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Anima Mundi 2007: como foi o terceiro dia do evento (SP)
Por Jozz
16/07/2007

Terceiro dia (13) de Anima Mundi em São Paulo: Casa cada vez mais cheia. Na sessão das 20h foi uma luta achar um lugar. As oficinas a todo vapor, e cercadas de gente vendo os outros produzirem. E o melhor, crianças se divertindo! Não só nas oficinas de animação em pixelation, mas no stand do Garoto Cósmico. Brincavam no fundo verde de chroma key e se viam na tela ao lado do palhaço Já-Já. Se maravilhavam passando pelo Espaço Cósmico, e ganhavam um flip-book do filme. Sem contar o palhaço na perna-de-pau interagindo com pequeninos e distribuindo adesivos dos personagens. A sessão das 18h trouxe um especial Norman Mclaren, autor da mais diversificada e reconhecida obra autoral do cinema de animação do século XX e um dos criadores do National Filme Board, um dos maiores centros de pesquisa e produção de animação do mundo.

Se o trabalho de Maclaren dispensa comentários, a reação do público diversificado na sessão merece alguns. Haviam na sala desde animadores consagrados a pessoas que apenas apreciam a arte da animação. Uns aplaudiam a cada filme, outros diziam “Nossa, diferente, né?” Alguns não plaudiram, nem falaram nada, saíram da sessão no final, e é impossível saber o que estes acharam. O fato é que as imagens que vimos ali podem ser feitas hoje tranquilamente pelo computador. Mas Norman está em outro plano pelo pioneirismo, experimentalismo e contexto. Alguns videos datavam de 1940, sem recursos, e muitas vezes feitos diretamente na película de projeção. Quantas pessoas atualmente levam isto em conta e sentem a importância da obra, mesmo após a apresentação que Marcos Magalhães fez explicando tudo?

A questão é que esta linha de raciocínio influenciou minha percepção nas sessões seguintes, e comecei a reparar mais ainda no público, e não só na animação. Na sessão das 20h, abarrotada de gente, vi gente analisando a técnica friamente, e outras esperando pela piada no final. Difícil achar um meio termo. Quando o filme franco-belga Lévasion terminou tinha gente aplaudindo aos prantos, e outros querendo que o próximo começasse logo. Trata-se de uma animação incrível, com desenho em alto contraste de preto e branco. Poucas linhas, muitas formas, um Frank Miller bem mais suave. Narrativa e timing de tirar o fôlego, apresentando uma história de fuga da prisão de colocar no chão qualquer filme policial. E o modo, digamos, espirituoso com que o fugitivo lida com os guardas é de se fazer pensar. Tem diversão melhor que essa?

A sessão segue com curta Melna Kaste, da Letônia. Todo feito a lápis grafite sobre papel, trazendo alguns personagens e comportamentos extremamente bizarros. Era uma verdadeira crítica ao nosso sistema consumista, e conseguiu mostrar isso de uma maneira bem divertida, pois os risos eram gerais. Destaque para o filme nacional Os três porquinhos, de Cláudio Roberto. É a segunda parte da trilogia de fábulas infantis adaptadas à realidade brasileira. Dessa vez o policial lobo mau tenta entrar na casa do porquinho favelado, do porquinho traficante e do porquinho político. O conjunto de filmes termina com um dos curtas mais esperados do evento, Don’t download this song, clipe do mestre das paródias musicais Weird Al Yankovic, feito pelo consgrado animador Bill Plympton. As animações de Plimpton têm uma cara própria. Seu filme Guard Dog virou vinheta do Anima Mundi 2006. E neste clipe, cômico e propositadamente cínico, ele mostra as desventuras que um garoto passa por praticar a pirataria pela Internet. O título já dá o tom da piada: Não baixe esta música.

A sessão Curtas 14 chega menos ácida, mas muito divertida. Tem o curta brasileiro Limbo, de Rômulo Eduardo Hipólito, misturando técnicas para contar a história de um ateu que vai falar com São Pedro. O lugar mais parece uma repartição pública. Hilário. Na seqüência começa Jantar em Lisboa, do portugês André Carrilho. Premiado caricaturista e autor de BDs, Carrilho faz este curta baseado em um de seus quadrinhos. Seu estilo de desenho encanta com linhas claras, finas, e cores fortes. A história é surreal. O personagem sai do trabalho com o fax enviado pela namorada terminando a relação e dizendo que foi para Lisboa. Na rua as pessoas estão espantadas com portais que surgiram do nada, cada um levando a uma parte do mundo. Mas o filme que fez a platéia chorar de rir, foi Teat beat of sex. Na verdade é uma série de palestras animadas sobre sexo. Para adolecentes. Deve funcionar na MTV. A sessão termina com as animações Le Building, e Shhh... Respectivamente francesa e inglesa. A primeira é um 3D devidamente estilizado e com render de 2D, evidenciando as linhas de contorno. É rápido. Roteiro é bem construído. Uma velhinha bate na parede de seu apartamento para pedir que o vizinho pare de cantar ao chuveiro desencadeando uma série de acidentes engraçadíssimos. E por fim, o curta 2D Shhh... trás um humor diferente, mais minucioso. Um garoto e seu avô estão a ler na biblioteca. O avô faz um passe de mágica para sumir com as pessoas que fazem barulho. O garoto aprende o passe e sai pelo lugar se divertindo.

A sexta feira 13 não poderia passar em branco, então a sessão Curtas 1, das 23h foi dedicada ao terror. Alguns filmes eram realmente terríveis, como Taste of life e Elephant Girl. Tem o brasileiro Ale Camargo com seu A Noite do Vampiro. Muito bem feito, mas os créditos são mais engraçados que o filme. O curtíssimo Bloody Mary, filme grego em 2D, coloca as coisas no lugar. Depois vem o inglês Temerário, um 3D sobre vingança em um lugar como o velho-oeste norte-americano. Então começa uma seqüência de filmes ótimos, que realmente deixam a tensão de um filme de horror. O sueco Spegelbarn, todo preto e branco, lápis sobre papel; Violeta, la pescadora Del mar negro, stop motion de bonecos surpreendente; o alemão Sprössling, também com bonecos; e o mais inusitado, Cyklernes Nat, dinamarquês, uma mistura de técnicas que consegue fazer suspense em uma noite onde bicicletas resolvem atacar os seres humanos. Pra fechar, outro filme de Bill Plympton, Shut Eye Hotel. A princípio algumas pessoas estranharam com algo diferente da estética já conhecida dos filmes do diretor, como degradês feitos no computador, complementando o lápis no papel. Mas, de que importa? Afinal, a história é ótima, fazendo um mix de terror e policial.

Um dia com várias exibições para se pensar na fina barreira que separa, ou não, a técnica, a crítica, e a diversão pela diversão. Clique nos links a seguir para ver mais algumas fotos do Anima Mundi 2007 (as primeiras fotos estão aqui).

09 - Saguão 
10 - Oficina pixelation
11 - Oficina de stop-motion em massinha
12 - Totens multimídia no stand da Petrobras

(fotos: Jozz)

 Veja também:

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