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Entrevista: Samicler Gonçalves
Por Eloyr Pacheco
17/05/2007

O quadrinhista catarinense Samicler Gonçalves tem se destacado no cenário nacional das Histórias em Quadrinhos pela publicação da revista Cometa, produzida e editada por ele mesmo. Samicler tem uma visão bastante clara da sua profissão e sabe muito bem quais são seus desafios. Nesta entrevista, o quadrinhista fala sobre sua profissão, seus gostos pessoais e seus projetos.

Como surgiu seu interesse por Histórias em Quadrinhos? Quais os quadrinhistas que você gosta e que o influenciaram?

Bom, eu nem sei bem em que época surgiu o interesse, mas minha primeira revista em Quadrinhos que li foi em 1981 do Zorro [N. do E.: o capa e espada da Disney]. De lá para cá eu me apaixonei pelo mundo dos super-heróis. Em 1985, comecei a produzir minhas próprias histórias com meus próprios super-heróis, foi nessa época que criei o Cometa. Minha principal influência foi John Byrne, e depois Jim Lee, mas tenho muitos outros que colaboraram com a minha evolução, que se eu for citar certamente cometerei a injustiça de deixar alguém de fora.

E o Cometa: Como foi que você o criou? Qual a primeira HQ que você fez do personagem?

Eu o criei em 30/05/1985 e na época fiz uma história de mais ou menos cinco páginas. Ele lutava contra um robô, mas eu era muito amador naquela época. A primeira HQ completa que fiz do Cometa foi em 1994 que era o encontro com o Lâmina, posteriormente eu redesenhei o encontro em 2003.

Nossa?! Você tem anotado até o dia que criou o Cometa! Deve ter sido um dia muito especial, hein?! Esse material que produziu inicialmente está inédito? Pretende publicá-lo?

Eu nem tenho mais esse material... já botei fora há muito tempo, só tenho a data pelo registro.
 
Ao ler as HQs do Cometa percebe-se que o personagem é muito influenciado pelos comics. Depois de algum tempo você traz alguns super-heróis nacionais que são verdadeiros ícones, como o Raio Negro, a Nova e o Escorpião, quebrando essa linha e incorporando, por assim dizer, um ar nacionalista à revista. Como foi que você decidiu ir por esse caminho?

No início eu não tinha muita noção da divisão que havia entre a nossa realidade e a realidade americana. Com o tempo fui vendo que determinados elementos de nossa cultura podiam ser explorados de forma profissional e criativa. No inicio eu tinha aquela sensação de uma história forçada sem identidade, coisa que hoje eu já não tenho, pois consigo na minha opinião dar uma identidade Brasileira para o Cometa sem perder aquele ar de Herói clássico. Nós somos resultado de uma nação que se libertou de uma ditadura e que perdeu o amor pela Pátria, mas vemos principalmente no inicio de 2000 um levante do nacionalismo, acredito muito no nosso país e acho que logo logo, antes que se perceba, teremos uma realidade muito interessante para os Quadrinhos nacionais.
 
Já está divulgado que na Cometa #7 aparecerão o Crânio e o Lagarto Negro, e na #8 o Topman e o Bucha. Como está a produção destas duas edições?

Praticamente a Cometa #7 está pronta; só faltam algumas páginas para acabar de colorir, e o [Samuel] Bono já está desenhando a Cometa #8. Acredito que antes do fim deste mês vamos ter a edição 7 em mãos juntamente com o Cometa TPB. Achei muito interessante o encontro com esses personagens, permitiu que eu fundamentasse muito mais a realidade do Cometa e o fato de ter esses personagens deu um ar mais legal e atrativo para a revista, acho que temos muita personalidade e boas idéias aqui no Brasil só falta serem exploradas de forma eficaz. Queria ter espaço para fazer aventuras com todos os personagens que têm sido apresentados a mim, mas preciso acertar a cronologia do Cometa senão corro o risco de ter um personagem conhecido, mas não fundamentado.
 
Que outros personagens podemos esperar pela frente?

Só tem mais um encontro na Cometa #9 e não posso contar agora. É surpresa! Da edição 10 em diante será a cronologia normal do Cometa.
 
Como é se auto-editar no Brasil? E o que você acha do mercado brasileiro de Quadrinhos, comercialmente falando.

É difícil, desgastante, às vezes desanimador, pois tem muita gente bem intencionada, a maioria até incentiva, elogia, etc... mas na hora de escolher entre o Homem-Aranha e o Cometa escolhe o Homem-Aranha. Há muito mais interesse pela revista dos novos leitores do que em antigos, de certa forma isso desanima, pois é um processo demorado, de grão em grão. Se os leitores indicassem a outros a revista ou motivassem acho que seria mais rápido, precisamos que as editoras grandes invistam em revistas nacionais, é claro que eles de início não vão ter lucro, mas eles estão tento lucro com as outras, então dediquem uma porcentagem para a produção nacional. Trabalhar para a cultura de início não dá lucro para ninguém, mas os frutos futuros beneficiam a todos, eu que sou um ninguém invisto do dinheiro do meu bolso em uma revista que não me dá retorno financeiro, mas não faço isso pelo dinheiro, faço isso pelo prazer e pelo fato que isso para o futuro será significativo.

Muita gente diz "os Quadrinhos nacionais não tem substância ou qualidade". Eu estava lendo as aventuras do Capitão América da década de 1980 e, por favor, quem já leu sabe que aquilo hoje em dia nem entraria como aventura classe D, mas o engraçado ninguém contesta isso, só contesta o que é nosso. Outra coisa interessante, eles ficam procurando erros de anatomia nos Quadrinhos nacionais, mas não notam que até Jim Lee erra, acho engraçado em alguns sites que tem resenhas ou comentários de revistas, que dizem assim, “a aventura de fulano é legal, mas o roteiro e os desenhos são fraquinhos”, etc, etc... acho isso errado, procurem na aventura elementos para motivar positivamente e não negativamente, se você motivar alguém positivamente ele vai continuar, e evoluir, até chegar no que chamamos profissional (que hoje em dia é um tanto questionável). Agora, se comentarmos negativamente o autor vai se sentir fora do padrão desejado e vai ficar muito menos motivado a continuar, o que na maioria das vezes mata uma nova iniciativa.

Um conselho: compre Quadrinhos nacionais, mesmo não sendo do seu agrado, porque assim você vai estar financiando algo que no futuro será do seu agrado, e melhor ainda, permitindo que tenhamos uma realidade sustentável de Quadrinhos nacionais e emprego para quem gosta de fazer.

O Bigorna.net agradece a Samicler Gonçalves pela entrevista, concedida no dia 10 de maio de 2007.

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