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Entrevista: Milson Marins, José Valcir e Arnaldo Luiz, da Prismarte
Por Eloyr Pacheco
01/06/2007

Todos são muito produtivos, ativos e, ao mesmo tempo, muito independentes. Todos eles querem falar ao mesmo tempo. Pelo menos é o que parece quando todos decidem responder a mesma pergunta (bem, quase todos!). As que formulamos para esta entrevista foram respondidas por três membros do conselho editorial da Prismarte (uma resposta não complementa a outra, as perguntas foram respondidas de forma “isolada”, independente). Eles formam a PADA, uma produtora que vem lançando a revista Prismarte há anos e, num país onde a concorrência é algo implacável, quase cruel, ultrapassou a marca da quadragésima edição. Depois da troca de muitos e-mails (a maioria deles cobrando as respostas, até que José Valcir liberou a publicação) na segunda quinzena de abril e na primeira quinzena de maio, aqui está uma interessante entrevista com Milson Marins, José Valcir e Arnaldo Luiz, três dos cinco integrantes da PADA. Pelas respostas abaixo, você poderá saber porque a PADA e a Prismarte estão firmes no mercado independente.

Como nasceu a PADA? Qual era a equipe inicial?

Milson Marins: A PADA, por incrível que pareça surgiu depois da Prismarte. Quando tínhamos as primeiras edições de Prismarte. Meu irmão [N. do E.: Marco Marins] sentiu a necessidade de criar um selo de produção. Foi esse intuito de congregar o maior número de autores possível que ele criou a PADA (Produtora Artística de Desenhistas Associados). Interessante que a sigla já foi chamada de Produtora Artística de Desenhos e Aventuras, a pedido de alguns integrantes, que não eram desenhistas, mas logo voltou à interpretação anterior da sigla. Foi por Marco Marins também a criação da marca. Que representa na forma quadrilátera, com vários quadradinhos que formam um só, e o quadrado vazado é o espaço para os mais novos integrantes. Essa é filosofia empregada na marca PADA. A PADA já teve muitos integrantes. Não sei dizer ao certo quantos, creio que meus parceiros sabem melhor que eu. Mas no inicio da inauguração da PADA, eram: Douglas Campelo, José Valcir, André Gomes Torres, Arnaldo Luiz, Marco Marins, Eu, Jaidelson Maurício de Souza e Queóps. Só lembro destes. Mas já tiveram muito outros.

José Valcir: Do sonho de dois irmãos, Marco e Milson Marins. Eles conseguiram unir pessoas com a mesma predileção na casa dos pais deles (e devemos agradecer pela paciência deles por nos agüentarem ali por mais de quatro anos). A primeira formação estava composta de Marco e Milson Marins, Douglas Campêlo, Ricardo “Alf”, André Gomes Torres, Jaidelson Maurício de Souza, e José Valcir. Depois se juntou ao grupo Arnaldo Luiz, Euzébio Muñoz, Marcelo Schmitz, Fábio Cassiano, Bruno Alves, Luís Carlos Magno Farias, Alexandre de Freitas, Rei, Walmir Sabino, Marcos Lopes, Regílson Queóps, Anderson Jean e outros nomes que nem me lembro mais. Ela foi fundada em 28 de abril de 1984, essa data não pode ser esquecida. Atualmente, a PADA está formada por cinco pessoas: Arnaldo Luiz, José Valcir, Marco Marins, Marcos Lopes e Milson Marins.

Arnaldo Luiz: Foi em 1989 que tive contato pela primeira vez com a equipe da PADA, na época, com quase toda formação original: Marco e Milson Marins, José Valcir, Jaidelson, Douglas Campêlo, André Gomes Torres, Regilson Queóps, Anderson Jean, Rei e Walmir Sabino. Daquele ano para cá alguns partiram e outros vieram sempre com o mesmo ideal: ganhar a vida fazendo Histórias em Quadrinhos. Na época, a Prismarte, um alternativo feito em xerox, estava no número 3 – se não em engano – além do Croquis, outro alternativo nosso, produzido por André Gomes e Alexandre de Freitas. Tive o privilégio de ver nascer os números seguintes, incluindo uma edição especial do Prismarte (naquela época era um fanzine), além de presenciar a elaboração e o processo de execução das revistas. Posso dizer que naquele tempo, eu aprendi muito. Até ter contato com a PADA, eu fazia meus quadrinhos e os guardava na gaveta, sem divulgá-los de forma alguma. Integrar a PADA mudou tudo isso; além de dar um modus operandi mais profissional, que ouso dizer que minha vida divide-se em antes e depois da PADA.

E a Prismarte?

