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Resenha: Morto até o anoitecer
Por Cadorno Teles
06/06/2007

Os vampiros "saem do caixão"

Vampiros, célebres morto-vivos, personagens de lendas do passado e de inúmeras retratações em livros e filmes, tão populares em nossos dias, ganham uma versão bem diferente do aspecto sombrio e de seres malignos que encontramos por aí. A escritora Charlaine Harris cria em seu Morto até o anoitecer (Dead until dark, Prestígio editorial, tradução de Chico Lopes, 316 págs., R$ 39,90) um mundo onde os seres noturnos e nefastos são membros da sociedade, com pleno direito de viver em comum com os seres humanos, sendo uma comunidade legalmente reconhecida depois da invenção do sangue sintético. Contudo, ainda há receio de sua presença, mas há também fanatismo e fetichismo pelos outrora chupadores de sangue.

Com um argumento que não chega a ser novidade (há dezenas de narrativas que tratam da chegada ao nosso mundo de seres que passam a formar parte de nossa sociedade), Harris cria com os ícones do terror uma história que mescla elementos de vários gêneros: o terror propriamente dito, o mistério, a aventura e o fantástico em uma história atraente aos leitores jovens, porém certamente não agradará tanto aos fãs do gênero – aquele no melhor estilo Anne Rice (Entrevista com o vampiro) -, pois os pequenos detalhes da narrativa são bastante questionáveis, como por exemplo, o sangue vampírico, rejuvenescedor da estética, ou o absurdo vírus vampírico da AIDS.

A história se passa em uma pequena e pacata cidade de Louisiana, Bon Temp. Um povoado afastado, de características rurais, onde nunca acontece nada, e quando há alguma novidade se vive intensamente, com a curiosidade e a expectativa típica que o novo desperta em pessoas acostumadas a ter poucas emoções e menos surpresa. É nessa tranqüila cidade que vive a protagonista da história, Sookie Stackhouse, uma bela e atraente moça de 25 anos, que trabalha como garçonete em um bar. Uma jovem normal, se não fosse o peculiar incoveniente de ser uma telepata, que lembra a personagem Suzannah Simon da série A mediadora, de Meg Cabot. Um dom que para Sookie é uma tortura, pois por causa de sua capacidade de ler a mente das pessoas, não consegue se envolver com nenhum homem; todos os moradores a considera excêntrica ou louca, sem entender ou assimilar que possui essa qualidade. Devido aos problemas causados por seus poderes, ela aprende a levantar barreiras mentais que impedem escutar o pensamento dos outros.

O marasmo de sua vida acaba quando Bill Compton, um vampiro, chega à cidade. É o primeiro daqueles a se mudar para Bon Temp, aproveitando a Lei de Convivência com os humanos. Bonito e sedutor, Bill chama a atenção na provinciana cidade, que o trata com certo preconceito. Sookie logo se apaixona por ele, não como as vampirófilas mulheres que têm fetiche nos vampiros, mas seu amor é verdadeiro e recíproco. A raiz desse estranho envolvimento surge quando Sookie não consegue ler o pensamentos de Bill e o segue no estacionamento do bar, o salvando de dois caça-vampiros, que queriam roubar o sangue vampírico, para vender como afrodisíaco e elixir da eterna juventude. Uma amizade que se transforma em romance, que provoca a discussão dos moradores da pacata cidade: alguns não crêem no exótico relacionamento, outros que não vêem nada demais.

Mas uma série de misteriosos e macabros assassinatos começa a ocorrer na cidade. Seria Bill o culpado? Ou um serial killer? Ou um outro vampiro? Ou alguém que queira incriminar os vampiros? A crescente teia de dúvidas e desconfianças faz de Sookie e Bill os principais envolvidos em solucionar o mistério e as intrigas causadas pelos crimes. Com um enredo à la Buffy, a caça-vampiros ou Angel, Charlaine Harris elabora um texto que simplifica os mitos do terror, mas que desenvolve seus personagens psicologicamente, de maneira bem próxima da realidade, apesar de se tratar de uma história vampiresca. Poucos autores combinam, de maneira tão sutil, os elementos do mundo real ao fantástico, no caso o estado rural onde acontece a história, o conteúdo romântico e de mistério, uma protagonista com certo enfoque feminista, seus interesses e sua relação amorosa com cenas bem picantes de sexo, atrelado ao mito intrigante e de suspense que o vampiro possui em sua própria formação. Com humor, Charlaine Harris faz desse livro, que se tornará seriado de TV brevemente, uma aventura juvenil, dando uma nova perspectiva a um gênero freqüente na mídia. Contudo, poderá não chamar a atenção dos fãs do terror.

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