Lorde Kramus, publicado em forma de contos e de Histórias em Quadrinhos, em uma publicação independente editada por Gil Mendes, seu criador, tem ganhado um espaço muito grande no meio independente. Com ilustradores como Samuel Bono, Hélcio Rogério e Celso Mathias envolvidos em sua equipe artística, Lorde Kramus está com um álbum em produção. Nesta entrevista, concedida por e-mail, Mendes comenta sobre a origem, os fanzines e os planos editoriais para o seu personagem.

Como foi que surgiu o Lorde Kramus?

Na verdade, sei que vocês vão rir, o Kramus me apareceu num sonho e disse que eu deveria dar vida a ele, e é o que estou tentando fazer desde 1991, primeiro em fanzines e agora estou batalhando sua primeira revista profissional.

Já que você comentou: rá, rá, rá! O José Mojica Marins, sempre disse que o Zé do Caixão surgiu de um sonho...

Pois é, às vezes os loucos também sonham, e quando isso acontece surgem essas criaturas aí...
 
Quando você começou a publicar o Lordes do Inferno?

O Lordes do Inferno foi meu primeiro fanzine, ainda no início da década de noventa. Foi um zine que quase ninguém viu. Só em 2005 eu recomecei a publicá-lo, aí na edição 5 eu mudei o título para Lorde Kramus, pois descobri que o anterior soava muito “pesado”.

Como é o Universo de Lorde Kramus?

O mundo em que o Kramus vive está situado ainda nos primórdios de nosso planeta muito antes do aparecimento da Humanidade. Para entender melhor a Era Primordial é preciso aceitar a teoria da Deriva Continental, e antes desta, a teoria de Pangea onde encontramos evidências de que os continentes hoje conhecidos faziam parte de um único super continente. Imaginei que nesse período de nosso tempo havia criaturas de aspecto animalesco, mas providas de raciocínio o suficiente para desenvolver culturas e formar sociedades baseadas no conceito de civilidade. Mas sempre dentro de uma das leis cruciais da natureza, “O mais forte deve governar”.

Embora possam ser feitas inúmeras comparações com o Universo de Conan, o Bárbaro, o mundo de Lorde Kramus é bastante rico e peculiar. É obvio que a obra de Robert E. Howard o influenciou. Gostaria de saber o quanto.

Bom, eu cresci lendo os contos de Robert E. Howard. Os Quadrinhos do Conan sempre estiveram presentes, mas eu gostava mais de um outro Bárbaro, o rei picto Bran Mark Mor, embora ele tenha sido menos desenvolvido. Em geral eu sempre gostei de História antiga e me fascinava o modo como os conflitos eram travados. Percebi que naquela época havia muito mais violência do que muita gente possa imaginar, aí foi só aliar a paixão pelos Quadrinhos às histórias que lia nos livros e encontrei a fórmula correta de espelhar a selvageria das culturas antigas.

Bran Mark Mor?! Não me lembro desse personagem...

Ele viveu nos tempos da dominação romana sobre a baixa Europa. Apareceu em algumas edições da Espada Selvagem da Editora Abril, inclusive desenhado pelo Barry Windsor Smith. Mas meu primeiro contato com ele foi num zine Argentino que um amigo do meu amigo conseguiu.

Você começou escrevendo contos de Lorde Kramus e os publicou até a edição de seu fanzine. Por que a partir da edição passou a publicar HQs do personagem?

Sempre cogitei adaptar os contos do Kramus para as HQs, mas sou muito rígido quando se trata de passar o universo de Lorde Kramus para o papel, ainda mais de forma ilustrada, por isso demorei tanto a encontrar bons artistas para desenvolver esse trabalho.

Quais são os ilustradores que trabalham contigo no momento?

O Adriano Castelo Branco (Sapão), que está sempre em evolução, está desenhando as histórias que apresentamos a cada três meses no fanzine. Para o álbum que contará a origem de Lorde Kramus temos excelentes ilustradores envolvidos, como o Hélcio Rogério, o Fábio Jansen, Kleber Lyra e o Belardino Bravo, que está dando a arte-final em uma HQ. Além do pintor Celso Mathias que está encarregado de ilustrar as capas. Estou em contato com o Bené Nascimento (Joe Bennet), que demonstrou interesse em ilustrar uma HQ do Kramus, mas ainda não acertamos sua participação devido aos vários projetos que o artista está tocando no momento, vamos esperar que possamos tê-lo conosco nesse trabalho. Também temos grandes nomes como Samuel Bono, Jean Sinclair, que estão com roteiros a ser desenhados. Para as cores contamos com o talento de Rael Sidartha e Gabriel Castilho. 

Quais são seus planos para o personagem a partir da edição 7, que acaba de ser lançada?

As histórias publicadas até agora são soltas, sem ligação cronológica, considero como se um narrador estivesse contando as aventuras do Kramus a esmo, de modo que ele pode lembrar de uma que lorde Kramus viveu adulto antes mesmo de uma aventura que ele viveu ainda quando criança. A partir da décima edição iremos apresentar a novela Lorde Kramus o Maldito e que vai até a décima segunda edição. Ainda teremos o álbum já citado que deverá ser publicado no formato 21 x 28 cm até meados de 2008. Na edição 9 do fanzine faremos algumas páginas em cores para comemorar os dois anos de publicação. Há uma HQ sendo avaliada pela revista Grande Klan, de Goiânia, que talvez seja publicada em seu segundo número.

Esse álbum já tem editora, ou você pensa em editá-lo de forma independente?

Estou em conversação com duas editoras, mas como ambas querem ver primeiro o trabalho concluído para depois dar seu parecer final, então não vale citar. De qualquer forma o álbum será publicado, se não por uma editora será de forma independente.

O que você diz para os que tem um personagem e desejam publicá-lo?

Para algumas pessoas vou parecer repetitivo, mas o negócio é trabalhar com disciplina e focalizar aquilo que deseja realmente. Isso quer dizer estudar muito antes de expor uma idéia, não sair por aí mostrando algo que não faz nenhum sentido.

Obrigado, Gil, pela entrevista. Valeu!

Eu que agradeço pela oportunidade.

O Bigorna.net agradece a Gil Mendes pela entrevista concedida em 17/07/2007