Entre as atrações exibidas no primeiro dia (11) do Anima Mundi 2007, esteve o curta O Andar Superior, do animador mineiro Léo Ribeiro, de Juiz de Fora. Na mesma sessão, o filme Final Feliz, de Cleiton Cafeu, mostra as desventuras de um pássaro nas regiões arborizadas de São Paulo. Mas foi o longa metragem O Garoto Cósmico, produção do Estúdio Elétrico, com patrocínio da Petrobras e do BNDES, que se apresentou, em pré-estréia, diante da garotada paulistana.
Conversei rapidamente com o diretor Alê Abreu, antes da projeção, que aconteceu às 18h, na tarde de quarta-feira. Ele queria saber como estava a bilheteria. O pessoal da assessoria informava que domingo a sessão será, com certeza, de sair pelo ladrão. Que assim seja. Ao final da projeção do longa, de 76 minutos, a criançada da platéia cercou o cineasta, momento de satisfação e reconhecimento. Ao menos, os olhinhos dos pequenos, durante a projeção, mantiveram-se atentos. É o último trabalho do saudoso Raul Cortez. Em O Garoto Cósmico, o ator interpreta a voz do Giramundos, um divertido senhor que mora num planeta repleto de cores e vida. O filme engata na segunda parte da trama, quando os personagens (dois meninos e uma garotinha) saem de seu planeta gélido e insosso, uma vida acinzentada, com TVs programando crianças como se fosse um Big Brother de George Orwell, para viajarem a um planeta feliz e aventureiro.
Nesta segunda parte, as cores, que são exuberantes, e as imagens, todas muito belas, pretendem dar alento ao roteiro, que simplifica o filme num duelo entre as forças da diversão e as da programação. Um filme politizado para crianças, disseram os produtores. A aventura tem contundência para os personagens do filme, mas tudo é resolvido de forma impecavelmente asséptica. A inteligência e o sonho prevalecem sobre a frieza da programação e do tédio (um fantasma que assombra esta nossa civilização do século XXI). Nele, a platéia mirim - e seus pais, por extensão - assistirão a uma fábula moderna com cara de demodê, algo proposital. O circo, entidade que está praticamente caindo no esquecimento de nossas gerações atuais, vem à tona no trabalho de sete anos do cineasta. Boa lembrança. Alê Abreu disse que praticamente fez sozinho a animação de O Garoto Cósmico, mas que sempre contou, ao longo deste tempo, com equipes variadas de intervaladores e animadores suplementares. O som é da experiente Miriam Bidermann, e no roteiro Alê ainda contou, entre outros, com a colaboração de Sabina Anzuategui, a mesma co-roteirista de Desmundo, de Alain Fresnot.
As canções tem as vozes de Belchior, Arnaldo Antunes e Vanessa da Mata. Mesmo Raul Cortez dá uma canja numa das faixas da trilha. O Garoto Cósmico é, por assim dizer, uma grande ilustração animada, exuberante na forma, com uma idéia muito boa, amostra de um esforço gigantesco. Alê Abreu está de parabéns, ele entra para o rol dos vitoriosos da animação brasileira de longa metragem, como Paulo Munhoz, Otto Guerra e Walbercy Ribas, entre tantos outros (podemos aqui lembrar nomes lendários como Yppê Nakashima e Anélio Latini Filho). Que novos filmes deste porte possam surgir nas futuras edições do Anima Mundi. Clique nos links a seguir para ver algumas fotos do evento.
01 - Parte do pavilhão do Memorial durante o Anima Mundi 2007
02 – Outra parte do pavilhão do Memorial durante o Anima Mundi 2007
03 – Setor do pavilhão do Anima Mundi 2007 com imagem de Bronzit
(fotos: Ruy Jobim Neto)
U.P.A.
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Cena de The Tell Tale Heart, da U.P.A. |
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A abertura dos filmes da U.P.A., distribuídos pela Columbia Pictures |
Tee Busustow
é filho de um dos três animadores que lideraram a greve nos estúdios Disney, em Burbank, Califórnia, nos anos 1940. Foi interessante (e ao mesmo tempo tímida de perguntas da platéia) a palestra que o cineasta proferiu na sala 3. Ele, que é diretor de um documentário ainda inacabado a respeito da U.P.A. (United Productions of America), mostrou partes desta obra ao público presente. Na tela, três curtas do estúdio, todos filmes produzidos entre os anos 1940 e 1950:
The Tell Tale Heart, de
Ted Parmelee, de 7 minutos e 40 segundos, contendo um conto de Edgar Allan Poe narrado pelo talento vocal de James Mason, um filme sério distribuído pela Columbia Pictures. Seguiram-se a estranha diversão de
Miserable Pack of Wolves, de
Lew Keller, onde uma menininha de três anos afugenta uma matilha de lobos simplesmente dando petelecos nos focinhos destas feras, e finalmente a trapalhada sempre hilária de Mister Magoo em
When Magoo Flew, de
Pete Burness, onde o personagem míope por excelência faz uma viagem maluca de avião, quando pensa o tempo todo estar numa sala de cinema.
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A personagem de Miserable Pack of Wolves, de Lew Keller |
No documentário de Tee, filho do grande Steve Busustow (criador de um dos mais famosos personagens do estúdio, Gerald McBoing Boing), traz entrevistas com Leonard Maltin (autor do guia de DVDs americanos), um animador da Pixar, os lendários diretores de animação Gene Deitch (Tom & Jerry) e Bill Melendez (A Turma de Charlie Brown), vários diretores de arte, compositores musicais e filhos dos ex-animadores da U.P.A., sempre procurando evidenciar o leque de criações a que se permitiram os artistas vindos do estúdio produtor do Mickey. Uma luta bem sucedida do estúdio criador de Rooty Toot Toot e Madeline contra o tédio de um modelo sufocante imposto pela Warner, pela MGM e pela própria Disney. Tão bem sucedida foi, que um dos animadores, relembrando o saudoso Friz Freleng (Pantera Cor-de-Rosa), disse que Freleng certa vez disse: "Quando eu morrer, se me perguntarem se eu desejo ir para o Paraíso, eu direi que desejo ir para a U.P.A.".