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Artigo: Promethea - beleza, magia e Quadrinhos
Por Wellington Srbek*
25/07/2007

O quarto número da Pixel Magazine chega com sua mistura ABC/Wildstorm/Vertigo. Contudo, essa edição se destaca, pois ao lado de Hellblazer, Planetary e Histórias do Amanhã, a revista traz a estréia de Promethea. Criada por Alan Moore, J.H. Williams III e Mick Gray, Promethea é uma das melhores séries de Quadrinhos dos últimos 10 anos, na qual os leitores tomam parte numa jornada pelos mistérios da magia e da sensibilidade humana.

Lançada em agosto de 1999, a série tem como protagonista a universitária Sophie Bangs que, às voltas com sua monografia de fim de curso, acaba mergulhando no universo do folclore e da cultura popular. Mas o que começa como uma pesquisa acadêmica acaba transformando-se numa fantástica viagem iniciática, quando a própria Sophie assume a identidade de Promethea. Sendo ótimas HQs, os 12 primeiros capítulos da série mostram a aprendizagem e desenvolvimento da nova Promethea. Já os capítulos 13 a 23 são nada menos que um curso de iniciação à Cabala e ao Ocultismo, na forma de belíssimas revistas em Quadrinhos. E embora a parte “cabalística” da série tenha desagradado a alguns leitores (pois várias edições não mostram muito mais que duas personagens conversando enquanto caminham), por sua vez os capítulos 24 a 32 guardam um surpreendente desfecho para os leitores fieis.

Intrincada mistura de ficção e História, Quadrinhos e literatura, a série é povoada de participações especiais, que vão de Chapeuzinho Vermelho e Lobo Mau, aos magos John Dee e Aleister Crowley. Uma boa mostra disso já é dada na edição de estréia, que traz um texto no qual Alan Moore cria uma biografia literária para Promethea, com direito a citações a Little Nemo de Winsor McCay e à cartunista Margie criadora da Luluzinha, entre outras. Para os leitores brasileiros, chama atenção a referência a Hy Brasil, a ilha mítica celta que foi a verdadeira fonte de inspiração para o nome de nosso país (como corretamente aponta Moore, e como nos ensinou há mais de 50 anos o historiador Sérgio Buarque de Holanda).

Quanto ao visual, Promethea é um capítulo à parte. Contando com diagramações de página inventivas, desenhos detalhados, arte-final precisa e cores bem dosadas, o primeiro capítulo da série é, na verdade, apenas um aperitivo do que vem pela frente. Com emprego de diferentes estilos de desenho, técnicas de finalização e colorização, os capítulos seguintes vão se tornando experiências visuais distintas, que variam de acordo com ambiente e temática de cada história, num precioso exemplo de quadrinho-arte. O apuro artístico chega a tal ponto que muitas vezes o trabalho de J.H. Williams III, Mick Gray e Cia. consegue a façanha de superar o roteiro de Moore. Sobre a edição da Pixel, embora a qualidade seja evidente, Promethea mereceria uma revista própria, com mais capítulos por mês. Pode-se até dizer que a capa pintada por Alex Ross saiu melhor que na edição original (onde foi um pouco escondida por uma moldura). Por fim, num trabalho tão complexo e elaborado como Promethea, para o benefício dos leitores, é preciso cuidar-se da tradução, evitando erros e mantendo os trechos com versos rimados (o que não acontece em alguns pontos desta edição que ficaram sem rima ou errados).

Foi uma espera de 8 anos para que os leitores brasileiros conhecessem uma das melhores criações do mago Alan Moore. Promethea: uma ode à magia e à imaginação na forma de uma belíssima série em Quadrinhos. A todos, boa leitura e boa viagem!

* é roteirista e editor independente, pesquisador com doutorado pela UFMG e criador do site maisquadrinhos

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