Todos nós que trabalhamos com a informação como ponto de saída para fazer charges ou HQs históricas nos deparamos com uma terrível questão acerca da veracidade das notícias com as quais trabalhamos. Vejo as discussões em torno da postura dos chargistas, que fazem charge com as manchetes dos grandes jornais e revistas:
“A Folha escreveu? É verdade!”
“Saiu na capa da Veja? Ah, o governo vai cair!”
“Deu no Jornal Nacional? Ferrou!”
Se nos perguntarmos o que é verdade e o que é mentira, perceberemos que somos um bando de cidadãos desinformados, pois não saberemos discernir sobre isso. Essa é a dura realidade. A Mídia tentou dar um golpe no Lula e tirar-lhe a vitória e quase todo mundo aplaudia. Quase, por que a grande maioria quis que a baixaria da Veja, Folha e Estadão fosse pro lixo. Outro exemplo é a recente confusão entre Brasil e Venezuela.
Tentaram armar pro Lula
O Senado brasileiro aprovou uma moção de repúdio pelo fechamento do canal de televisão venezuelano RCTV, cujo sinal saiu do ar no domingo, por ordem do presidente Hugo Chávez. A imprensa ficou atrás de Lula para que ele se pronunciasse sobre o caso. Ele, sabiamente, se esquivou. Eduardo Azeredo (PSDB-MG) autor da moção, disse que “é importante que o Senado brasileiro manifeste seu desacordo com uma atitude contra da democracia". E lamentou que o Presidente Lula tenha afirmado que o assunto não é do Brasil. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, criticou a moção aprovada pelo Senado: "que triste para o povo brasileiro! Minhas condolências para esse povo que não merece isso. Um Congresso com gente de direita que repete como papagaio o que dizem em Washington”. Os fatos: o dono da RTC foi financiado por grandes empresas dos EUA para ser candidato à presidência contra Chávez. Usou e abusou da TV, publicando notícias falsas e escandalosas. Tentou ganhar no grito e perdeu. Continuou difamando o governo. Quando chegou a hora de renovar a concessão, o presidente (que decide sobre isso) não renovou. Claro! Quem dá asas a cobras, acaba mordido. Parece anti-democrático, mas é assim que são as coisas, ou nos EUA é diferente? É só ver o sufoco que está passando o Michael Moore na terra da liberdade.
Os vencedores
O fato é que a História foi (e continua sendo) escrita pelos vencedores, assim recebemos informações ditas seguras, que foram forjadas ao longo do tempo. Mas continuamos lendo as vomitadas de mau gosto que nossa querida imprensa nos oferece. Acessamos os blogs dos chiques e famosos da informação, nossas charges são publicadas ou citadas lá, ficamos felizes. Os Diegos Mainardis, Arnaldos Jabores e outros recalcados nos bombardeiam com suas eloqüentes dissertações sobre o... nada! E os chargistas deliram, adoram, comentam como escreve bem este ou aquele. E reclamam quando um de seus colegas resolve defender o que considera um avanço num país de medíocres. Aí é chapa-branca, vendido, mensaleiro... Na Argentina, desenhistas estão produzindo discussões riquíssimas que se transformam em livros, revistas, exposições. Mas adoramos contar piadas de argentinos. Na hora de meter o pau no Lula, citam a Argentina, que cresce o dobro do Brasil. O Big Brother de George Orwell (não o da Globo) está aqui (ou sempre esteve), mandando em nossas mentes há séculos. Fazendo nossas cabeças, como diria Raulzito. Mas isso não importa, como diria o grande Raulzito: "virou moda fazer música de protesto...” e “Falta cultura pra cuspir na estrutura!”