Milson Marins: A Prismarte nasceu em abril de 1985. Quando meu irmão, Marco Marins teve contato com um fanzine chamado Tchê – do RS, aí surgiu a idéia de fazermos um fanzine também. Quando nos reunimos para decidir qual seria o nome, buscamos fazer uma fusão de palavras. Até que unimos duas palavras, Prisma (ponto de vista) + Arte, aí nasceu o nome Prismarte. Na época foi uma saída para nossa sede de publicar. Já havíamos enviado cartas para editoras, visitamos gráficas e editoras locais. Mas sempre nos deparávamos com os obstáculos para começar. Mas para falar a verdade, nós estávamos muito distante de ter qualidade para publicar. Ninguém iria investir em jovens sonhadores que estavam bem distante de qualquer qualidade técnica e profissional de Quadrinhos. Tínhamos muito que aprender. Nessas primeiras fases, da Prismarte, publicamos seis revistas em 5 anos. Era muito lento o trabalho. Muito disperso. Mas tinha uma certa qualidade em relação a alguns outros fanzines da época, por isso chamávamos atenção. Além de ser o único em Recife – PE.

Depois veio o que foi a segunda fase da Prismarte, em 1990, quando amadurecemos e resolvemos arriscar uma produção impressa em grande escala e com distribuição mais abrangente. Foram seis edições, mais a Croquis, um fanzine cujo editor era um membro da PADA chamado André Gomes Torres, que assumimos também imprimi-lo em off-set. Publicávamos, mais ou menos duas edições ao ano. Todas em off-set com tiragem de no mínimo 1000 exemplares. Inclusive a última edição lançamos na II Bienal Internacional do Rio de Janeiro. Depois desta última edição, a Prismarte viria a cair num sono profundo de 10 anos. Para depois voltar em 2003, nesta forma atual que chamamos de nova fase.

José Valcir: No início não havia o pensamento de fazer um fanzine ou uma revista. O objetivo mesmo era produzir e garimpar alguma editora interessada em nos publicar. A base de nossas histórias era calcada nos super-heróis porque até então era nossa única fonte (alguns outros inspirados nos animais). Mandamos até originais de uma história de mais de 30 páginas de um grupo de super-heróis para a extinta editora Bloch. Até hoje não obtivemos resposta e nem o material de volta. [N. do E.: Nunca mande originais para as editoras sem que eles sejam solicitados] Mas não desistimos e continuamos na luta. Sofríamos não só influências dos Quadrinhos, mas do Cinema, dos comerciais de Televisão. Discutíamos o processo criativo e trocávamos idéias sobre a melhor abordagem sobre o quê e como fazer nossas histórias. Aprendi muito com todo mundo naquela época.

Mas nosso destino mudou quando a editora Abril começou a escrever os endereços dos seus leitores nas seções de cartas das revistas que publicava. Jaidelson era leitor da Espada Selvagem de Conan e decidiu escrever para seção de carta dessa revista, e logo um leitor o contatou. Esse leitor falou-nos dos fanzines e do movimento alternativo que existia. A partir daí decidimos fazer o nosso próprio alternativo. Douglas elaborou a primeira capa para uma revista chamada Nova Heróis. Mas tudo mudou quando decidimos entrevistar Laílson de Holanda, na época, chargista do Diário de Pernambuco. Ele nos abriu os olhos sobre essa questão de copiar ao invés de criar. Que o mercado nacional de HQ era colonizado há muito tempo pelo “American way of life”. Que em dado momento, na história do Quadrinho nacional, substituiu o faroeste pelo cangaço (que no fundo há muito em comum) e coisa e tal. Isso mudou o modo como víamos as coisas. Isso nos levou a segunda mudança e a mais profunda que teríamos. André Gomes, na época, comprava revistas importadas da Meribérica e da LP&M, e através delas conhecemos a dupla Jodorowski e Moebius e O Incal. Enki Bilal foi outro que nos provocou uma releitura do que fazíamos. Foi fantástico aquele novo mundo e dois dos mais talentosos artistas da PADA, Jaidelson e André Gomes, deram uma guinada no estilo de escrever e desenhar as “agaquês” que faziam. Marco veio à tona com um roteiro fantástico que, atualmente, volta a tomar forma. Mas isso é outra HQ, digo, história.

Foi sob esse clima que o nome Prismarte surgiu. Os irmãos Marins e outros componentes encontraram-se na Biblioteca Pública Presidente Castello Branco, para pesquisar nomes até que a idéia de aglutinar as palavras prisma + arte = uma nova maneira de ver os quadrinhos, que fez o diferencial. Chegamos com um novo leiaute de capa e de miolo, que atraiu muitos leitores e outros fanzineiros. O resto é conseqüência.

