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Entrevista: Cadu Simões
Por Eloyr Pacheco
06/07/2007

Ele é muito extrovertido, brincalhão, dificilmente sabe-se quando ele está falando sério. Arrancar uma entrevista dele, sem muitos risos e palhaçadas, não foi fácil. Mas, o (intrépido) criador do Homem-Grilo, Cadu Simões conversou por e-mail com o Bigorna.net para esclarecer algumas coisas: primeiro, como é que ele pretende ficar rico vendendo assinaturas de uma revista que não existe (ou melhor, não existia) e como ele conseguiu a proeza (um verdadeiro ato super-heroístico) de lançar 42 edições de forma ininterrupta da sua publicação. Brincadeiras à parte: Cadu Simões mostrou-se genial e chega ao mercado editorial com uma revista bem acabada e de um personagem que através da Internet tornou-se notório rapidamente. Aprenda (e divirta-se) com ele. Com vocês: Cadu Simões, o criador do Homem-Grilo.

Como e quando surgiu o Homem-Grilo?

O Homem-Grilo surgiu de forma despretensiosa quando eu tinha uns 11 anos de idade. Naquela época eu não tinha intenção de ser quadrinhista, nem nada. Foi só em 1997 que comecei a levar a idéia de ser quadrinhista a sério, e aí resolvi resgatar o Homem-Grilo da minha infância. Então chamei o Ricardo, meu vizinho e amigo de longa data pra desenvolver o universo do personagem junto comigo. De início, eu queria fazer um super-herói sério, com aquela ingenuidade de ser o novo Stan Lee. Mas logo dei de cara com a realidade e percebi que a melhor maneira de se fazer uma HQ de super-herói brasileiro seria através do humor. Até mesmo porque, quem iria levar a sério um personagem que se chama Homem-Grilo e que mais parece com o Chapolin Colorado? Mas o que começou com uma simples paródia ao universo dos super-heróis, com o tempo foi ganhando alguns contornos de crítica sócio-política, devido a maturidade que fui ganhando, principalmente devido a minha formação como Historiador. Fui percebendo as contradições que havia no fato de um super-herói construído sobres os moldes norte-americano estar ambientado na nossa realidade sócio-cultural, e comecei a explorar isso. Como na série de tiras Como os Super-Heróis Brasileiros Sobrevivem, ou então na seqüência em que os vilões do Homem-Grilo explodem o congresso nacional e são aclamado como heróis por isso.

Isso é realmente interessante, mas quando começou a publicar o personagem?

Comecei a publicar o Homem-Grilo em 2000 num site sobre quadrinhos chamado AracnoSpawn, que hoje nem existe mais. Com o fim desse site, em 2001 criei um site próprio para o Homem-Grilo. Neste mesmo ano fiz o primeiro fanzine do Homem-Grilo, que na verdade era apenas uma folha A4 dobrada ao meio reunindo algumas das tiras do personagem.

Como é o seu sistema de produção?! Você escreve o roteiro em detalhes ou dá espaço para o desenhista, rafeia a HQ...

Com o Homem-Grilo trabalho da seguinte maneira: escrevo primeiramente um argumento contendo apenas a trama geral com a seqüência de evento da história, mas sem definir muita coisa. Então penso nas gags que podem se incluídas nesta trama. Por fim, começo a escrever o roteiro decupado em páginas e quadros, descrevendo as cenas e colocando os diálogos presentes em cada um. Mas não chego a descrever exaustivamente os quadros, até mesmo porque, o Ricardo acaba alterando tudo depois mesmo. Depois que o Ricardo desenhou e arte-finalizou a HQ, ele me passa ela de volta pra eu fazer o letreiramento. Eu prefiro fazer o letreiramento, pois invariavelmente acabo alterando alguns diálogos, até mesmo para melhor se adequarem ao desenho final que o Ricardo fez.

Como foi a experiência de publicar tiras do Homem-Grilho na Internet?

A Internet foi a melhor maneira que eu encontrei pra divulgar meu personagem. Foi através dela que consegui formar uma quantidade de leitores suficientes que me permitem hoje publicar uma revista em Quadrinhos do Homem-Grilo de forma independente.

Depois do encerramento do SoBReCarGa onde você passou a postar as tiras do Homem-Grilho?

Atualmente estou publicando as tiras do Homem-Grilo no Melhores do Mundo, que é um blog sobre Quadrinhos com um estilo bem desencanado, e também no Tiras Nacionais, que é uma blog que reúne diversos cartunistas brasileiros. Além de publicar também no próprio site oficial do Homem-Grilo. Mas foi uma pena o SoBReCarGa ter encerrado, pois eles davam uma puta força pros quadrinhistas brasileiros. Tinha uma galerinha muito boa publicando por lá, como o Fabiano Pallante com as tiras do Rakkar, e o Zambi com seu Sir Holland, só pra citar alguns. Sem falsa modéstia, acho até que o Homem-Grilo era o piorzinho das tiras publicadas no SoBReCarGa, pois o trabalho do pessoal lá era realmente muito bom.

Como foi produzir a revista?

