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Por Matheus Moura 03/05/2007 Nascido em 1962 em São Paulo, Francisco A. Marcatti, ou apenas Marcatti (foto ao lado), como é mais conhecido, aos 15 anos já se enveredava pelo campo das HQs, tendo publicado na revista Papagaio - editada por Paulo Monteiro, com colaboração de Nando Reis, Marcelo Fromer entre outros - sua primeira história. Alguns anos depois (em 1979) contribuiu com a revista Boca #4, editada por Dagomir Marquesi; com isso não parou mais. No ano de 1980 comprou uma impressora off-set e fundou a Editora PRO-C, onde publicou a maioria de seus materiais. Depois de inúmeras revistas publicadas e editadas, contribui também com a cena musical ilustrando diversas capas de discos como RxDxPx (Brasil), Ed Motta (Entre e Ouça - parceria com Edna Lopes), Urbanoise 2, A Volta ao Mundo em Oi!Tenta Minutos, Suzana Alves, dentre vários outros. Para começarmos vamos direto à novidade, como foi a construção do álbum A Relíquia? Você adaptou os textos ou usou o original só acrescentando imagens? Eu adaptei. Reconstruí a obra original com a mesma mecânica que utilizo para fazer as minhas HQs. Depois de ler o livro inteiro, fiz um resumo por escrito. Mas um resumo mesmo! "Esmaguei" o livro todo em uma única frase com pouco mais de 20 palavras para depois reconstruir como se a idéia original fosse minha. À medida em que as cenas iam evoluindo, eu então me voltava ao livro para buscar as referências cronológicas da obra. Essa foi a solução que achei para transpor longos períodos de texto em cenas e seqüências que funcionariam melhor em Quadrinhos. Qual foi a maior dificuldade em fazer uma adaptação do porte de A Relíquia, que tem como autor nada menos que Eça de Queiróz? Eu nunca havia lido nada de Eça de Queiroz. Fiquei muito impressionado com a força e contundência da história. Mas confesso que, no início, eu tive essa preocupação e esse receio em manipular um clássico de um autor tão importante. Mas, eu acho que a forma que eu utilizei para adaptar a obra, destruindo e reconstruindo o texto, me deixaram mais à vontade. O que de fato deu muito trabalho foi a redação final. Eu não queria que a leitura soasse nem "portuguesa" nem "brasileira" demais. E é bem diferente como se fala em Portugal e no Brasil. Felizmente, a Conrad tem uma equipe de revisão extraordinária e isso foi fundamental. Nunca aprendi tanto nossa língua do que fazendo A Relíquia. Depois do álbum Mariposa (também lançado pela Conrad), já começou a negociação com a editora para o próximo, ou foi algo inesperado? A intenção partiu de você ou da Conrad, em fazer essa adaptação? Logo que entreguei os arquivos da Mariposa, comecei a desenvolver o roteiro de uma nova história. Mas, nesse período e inspirado por alguns trabalhos do Hunt Emerson, conversei com o pessoal da Conrad e comentei minha intenção em adaptar um livro para os Quadrinhos. Eu tinha outra coisa em mente. A sugestão de fazer A Relíquia partiu da Conrad. O Alexandre Linares me mandou uma edição resumida da obra para que eu avaliasse. Foi foda! A história é fascinante. Só espero que eu tenha conseguido passar para a HQ a acidez do Eça. No livro Mariposa, a introdução fala sobre processo criativo e ao final do livro a cena em que se encontra o personagem principal é semelhante a descrita na introdução. O personagem central tem algo de você ou vice-versa? Não há qualquer ligação entre a personagem central do livro e eu. Apenas aconteceu de que a forma que a história se desenrola na vida do sujeito tem a mesma forma como eu crio minhas histórias. Achei que seria uma boa brincadeira reforçar isso. No conceito original da história, a personagem começava por lamentar a ironia de ser vítima do destino ao mesmo tempo em que ele jamais acreditou no destino. Na redação final, decidi entortar um pouco as coisas enriquecendo