Segundo dados recentes reportados pelo I.B.G.E. (Instituto Brasileiro de Gibis Especiais), um em cada dois artistas nacionais sofre, hoje em dia, da doença provocada pelo vírus “Aedes Demim”, mais conhecida como “Coitadismo”.
Patologia do paciente acometido do “coitadismo” é bastante peculiar, porém, é de fácil percepção. Em primeiro lugar, o “coitadinho” (termo vulgar usado pelos residentes do curso de fármaco-psicologia, mas que se tornou comum após ter sido indevidamente usado em uma propaganda – hoje recolhida e proibida – do governo federal) culpa o mundo inteiro por não ter o seu trabalho e o seu talento reconhecido, ele não costuma fazer uma autocrítica e nem dá ouvidos às críticas de terceiros. Por causa disso, não identifica possíveis (e alguns certos) erros e imperfeições em seu trabalho e, nessa cadeia de seqüências, não evolui como artista.
O “coitadinho” também se vale de seu estado clinicamente desfavorável como desculpa para a preguiça (física e mental), o conformismo, para a negação de sua responsabilidade, para com a involução de seu trabalho e emula, psicologicamente, um pseudo-consolo para justificar, camuflar, alimentar e perpetrar as próprias limitações e erros. Esse tipo de enfermidade cria ilusões de que tudo deveria ser dado sem o menor esforço, bastando, para isso, apenas que o doente desejasse algo. Como conseqüência disso, o paciente passa a viver seus dias num estado rancoroso, reclamando de tudo e de todos pela sua má sorte – a qual, obviamente, ele atribui a todos, menos a si mesmo.
O indivíduo que sofre do “coitadismo”, desenvolve, ainda, uma empatia natural com o miserável, o pobrezinho, o sofredor e alimenta um repúdio primitivo àquele que consegue vencer, chegar lá, ser considerado o melhor. Um exemplo comum do que mencionamos aqui é quando alguém consegue entrar para o mercado. Os “coitadinhos” procuram logo depreciar a pessoa que conseguiu se sobressair com comentários do tipo “ele se vendeu ao sistema” ou “mercenário e capitalista” ou ainda “seu trabalho se tornou pobre, comum e comercial”, além de muitas outras coisas do gênero. O “coitadinho”, portanto, não só acha que não tem condições de crescer às custas de seu próprio trabalho como ainda espera que ninguém mais também o tenha.
Mas uma boa notícia para quem sofre desse mau é que, muito embora ainda não exista uma vacina que extirpe a doença por completo, foi descoberta uma profilaxia que vem surtindo excelentes resultados nas pessoas que se propuseram a testá-la: TRABALHAR! O “coitadinho”, quando se debruça sobre o seu próprio trabalho esganiçadamente, consegue, com o tempo, curar-se de todos os sintomas da doença. Mas, repetimos, o “coitadismo” ainda é uma doença sem cura e o paciente não pode se descuidar sob o risco de voltarem todos os desagradáveis – para si e para os outros – sintomas.
Por isso, se você já sentiu alguns dos sintomas aqui apresentados, não se envergonhe – o “coitadismo” é um mal silencioso que acompanha os artistas brasileiros há várias gerações – mergulhe em seus projetos e trabalhos, lute, acredite em seu potencial, celebre as vitórias de seus patrícios de ofício, procure dar ouvidos às críticas que possam melhorar o seu trabalho e, acima de tudo, não espere, através de lamúrias, que todas as coisas lhe caiam dos céus: vá atrás de seus ideais! Somente assim, poderemos combater o mal dessa doença que corrompe milhares de artistas talentosos em todo o país.
(Ilustração: Gerson Witte)