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Resenha: Cão #0
Por Eloyr Pacheco
26/04/2007

Quando recebi a revista Cão #0 julguei o conteúdo pela capa. Pensei ser mais uma publicação onde os desenhistas apresentariam seus Quadrinhos no estilo mangá, sem fazer nada de diferente, ou inovador. Eu estava enganado. A capa, assinada por Marcelo Manzano, - comentei isso pessoalmente com o Harriot Junior, editor e roteirista de todas as HQs da Cão, e ele concordou comigo -, não “vende” o conteúdo da edição, não prepara o leitor para o que está por vir. Talvez uma capa mais hermética fosse mais adequada para a publicação que tem histórias com roteiros bastante inteligentes e que levam o leitor, às vezes, a reler e prestar bastante atenção nos diálogos e detalhes da arte. Uma publicação independente pode e deve ousar, não cair no lugar comum, pois além de ser um “laboratório” (pelo menos é assim que penso) não tem o compromisso de ser uma publicação que deve atingir milhares de leitores e, sim, o seu nicho, seu segmento.

Cão #0 publica seis HQs, todas com 4 páginas: West x East, com arte de Marcelo Manzano; Ajisai, com arte de Ko Ming; Kogane-Gumo, desenhada por Hervilha Filippelli; Kumo Gassen, ilustrada por Rodrigo Taguchi; Sonezaki Shinju, com desenhos de Amanda Hayná, e O Espelho, ilustrada por Camila Torrano. Cada uma delas tem suas peculiaridades e estão muito bem resolvidas. Sem diálogos, West x East mostra o embate entre os estereótipos típicos dos Estados Unidos e do Japão, o cowboy e o samurai. Como esta HQ não tem texto, Marcelo Manzano resolveu os planos e os movimentos de maneira consistente e de forma que prendem o leitor a cada quadro. As linhas de ação e movimento estão muito bem utilizadas. A arte de Ajisai é esforçada, mas Ko Ming ainda não tem a facilidade de que o artista precisa para executar seu trabalho, falta ainda um pouco mais de estudo de anatomia. Há um movimento na segunda página desta HQ (quando o Oni atira sua clave no seu adversário) que não convence. O ponto alto de sua arte é o acabamento e a aplicação de retículas.

Hervilha Filippelli saiu-se muito bem na arte pintada que utilizou em Kogane-Gumo. Apenas um escorregão na narrativa da última página onde não consegue dividir melhor os quadros para contar a história, mas nada que lhe tire o merecido elogio pelo esforço e pelo trabalho, que deve ter sido grande e demorado. Gostei muito da colagem e da utilização de recursos de computador para inverter algumas imagens feita por Rodrigo Taguchi em Kumo Gassen. Uma experiência válida para a edição. Amanda Hayná promete muito, mas não nesta HQ, Sonezaki Shinju, onde a necessidade de muitos quadros por páginas atrapalham o leitor a admirar seus desenhos, especialmente os rostos dos personagens bastante expressivos. Também merece destaque sua aplicação de retículas e de tons de cinza. Em O Espelho Camila Torrano demonstrou personalidade com um traço forte e firme. Bom encerramento para a Cão #0. Quero ver logo o próximo número sendo distribuído!

A edição está bem impressa, embora o papel da capa seja um pouco inferior e absorva facilmente a umidade deixando-o um pouco ondulado. Editorialmente, senti falta de um glossário ou, pelo menos, uma tradução dos títulos em japonês.

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