sua fala com uma espécie de confissão minha de como crio minhas histórias. É quase um "making of" disfarçado. E a sua relação com a Conrad, como começou, já há novos projetos pensados para o futuro? Minha relação com a Conrad tem sido bem positiva. Eles fazem um excelente trabalho de edição e divulgação dos livros. Tratam meu trabalho com muito respeito e profissionalismo. Projeto para o futuro é esse roteiro no qual estou trabalhando. Nesses últimos meses foi lançado o jogo para PC Solange, baseado em sua personagem homônima. O jogo é totalmente original ou ele tem como base a história, Solange – A enfermeira, feita em 2001 em CD-ROM? Como tem sido a aceitação do jogo no mercado? Na verdade, o jogo Solange é o mesmo que foi lançado em 2001. Acontece que foi editado pela Escala e ficou 30 dias nas bancas. Todo o material recolhido foi para a fornalha. Muitas pessoas ficaram sabendo da Solange mas não compraram na época. Peguei os arquivos originais e só reformulei para que ele pudesse rodar no Windows XP. De fato, o que fiz foi atualizá-lo, mas é o mesmo jogo lançado em 2001. Jogos para computador sempre foram a minha tara. O problema é que são infinitamente mais complicados de desenvolver do que uma HQ. Talvez pelo fato de que faço 90% do trabalho sozinho... Sobre a sua editora a PRO-C, me parece que ela deu uma parada, ou estou enganado? Frauzío, talvez seu personagem mais conhecido, anda sumido; a produção de suas histórias chegaram ao fim? Histórias próprias contendo o mundo criado por você vão voltar a ser lançadas? A PRO-C não parou, não. Meu foco é lançar os trabalhos inéditos pela Conrad deixando para minha editora o lançamento de projetos mais específicos. Exemplo disso é que, depois do lançamento do Mariposa, saiu pela PRO-C o Creme de Milho com Bacon em 3-D. A tiragem de 100 exemplares já esgotou e já estou pensando em reeditá-lo. O Frauzío é um fenômeno interessante... Eu nunca havia criado uma personagem de fato. O Frauzío me mostrou como é divertido desenvolver tipos. A gente faz um boneco do nada... Pega um papel e faz um rabisco qualquer... Dá um nome pra ele... Faz umas histórias... Pronto! O cara toma vida. Há dois anos que não faço uma história do Frauzío e sinto como se ele me cobrasse isso. Ele tem vida própria e me "assombra". Sinto como se eu tivesse obrigação de criar novas histórias para ele. O que é do caralho, é que não sinto essa pressão de ninguém. Quem pressiona é o próprio Frauzío! Eu não entendo isso... Porra, eu fiz ele! Poderia ter feito outra coisa qualquer! Mas, pronto, eu fiz o Frauzío e agora ele existe. E manda em mim. Isso é muito legal! Não tenho nada roteirizado para ele, mas já estou negociando a publicação de todas as histórias do Frauzío reunidas em um único livro. O foda é que são mais de 300 páginas de suas aventuras. Quanto a novas histórias, apesar de não ser uma desventura de Frauzío, já estou trabalhando em um roteiro para 140 páginas e espero que seja lançado no princípio do ano que vem. A respeito da alcunha de o mais importante autor de Quadrinhos undergrounds no Brasil, como é carregar este "fardo"? É meio engraçado... Geralmente esses adjetivos são associados a autores que já estão trabalhando há anos. Eu me sinto um iniciante. Olho para o meu trabalho com ressalvas e vejo o quanto eu ainda tenho que aprender para que eu possa sentir-me amadurecido. Este ano, precisamente em agosto, você completa 30 anos de carreira, haverá algum evento em comemoração de data tão importante? Trinta anos! E eu ainda não aprendi a fazer esse negócio direito!... Em agosto de 1977, a revista Papagaio publicou minha primeira HQ. Estou pensando em fazer uma mostra do meu trabalho, sim. Talvez eu chame a exposição de "Não há limite para a teimosia"... O Bigorna.net agradece a Marcatti pela entrevista |
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