Arnaldo Luiz: Bem, como eu disse antes, a Prismarte já estava no número três – e já indo para o número 4 – na sua primeira fase em xerox. Sabe, naquela época eu ficava olhando aquelas publicações simples, cujas matrizes eram feitas com cola, tesoura e recortes, bem nos moldes dos antigos fanzines, e pensava: “será que terei uma das minhas histórias publicadas aqui?”. Aconteceu de Marco Marins ver os meus trabalhos – ainda a lápis, outros arte-finalizados com esferográfica comum – e gostar de uma HQ minha de humor com apenas quatro páginas. Era a primeira história de O Minotauro. Daí em diante, integrei a equipe de criação da PADA. Após a primeira fase em xerox, a Prismarte teve cinco números em off-set – além de um único número da Croquis – com capas coloridas e alguns anunciantes. Mas esse período foi mais difícil porque tínhamos cópias – das revistas – demais para poucos de nós distribuir, além de contas a pagar. Não deu outra e tivemos que parar a publicação – embora não parássemos de produzir Quadrinhos, tiras e ilustrações diversas, isso tudo foi entre 1991 e 1993.

Mas em 2003, Milson Marins, resolveu ressuscitar a Prismarte – inicialmente com capa em preto em branco e, até ganhar, com o tempo, capas coloridas e mais páginas. Desta vez, a Prismarte estaria mais antenada com as tendências atuais em termos de Quadrinhos que nessa terceira fase chegamos ao número 42! O mais legal nesta longevidade é que tivemos a oportunidade, além de publicar nosso próprio material, de publicar Quadrinhos muito bons de gente de fora – seja iniciante ou já de renome – dando a revista este sabor de variedade.

Como é feita a distribuição da revista? O forte é a venda pelo correio e pela Internet?

Milson Marins: Distribuímos a Prismarte em alguns pontos de vendas do Recife, nas bancas e revistarias especializada e até na Livraria Cultura. Não adianta distribuir para qualquer banca. Optamos por uma distribuição mínima, até porque a impressão também é mínima. Por cartas, enviamos release constantemente. E pela Internet boletins que direciona ao site. Mas o forte é a venda pela Internet, para outros Estados. O maior volume de vendas é pela Internet.

José Valcir: Distribuímos a revista em quatro pontos de venda: Globo, Livro Magazine, Elemental Comic Shop e Livraria Cultura. Mandamos cartas com anúncio de nossos lançamentos e pela internet, fazemos divulgação através dos “saites” Bigorna, Universo HQ, Zine Brasil, e Neorama dos Quadrinhos. Contarmos com uma grande força do Leonardo Santana vendendo as revistas pelo site dele. Além do próprio site da Prismarte onde divulgamos nossos lançamentos e outros autores de Quadrinhos. Nosso projeto fundamental é fomentar a HQB, e isso não é demagogia.

As vendas da Prismarte estão divididas das maneiras acima mencionadas e o retorno dessas vendas acontece mais pelos Correios e por venda em banca. Creio que Internet ainda é o maior fator de divulgação do que vendas. Estamos revendo essa situação a fim de buscar novas estratégias de vendas. Uma dessas maneiras encontradas é a venda de assinatura da revista. Ora, a PADA provou ter regularidade com seu produto e conquistou a confiança do leitor porque ele sabe que ao chegar à banca todo mês, vai encontrar um novo número exposto na prateleira. Essa certeza nos deu força para o passo seguinte que é a assinatura. E faço questão de dizer que já temos nosso primeiro assinante.

A revista vende o suficiente para se manter? Ou são os apoios que permitem manter a circulação?

Marco Marins: Sim. Vende razoavelmente, dá para pagar as despesas. Não temos lucro, mas procuramos não ter prejuízos. Mas pode acontecer de uma das edições vender pouco e ficarmos esperando mais um mês para cobrir o investimento. Estamos em busca de patrocínios agora. Fazíamos mais na Prismarte da década de 1990, quando era impressa em off-set.

José Valcir: Estamos buscando anunciantes para a revista desde o momento em que decidimos implantar capa dupla colorida. Por enquanto a venda da revista é o suficiente, sim, para se manter. Mas queremos mais do que isso. Poder investir em outros projetos. Um deles é a premiação dos Melhores Quadrinhistas da Prismarte que a cada edição ganha um novo formato. Investir nesse segmento é importante porque diz respeito a fundação de um pólo produtor de quadrinhos aqui, no Estado. Fazer o leitor votar é fazê-lo acreditar que temos autores de qualidade e quem ganha vai buscar melhorar cada vez mais e quem não conseguiu, construir um trabalho bom o bastante que lhe faça sair do anonimato. Mas tudo isso gira em torno da venda da revista e precisamos conquistar esse leitor. É difícil porque estamos nos confrontando com a Marvel/DC, mangás e outros títulos nacionais que surgem de um dia para o outro (mesmo durando uma ou duas edições!) e o poder aquisitivo do leitor ser bem reduzido.

