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Por Marcio “Paga-Pato” Baraldi 18/07/2007
Cá entre nós, a primeiríssima dama mesmo seria a saudosa Hilde Weber (que na verdade preferia as charges políticas aos cartuns) mas a pioneira Miss Weber já não desperdiça seu precioso talento na Terra e já partiu para desenhar com os anjos faz tempo. Portanto o honroso cargo fica agora folgadamente para a pequena notável Ciça. Miudinha e delicada no nome, na vida real e nos traços, Ciça é a cartunista mais charmosa que o Brasil já teve. Sorte do consorte Zélio que a fisgou há muitos anos e com quem desenvolveu além de um harmonioso casamento, uma instigante dupla de criação na vida e nas artes. Depois de muitas aventuras pelo jornalismo, poesia e livros infanto-juvenis, Ciça volta ao mercado de Quadrinhos com seu recente livro Pagando o Pato (editora L&PM), uma coletânea de tiras dos seus personagens Pato, Filomena, Hermes e outros bichos críticos e politizados que formam o universo com o qual a cartunista atravessou quase quatro décadas beliscando a bunda da ditadura e dos podres poderes que a sucederam. Enfim, com tanta história pra contar, vamos direto à dona delas, que por sinal, é uma excelente contadora de causos. Solta os bichos, Cicinha! Quando você começou sua carreira haviam pouquíssimas mulheres no Cartum brasileiro.Que lembranças você tem dessa época? Foi difícil se embrenhar e se estabelecer num mercado onde mulheres eram quase alienígenas? Na verdade não senti nenhuma dificuldade nesse sentido, apenas achei inacreditável (e acho ainda) o fato de existirem até hoje tão poucas mulheres cartunistas. A Luluzinha (e antes dela, a versão original, Little Lulu, que meus pais compravam pra mim quando eu me comportava bem...) sempre foi minha revista preferida!Quanto a Hilde, bem, eu sempre tive a maior admiração pela grande sofisticação do trabalho dela. E fomos também amigas, ela era uma pessoa interessantíssima e também muito sofisticada. Mas a personagem Hilda, nossa, você não vai acreditar, mas eu não me lembro de nenhuma Hilda nos meus Quadrinhos... tinha uma, é (risos)?!?... Tinha sim, era uma personagem coadjuvante (veja tirinha logo abaixo). Lembrou dela? Pô, eu to conhecendo seu trabalho melhor que você, hein (risos)?!? Ahhhh... é mesmo(risos)!... Os patos, formigas e outros bichos eram os meus personagens, e através deles eu podia "falar" mais a vontade sobre a ditadura. E, no caso da repressão, acredito que os bichos me ajudaram, pois as autoridades da época provavelmente preferiam não admitir que estavam sendo representados por um pato, ou um sapo, ou uma formiga usando quepe militar (risos). Quando criança eu preferia ler a qualquer outra coisa! Era viciada em leitura, tanto de livros quanto de Quadrinhos. Os comics americanos (Marge, Disney, Marvel, etc) nunca faltaram em casa. Aliás, eu aprendi inglês lendo Quadrinhos! Adorava os gibis brasileiros, como o Tico Tico e outros. E as estrangeiras, traduzidas, também. O Almanaque do Globo Juvenil era meu presente de Natal mais esperado!... Eu comecei no jornalismo e passei a publicar minhas tiras bem mais tarde. Minha família e meus amigos eram todos da área de jornalismo, então posso dizer que o jornalismo é o culpado de tudo!... Claro! E essa convivência era sempre uma delícia!!! As primeiras tiras que publiquei foram sempre criadas e desenhadas por mim, desde o rascunho (o desenho a lápis) até a arte final. Depois de alguns anos o Zélio passou a fazer a arte-final (ele era muito mais rápido), enquanto eu criava o texto e o rascunho. Assim eu tinha mais tempo para os filhos, os gatos, os cachorros, os passarinhos e até um galo e uma galinha que viraram os personagens Hermes e Naná. Tínhamos grandes brigas quando ele modificava os meus desenhos a lápis (risos), mas a parceria sempre foi boa. Hoje em dia é ele quem ilustra a maioria dos meus livros. Meus preferidos são os dos trava-línguas nos quais eu brinco com as palavras, suas rimas e seus ritmos. São seis títulos. Adoro também meu livro premiado Dois Meninos na Chuva e também um livro de pesquisa, o Livro dos Provérbios, Ditados, Ditos Populares e Anexins, pela editora Senac. E por fim um de poemas, Reportagem Urbana, já esgotado. Meus poemas são um pouco longos, mas aí vai um pequenininho, que eu gosto: Eu gosto do trabalho da Anita! É bonito e bom de militância. Mas continuamos a ter muito poucas cartunistas, o que é uma pena. Não sei se posso ser uma inspiração para alguma autora jovem, mas se for eu vou ficar bem contente!... Moramos em Nova Iorque durante sete anos e foi um período bem gostoso. Eu gosto muito de Nova Iorque, é uma cidade “umbigo-do-mundo”, interessantíssima. Fica lá na costa Leste, mas praticamente não é EUA. E minha formiguinha diria pro Bush que é uma inominável sacanagem invadir formigueiros alheios!!! Muito bom falar com o Bigorna também. Muito bom falar com quem peita um trabalho assim, tão bacana quanto difícil! Vocês é que são os verdadeiros super heróis dos Quadrinhos!... |
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