Bem, editar uma revista não é muito diferente de editar um fanzine. Então com a experiência que adquiri editando fanzines já há sete anos, me ajudou bastante a fazer a revista do Homem-Grilo. Mas foi depois de ter editado o primeiro número da Garagem Hermética, que eu percebi que estava pronto pra iniciar uma empreitada como essa, e tomei a decisão de começar a publicar a revista do Homem-Grilo de forma independente.

Número 42?! Onde estão as 41 edições anteriores, Cadu?!

As 41 edições anteriores estão esgotadas (risos).

Tá legal, estão esgotadas, mas e aí?! (risos)

Bem, falando sério (até onde eu consigo), o meu grande sonho e do Ricardo era poder publicar uma revista em Quadrinhos do Homem-Grilo mensalmente como são as revistas dos super-heróis da Marvel e DC. Mas infelizmente não podemos, pois não temos como nos dedicar integralmente a fazer quadrinhos. Temos nossos trabalhos "normais", que são os nossos verdadeiros ganha-pão, e que tomam muito tempo do nosso tempo. Eu sou professor de História e o Ricardo é publicitário. Mas não é porque não conseguimos publicar uma revista do Homem-Grilo todo mês, que não podemos ao menos fingir que publicamos. (risos) Então contamos quantos meses se passaram desde o último fanzine do Homem-Grilo publicado, e fizemos de conta que essas edições realmente existem. Inclusive, estou convidando quadrinhistas amigos meus para criarem as capas dessas edições que não existem de fato, e assim publicar um catálogo com todas elas (a edição 10, inclusive, possui cinco capas diferentes). E a idéia é continuar fazendo isso nas próximas edições. O que quer dizer que, se só conseguirmos publicar a próxima edição da revista do Homem-Grilo daqui a seis meses, ela virá com o número 48 na capa. E sempre nas revistas que forem realmente publicadas, pretendemos fazer referência às revistas que não existem, como por exemplo: "para saber como o Musculoso assumiu a sua homossexualidade, consulte a edição 24", e por aí vai. O lance é ver se alguém realmente acredita e começa a procurar por essas edições que não existem. (risos)

Cara, muito legal a idéia! Vai ser uma curtição. E como você vai controlar toda essa produção?
 
O Homem-Grilo está sob a Licença Creative Commons, nada impede que qualquer um que queira, crie por conta própria uma das edições da revista do Homem-Grilo que ainda não existe, e nem precisa me pedir autorização prévia, basta apenas seguir as instruções da licença.

Você me disse que imprimiu a edição em Curitiba junto com o pessoal da Quadrinhópole. Essa iniciativa em conjunto ajudou em melhorar os custos?

Sim. Foi impresso junto com a Homem-Grilo #42, a Quadrinhópole #4 e a Avenida #2 numa gráfica em Curitiba. E mesmo com o custo do frete, acabou ficando bem mais barato do que os orçamentos que fiz em gráficas aqui de São Paulo, utilizando o mesmo material e formato. Essa idéia de imprimirmos todos juntos partiu do Leonardo Melo, editor da Quadrinhópole, pois assim dava pra negociar um desconto com a gráfica. E o lance é tentarmos trazer mais quadrinhistas independentes pra esse esquema pra ver se conseguimos baixar o preço de impressão cada vez mais.

Como funcionou e como foi a aceitação do seu "sistema de assinatura"? Quais são as suas expectativas de venda?

Funcionou até que bem. Consegui cerca do 1/3 do valor de impressão com esse sistema. Mas o pessoal que colaborou eram todos já amigos ou conhecidos meus, então neste aspecto o sistema falhou, pois esperava que leitores do Homem-Grilo que não fossem próximos a mim participassem. Mas o sistema requeria que você utilizasse um mecanismo de pagamento pela Internet, no caso o Brpay, e percebi que muita gente ainda tem receio de fazer transferência de dinheiro pela Internet, apesar de hoje em dia isso ser mais seguro do que fazer o pagamento pessoalmente. Devido a complexidade dos códigos criptográficos, é praticamente impossível quebrá-los, nem que você seja o melhor hacker do mundo. Os furtos virtuais que acontecem são por descuido do próprio usuário, que acaba clicando em algum link "malicioso" contendo um cavalo de tróia e coisas do tipo. Mas minhas expectativas de vendas são boas. Cerca de 40% da tiragem eu espero vender pro pessoal que já é leitor do Homem-Grilo e acompanha o personagem há tempos. Aí o que eu conseguir de leitor novo com a revista será lucro. (risos)

E quem não é assinante do Homem Grilo, onde pode encontrar a revista?

A revista do Homem-Grilo pode ser encontrada principalmente em comic shops. Aliás, se tiver algum dono de alguma comic shop em algum recanto do Brasil que ainda não tem a revista, entre em contato comigo pelo e-mail homemgrilo@gmail.com. Mas a revista também estará à venda em breve pela Internet na loja virtual da Loser Graphics ou então na Bodega, do Leonardo Santana. Em último caso, você ainda pode pedir a revista diretamente pra mim por e-mail que eu lhe envio pelos correios.

Obrigado, Cadu, pela entrevista. Valeu!

Eu que agradeço pela força, e espero estar de volta ao Bigorna pro lançamento da próxima edição da Homem-Grilo, que certamente não será a 43. (risos)

O Bigorna.net agradece a Cadu Simões pela entrevista concedida no dia 05/07/2007.

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