Arnaldo Luiz: Assim como na primeira fase (em xerox) da Prismarte, penso eu, que a venda indireta sempre surtiu mais efeito do que a direta. Apesar de contarmos com quatro pontos fixos de venda, são os pedidos de fora que ainda fazem o diferencial. Mas eu, pessoalmente, gostaria que houvesse uma procura maior pela revista por aqui mesmo. Em parte não, já que ainda temos que investir para que cada número seja produzido e reproduzido. Mas, apesar disso, temos conseguido sempre levar aos pontos de venda a edição do mês. Ainda assim, por ser uma revista mix – com “agaquês” de vários gêneros e estilos – e fato conhecido que é mais difícil emplacar no gosto popular. E ainda mais, a Prismarte tem que concorrer com seus vizinhos de prateleiras: comics, fumettis e mangás. É sabido que o leitor, em geral, consome o que já conhece e não um alternativo qualquer – mesmo que este alternativo já tenha ultrapassado dos quarenta números.

Quanto aos apoios, acho que o maior deles é o que vem do boca-a-boca. Mesmo, assim, procuramos, sempre que possível, participar e/ou promover eventos – como os Melhores da Prismarte, que realizamos desde 2004 – que possam divulgar a nossa revista. Apesar desse esforço, acredito que possamos alçar vôos mais altos, é preciso investir em outras mídias – como a Internet – e formatos, como a animação! O negócio é diversificar as ferramentas porque tem gente que não lê HQ de jeito nenhum, mas não hesita em consumir toneladas de filmes animados.

Como conseguem manter tão boa regularidade?

Milson Marins: Suando a camisa. O que nos move a publicar a Prismarte não é porque sonhamos ficar ricos. Mas é porque gostamos mesmo dos Quadrinhos. Está na veia. Claro que evitamos cair no prejuízo total. Temos todos os meses reuniões que programamos uma, duas, ou três edições à frente, quando temos colaborações para isso, a partir daí já começamos a produzir as edições.  Mas não é fácil. Temos compromisso com o leitor, é isso que nos impulsiona.

José Valcir: Suando a camisa. Eu sempre repito: “somos um grupo formado por cinco pessoas que se dividem e depois se multiplicam” para poder fazer as coisas acontecerem. Dos cinco, três são casados e destes, dois são pais [N. do E.: o conselho editorial da Prismarte é formado por Arnaldo Luiz, José Valcir, Marco e Milson Marins e Marcos Lopez]. A busca pela regularidade foi um trabalho árduo porque tínhamos que driblar o tempo escasso, desemprego (eu, no caso!), sol e chuva. Focarmos cada problema e corrigí-lo num tempo mínimo. Um dos grandes desafios que estamos sanando é o problema da revisão. Mas voltando a regularidade, programamos cada edição antecipadamente e isso nos possibilita um planejamento mais adequado. Às vezes acontece de pintar o “imponderável”. Aí é que temos que nos adequar e buscar meios para resolver o quanto antes. Um desses imponderáveis foi o falecimento do Will Eisner, em 2005, e a edição de janeiro estava fechada e pronta para ser rodada. Interrompemos o processo, refizemos a edição, adicionamos uma HQ póstuma para o Eisner, e criamos uma nova capa. O trabalho foi reconhecido e ganhou como melhor capa daquele ano. É dessa forma que trabalhamos.

Arnaldo Luiz: Acredito que por inúmeros fatores, mas o principal deles, sem dúvida, decorre do fato de nós – do Conselho Editorial da Prismarte: Marco, Milson, Valcir, Marcos Lopes e eu – procurarmos antecipar a programação dos números seguintes sempre que isso é possível. Ao fazermos isso, passamos a ter uma idéia precisa do material que dispomos para publicar, e a partir do conteúdo do miolo, decidimos o visual das capas, as chamadas, etc... levando em consideração a qualidade do material à preferência do leitor. Mesmo assim, procuramos satisfazer possíveis novos leitores, diversificando – de vez em quando – a seleção do nosso material – sem, é claro, trair o atual perfil da revista, evitando, quando possível, cenas de sexo explícito, nudez, palavrões e vulgaridade sem propósito. A meu ver são esses os fatores que mantém a periodicidade da Prismarte.

O Bigorna.net agradece a Milson Marins, José Valcir e Arnaldo Luiz pela entrevista realizada no mês de abril/início de maio de 2007.

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Os Melhores da Prismarte 2006: começou a votação

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