Quadrinhos reacionários: heróis Marvel ao lado de soldados dos EUA no Iraque
The New Avengers - Letters Home
E o novo Capitão América cheio de grilos na cuca com a guerra do Vietnã? E o Surfista Prateado que tinha um senso de humanidade acima da bestialidade humana? Juntaram-se para ajudar a massacrar o povo iraquiano nos Quadrinhos. E a Hydra que sempre foi de perfil nazista, virou "terrorista islâmico". A organização criminosa Hydra é comparada a Al Qeada, Taleban ou ETA altamente sofisticada - rouba um satélite de comunicações americano. Cabe aos heróis liderados pelo Capitão América resgatar o artefato e permitir que os soldados no exterior consigam mandar mensagens de natal para suas famílias nos Estados Unidos. O programa America Supports You (América Apóia Você), do Departamento da Defesa americano, edita Quadrinhos voltada para as tropas baseadas no Iraque. O programa "reconhece o apoio dos cidadãos aos nossos homens e mulheres e transmite tal apoio para os membros de nossas forças armadas em casa e no exterior". Se antes o inimigo era o Comunismo, hoje são os árabes: "Por toda a América, milhares de cidadãos, empresários e grupos estão hospedando eventos e empreendendo projetos para apoiar as Forças Armadas americanas na Guerra Global ao Terrorismo". Para os soldados americanos é preciso fé no seu próprio heroísmo e estômago para chacinar mulheres, velhos e crianças iraquianos. E usam um gibi para dizer que isso é legítimo.
Azenha denuncia a Imprensa
A verdade sobre o nosso "jornalismo", dita por quem o conhece bem de perto: Luiz Carlos Azenha, repórter da TV Globo combate os "formadores de opinião" que têm rabo preso com tudo, menos com a verdade factual e com o bem estar da sociedade. Que a mídia corporativa é golpista não é novidade. Basta ir aos arquivos e ver a cobertura que ela dedicou aos golpes de 64 no Brasil, de 73 no Chile e assim por diante. Hoje em dia, muitos daqueles que patrocinaram a "quartelada" distorcem a História para dizer que foram vítimas da censura e do regime militar. Os grupos econômicos dos quais fazem parte emissoras de rádio, de televisão e jornais representam interesses que vão muito além da mídia. Eles crescem extorquindo governos municipais, estaduais e federais, através de abatimentos de impostos, terrenos doados, isenções fiscais para a compra de equipamento, linhas de crédito do BNDES e falcatruas como a do Pará, Estado em que a TV Cultura local pagava 400 mil reais por mês para "alugar" a programação da TV Liberal, uma emissora privada.
Palavra de Azenha
Inconformado, decidiu botar tudo aqui.
"Só com sangue de barata é possível aceitar passivamente a cobertura da grande imprensa à cassação da licença da emissora de televisão venezuelana de RCTV. Em mim produz a mesma repulsa que a corrupção nas instituições políticas. Aceitar que uma rede de TV como a CNN use imagens de um antigo protesto no México como se fossem na Venezuela é tão criminoso quanto o ato em si. Como pode essa imprensa ainda existir? Não entendo a falta de revolta dos jornalistas. É alienação ou conivência? Para um jornalista, é vergonhoso em qualquer dos dois casos. Não há nada verdadeiro no noticiário sobre a Venezuela, a não ser um ódio incompreensível por Hugo Chávez. Talvez um ódio de solidariedade com o irmão americano W. Bush, eterno merecedor do escárnio de Chávez como de qualquer outro cidadão razoavelmente informado, tal e qual deve ser todo jornalista. Porque se trata de mentir descaradamente para o público, negar-lhe informações importantes para julgar. Essa mentira foi desmascarada por vários blogues e pela imprensa alternativa. Está em todos os lugares. Em Londres, saiu um manifesto de apoio a Chávez, assinado por intelectuais, escritores, etc. Chávez cassou legalmente uma concessão pública porque o detentor dessa concessão nada mais é do que o sujeito que tentou aplicar-lhe um golpe de estado e chegou até a declarar-se presidente. Só isso. Então, não é Chávez o golpista, mas esse magnata da comunicação. E o fez com base na lei ou seja, quando o prazo da concessão pública expirou".