntas de maneira superficial. Bem, deixa eu explicar melhor: responder rapidamente e com frases curtas que parecem superficiais é o que fazem as pessoas muito inteligentes e que têm um raciocínio muito rápido. Por saberem exatamente o que estão dizendo e já pensando na frente, em outra coisa, acabam esquecendo de serem um pouco mais didáticas e se esquecem que as pessoas não têm a obrigação de saberem o que elas estão falando... Este “fazedor” de Quadrinhos me passou esta impressão através dos inúmeros e-mails que trocamos para fazer esta entrevista. Veja se concorda comigo. Com vocês o editor da revista independente Hangar – A Casa das Máquinas.

Essa é de praxe: como surgiu seu interesse por Histórias em Quadrinhos?

Eu já lia Quadrinhos desde pequeno. Adorava o Zé Carioca, do Canini. Mas comecei a ficar fissurado em 1982, quando tive pneumonia e meu pai trouxe alguns gibis da Marvel, publicados pela RGE.

Nessa época você tinha quantos anos?

Eu tinha acabado de completar 16 aninhos...

Ah!, então você está com 40 anos! (Eu tenho 46) (risos)

Sim, mas minha idade mental é de 23 anos. (risos)

Como foi que você começou a produzir HQs?

Em 1983 eu comecei a criar meus personagens, mas não sabia fazer o layout dos Quadrinhos. No ano seguinte eu conheci o Rodrigo Rosa e começamos a trabalhar juntos.

Fale um pouco de como foi produzir a Casa das Máquinas #1. Como foi que o projeto começou? Quais seus parceiros na edição?

O projeto se iniciou num bar de Porto Alegre, numa conversa com Marcelo Tomazi. Eu tinha passado no concurso do TRE e ia ganhar o suficiente para bancar uma tiragem. Pensei em juntar os meus amigos de HQ: o Alex Doeppre, Denilson Reis, Gilberto Borba, Lucas Andrade, Anderson Ferreira e outros que não se interessaram.

Mais um quadrinhista que não vive de Quadrinhos... o que você faz no TRE?

Eu sou Analista Judiciário: faço títulos eleitorais, revisões e transferências...

Como foi a aceitação da revista e como você está comercializando a edição?

A revista começou a ter problemas antes de ser impressa. O diagramador desistiu. Depois alguns colaboradores começaram a questionar a página dos skinheads. Creio que a divulgação na Internet foi ótima. As distribuidoras se negaram a trabalhar com ela. As vendas ainda não estão boas. Devo contratar alguém para distribuir em POA.

Qual o problema com a página dos skinheads?... Os próprios participantes da edição quiseram censurar o material?

Não há problema, aquilo era um fotograma que eu fiz na Casa de Cultura Mário Quintana...

O que as distribuidoras alegaram para não distribuir a Casa das Máquinas #1?

Algumas me ignoraram, algumas me mandaram voltar depois e outras me mandaram imprimir mais 29.000 exemplares.

Por que a revista mudou de nome para Hangar - A Casa das Máquinas?

Quando a revista estava sendo produzida eu estava no meio de uma eleição (2006), então eu acabei delegando muitos poderes para outras pessoas. O fato é que a revista não saiu como eu gostaria que tivesse saído.

É, às vezes centralizar a editoria é melhor... Mas, por que a revista mudou de nome?

Por que não foi um nome escolhido por mim e acabou gerando muita confusão com a banda homônima.

Opa! Pára tudo! (risos) Você não escolheu o nome?... Explica um pouco melhor como foi todo esse processo desde o surgimento da idéia até lançar a revista?

Nós criamos uma programação de eventos para reforçar a marca Diggiti (na época era Diggite). A maioria não rolou, mas houve uma boa colagem de cartazes e adesivos. Depois começamos a selecionar o material. Tinha que passar pelo meu crivo e do MTS. Chorando na Chuva tinha que ser aprovada pelo Emir. As HQs do Jerry Silva já estavam prontas. Ser Vampiro foi a mais demorada, eu só vi as páginas no final. Então começamos a parte mais difícil que era escolher a capa, o logo e o nome. Fizemos várias votações, mas sempre acabava no impasse (eram apenas dois eleitores). Eu acabei cedendo, para não perder mais tempo...

Quais os planos editoriais para a edição #2?

Eu estou muito excitado para lançar um segundo número, mas tenho que vender a 1 primeiro. De qualquer forma, é certo que eu vou trabalhar com artistas de todo o Brasil (não somente gaúchos).

Entendi, a grana que você tinha precisa retornar para fazer o número seguinte. Já tem algum nome de quadrinhista que possa divulgar com certeza?

O Gilberto [Borba] vai voltar com a segunda parte de Estranha Forma de Vida. O Laudo [Ferreira Junior] vai desenhar A Lenda do Homem e do Cão. O Marcos Miller também demonstrou interesse em colaborar...

E quando deve ser lançado o 2º número da Hangar?...

Veja bem: eu poderia vender a revista por R$ 5,00 e teria o retorno do investimento em gráfica. Mas o fato é que eu paguei os colaboradores e tenho que ter esse retorno também. Então eu preciso vender mais antes de lançar o volume dois. Até porque não teria espaço físico para outro encalhe. (risos.)

Os colaboradores são remunerados?

A maioria é paga, sim. É um valor simbólico, mas é o que eu posso pagar. Alguns não aceitam e colaboram mesmo assim. Muitos nunca tinham recebido um centavo para fazer Quadrinhos.

E o estúdio Diggiti? Como funciona, o que faz, quem dirige...

Eu sou o publisher (cheio da moral!) e o Marcelo Tomazi é o gerente, ou seja, o cara que faz o meio-de-campo entre mim e os colaboradores. Ele também paga os caras...

No fim das contas você não ficou satisfeito com o resultado final, mas, e aí, valeu a pena fazer e bancar a Casa das Máquinas #1?

Com certeza! Eu sou perfeccionista e auto-crítico, como todo paulista, então vocês não devem prestar muita atenção. Bwahahaha...

Eu pensei que você fosse gaúcho.

Não, cara, eu sou de São Bernardo do Campo.

Obrigado pela entrevista, Jerônimo. Conte sempre com o apoio do Bigorna.net.

Valeu, Eloyr. Continue com o trabalho maravilhoso que você faz com relação à HQB.

O Bigorna.net agradece a Jerônimo de Souza pela entrevista concedida em 1º/08/2007

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