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Bill Tytla, o mago da animação que desenhou ciganos...
Por Bira Dantas
30/04/2007

...demônios, elefantes, marujos e menininhas danadas

Bill Tytla no traço de Bira

Estava voltando de São Paulo com a Thaís, minha filha de 7 anos, quando paramos na estrada para fazer um lanche. Mas os nossos olhares foram atraídos por uma grande Banca de Revistas. Sempre gosto de espiar essas bancas grandes, lotadas de revistas em Quadrinhos, mas foi um DVD que acabou chamando minha atenção: Gasparzinho e Gato Félix, além de Little Audrey. Quase gelei quando vi que a aqui conhecida Tininha era a da fase desenhada por Bill Tytla. Perguntei se minha filha queria ganhar aquele DVD (claro, os filhos são sempre a desculpa). Torci para ela topar. E topou! Ela tem bom gosto (parece que puxou a mim - rs) e aceitou o desenho clássico, em meio a inúmeros lançamentos mais comerciais.

Por apenas R$ 9,90 pude fazer uma viagem ao passado, à década de 70, quando vinha visitar os parentes em Sampa e podia me deliciar com um mundo animado que não aparecia nos poucos canais cariocas de TV da época. Essa raridade faz parte da fantástica série Movie kids, lançada pela Works editora, que traz vários episódios da Betty Boop, Pernalonga, Cupidos do Barulho, Popeye, Huguinho e outros personagens da Harvey. Pedidos através do site da editora.

Eu, que já era fã do estilo neo-impressionista deste filho de ucranianos, fiquei doido com a recente descoberta e resolvi pesquisar mais sobre a vida de Vladimir (Bill) Tytla. Ele nasceu em Nova Iorque em 1904 e foi um dos mais originais animadores dos estúdios Disney. É considerado por muitos como o melhor animador da Era de Ouro. Nos estúdios dos irmãos Fleischer, ele dividia a direção de desenhos com Seymor Kneitel.

Como a carreira se iniciou
Em 1914 (Tytla tinha 9 anos) ele visitou Manhattan e assistiu ao filme de animação de Winsor McCay: Gertie, o Dinossauro. Isso mudou sua vida para sempre. Em 1929, foi para a Europa estudar pintura e escultura com Charles Despiau. Voltou para os EUA e, em 1934, saiu do Terry Toons e entrou para os estúdios Disney, onde se tornou o animador mais bem pago. Animou os 7 anões em Branca de Neve, o cigano Stombolli em Pinocchio, o mago em Aprendiz de Feiticeiro e o demônio em Fantasia.

A greve
Tudo ia bem até o dia em que ele liderou mais de 300 empregados do estúdio Disney numa greve de mais de 2 meses. Apesar de seu alto salário e de ser considerado um funcionário de confiança da empresa, ele era um artista engajado e solidário e não ficaria de fora de um movimento que beneficiasse a maioria dos colegas: "Sou a favor da união dos companheiros, eu entrei em greve, pois meus camaradas estavam em greve. Eu apoiava seus pontos de vista, mas não faria nada contra Walt".

Os "Nove Velhos" da Disney (clique na imagem para vê-la ampliada)


Depois disso voltou ao estúdio, mas nada foi como ates. A era de Ouro havia acabado: "tinha muita tensão e eletricidade no ar, a intuição e instinto que norteavam os trabalhos acabara". Tytla animou um bebê aviãozinho e Zé Carioca em Alô, Amigos!. Percebeu que não era bem vindo no estúdio Disney e saiu de lá em 1943, do que se arrependeu pelo resto da vida. Deixando o estrelato para os conhecidos “Nove Velhos”.

A volta por cima
Voltou para Terry Toons, na Paramount/Famous Studios, onde dirigiu vários curtas do Popeye, além de Luluzinha e Tininha. Com David Hilberman (Tempo Productions) fundou o Estúdio de animação UPA, onde produziu alguns filmes na técnica stop motion. Em 1964 animou The Incredible Mr. Limpet com o peixe Don Knotts. Nessa época, ficou doente e a animação foi terminada por Bob McKimson, Hawley Pratt e Gerry Chiniquy. Sofreu alguns derrames que o deixaram cego do olho esquerdo. Em 1967, o convidaram para a abertura da Exibição Mundial do Cinema de Animação em Montreal.

Homenagem e fim melancólico
Quando acabaram de apresentar o desenho Dumbo, como uma homenagem aos pioneiros, anunciaram a presença do “grande animador”. Tytla foi localizado pelos holofotes e a platéia veio abaixo em aplausos. Ele ainda tentou regressar, em 1968, enviando algumas propostas às produções Disney, mas o vice-presidente W.H. Anderson rejeitou sua oferta dizendo "Nós só temos produzido o que tem sido criado pelo atual grupo". Vladimir Tytla morreu em sua fazenda em 31 de Dezembro de 1968.

Três meses depois de sua morte o diretor da Disney, Wolfgang Reithermand, respondeu por carta: "Sinto muito dizer que suas idéias não condizem com nossos projetos atuais... Não esquecemos que você está ansioso para animar por aqui, mas... nós mal mantemos nosso time de animadores ocupados.”

Agradeço à Thaís por me refrescar a memória e me propiciar escrever este artigo!

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