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Resenha: Valentina 65-66
Por Matheus Moura
30/04/2007

Concorre ao Troféu HQ Mix deste ano, na categoria Publicação Erótica, o álbum lançado pela Conrad Valentina 65-66 (144 páginas, formato 21 x 27 cm, R$ 55,00), de Guido Crepax, italiano que hoje é conhecido como um dos mestres das HQs eróticas. A primeira coisa que nos chama atenção neste álbum é a capa de plástico que o envolve. Não há como não ser o objeto de destaque da prateleira onde se encontra.

Nessa coletânea de histórias que vão de 1965 a 1966, é bem perceptível a evolução dos traços do autor. Na primeira história, A Curva de Lesmo, ele já possui seus traços característicos que fizeram tanto sucesso, apesar de aparentarem simplicidade e vez por outra pecarem na questão anatômica, principalmente nos rostos, tendo esses por vezes deformados, quadradões, feios mesmo. Este aspecto logo é melhorado com o passar das histórias, apesar de não ser mostrado todo o potencial do autor neste álbum.

O aspecto mais marcante de Crepax, entretanto, são seus enquadramentos e o clima intelectualizado que ele dá ao ambiente em que vivem os personagens, geralmente artistas plásticos, filósofos, etc. Na questão dos enquadramentos, em todas as histórias, A Curva de Lesmo; Olá, Valentina; Sogno e Os Subterrâneos, há a experimentação de planos e formas na criação dos quadros, o que impõe a dinâmica de narrativa “crepaxiana”, a qual nos “obriga” a ler e reler determinada seqüência de ação para termos outra perspectiva dos acontecimentos.
 
Porém, com relação ao erotismo desta edição, este ficou a desejar. É difícil caracterizar, este álbum em especial, como sendo erótico, pois somente Sogno tem um clima realmente erótico no ar. Nas outras, poucas vezes é traçado o caminho de Eros. As tramas têm como elemento principal as investigações de Neutron, um crítico de arte que se chama, na verdade, Philip Rembrandt; Neutron é o nome ao qual ele se identifica quando está em uma investigação. O personagem ainda possui o dom de paralisar homens e máquinas de mecanismos simples apenas com o olhar. Ao final do livro é explicado o porquê do dom de Neutron.

É interessante observar nas histórias características próprias da época em que o autor criou a obra, como, por exemplo, a máquina fotográfica usada por Valentina em sua primeira aparição, os carros de Formula 1, as idealizações do autor de aparatos de investigação como microcâmeras atômicas e coisas do gênero. Na parte da narrativa também há elementos típicos da época, como apontar setas a determinado objeto para dar destaque e os “inevitáveis” clichês. Na questão da narrativa, para mim a que tem o maior problema é a última, Os Subterrâneos, muito “viajada”, com elementos por demais inverossímeis, os quais acabam por prejudicar a credibilidade do relatado, sem falar que vez por outra há problemas com passagens de tempo, o que acaba por confundir.

Na parte gráfica este álbum é impecável, um grande trabalho da editora, a começar pela capa plástica já mencionada. Antes das histórias há ainda um texto de Renato Pallavicini, publicado originalmente no jornal, L'Unità, por conta da morte de Crepax em 2003. Já ao final há um glossário dos termos usados na última história. Algo que a editora poderia ter tido um cuidado de explicar, é o fato da coletânea ser chamada Valentina 65-66 e possuir uma história completa assinada por Crepax nos quadros com data de 68; além de ter, em histórias que iniciam assinadas em uma data, 65 ou 66, quadros de 68 no meio delas. Falha pequena, mas que vale ser comentada.
 
Para os que não conhecem os trabalhos de Crepax, é chegado o momento de começar pelo início. Aos que já conhecem, este é um álbum de luxo que deve ser figurado na coleção. Além do que, a editora promete dar continuidade na saga de Valentina em ordem cronológica; é esperar para ver.

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