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Resenha: Limpeza de Sangue
Por Cadorno Teles
26/06/2007

Cronistas, poetas e até Homero
Tua memória, soldado, todos cantam,
Pois teus inimigos inda se espantam
Ao recordar o brilho de seu ferro
(...)
Proclamam, então, os céus e toda a terra
Os lances e os sucessos afamados
De Diego Alatriste, raio da guerra!
 

As histórias que o espanhol Arturo Pérez-Reverte escreve lembram muito as narrativas violentas e sombrias do escritor polonês Joseph Conrad, que sempre viveu perigosamente, como um de seus aventureiros personagens. Pérez-Reverte, como correspondente de guerra, teve diversas experiências que marcaram sua vida e seus livros; sendo um apaixonado pela história espanhola, ele reavivou o gênero capa-e-espada, ao melhor estilo Os Três Mosqueteiros, retratando o que passou nas guerras, em uma época bem anterior à nossa.

Em As aventuras do Capitão Alatriste, o autor retrata a Espanha do século XVI, na época do rei Felipe II, o Século de Ouro espanhol, mas da negra sombra da Inquisição, narrado por um protegido de um espadachim, Diego Alatriste y Tenorio, soldado veterano das guerras holandesas e cuja espada "aluga" a todo alguém que necessite. Em sua mais nova aventura, Limpeza de Sangue (Limpieza de Sangre, tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman; Companhia das Letras; 232 págs.; R$ 41,00), o capitão Alatriste, após o caso inglês (narrado em O Capitão Alatriste, primeiro volume da série), junto com o poeta e amigo Francisco de Quevedo, ajuda a família de uma noviça a resgatá-la do convento das Adoradoras Beneditas, onde é seviciada cruelmente pelo capelão. Contudo, caem em uma emboscada, conseguindo escapar dos soldados inquisidores, que já estavam esperando os heróis. Mas o seu pajem, Íñigo Balboa, que estava esperando seu protetor no outro lado da rua, é capturado e levado às masmorras da Inquisição.

Por detrás da emboscada, estavam o frei Emilio Bocanegra, presidente do Santo Ofício espanhol, e o secretário do reino Luis de Alquezár, inimigos confessos de Alatriste. Íñigo é tratado como um cúmplice, judaizante, e presencia as mais cruéis cenas de interrogatório já vistas. Um Auto de fé é inquirido e o garoto de 13 anos é condenado à fogueira e o capitão tentará de tudo para salvar o menino, mesmo com o perigo de passar pela mesma condenação de Íñigo. Com um argumento atraente, Limpeza de sangue, apesar de exceder pelas lutas de espada, cruéis e sanguinolentas, consegue retratar uma época rica e sombria, e traz uma forma de narrar que lembra muito o mestre Alexandre Dumas. O titulo do livro é utilizado para lembrar os Estatutos de Limpieza de Sangre, também chamada de Pureza de Sangue, um conjunto de leis discriminatórias hereditárias, onde um acusado teria que provar que não tinha sangue muçulmano ou judeu, que Miguel de Cervantes, outro grande mestre da literatura espanhola tão bem criticou, em um de seus escritos, El retablo de las maravillas.
  
A narrativa mostra como devia ser Madrid, com suas ruas escuras, pousadas e tavernas malfadadas, seus passeios lotados de carruagens e suas concorridas corridas de touros, com as comidas, bebidas, objetos e lugares daquela sociedade. O autor consegue antagonizar os personagens reais com o drama da história, e além disso, neste volume, traz uma boa amostra do funcionamento da Inquisição, com perfeita reconstituição do processo de julgamento, tortura e condenação e como o Santo Ofício controlava a vida de todo o país e ameaçava deste o mais pobre camponês ao nobre de mais alto cargo do Império. Em um ritmo audaz, Arturo Pérez-Reverte permite ao leitor uma introdução à História e, como Dumas e Daniel Dafoe - cujos livros se tornaram clássicos - faz dos seus romances uma leitura viciante. 

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