NewsLetter:
 
Pesquisa:

Era uma vez no gibi
Por Laudo Ferreira Junior
19/04/2007

Sou de uma época em que a molecada ia aos cinemas se divertir com filmes de aventura, Kung-Fu - ou melhor, Bruce Lee - e principalmente "bandido e mocinho". A molecada saía dos cinemas completamente alucinada, dando chutes e tiros pro ar. Bang! Bang! Pow!! Molecada é fogo!
          
Olha, não sou saudosista e fujo destas coisas do tipo “ah, como era bom!!”. Olho pra frente. Porém, com tanta violência hoje em dia sendo escarrada em nossa cara, estes velhos filmes - vistos hoje - parecem filmes ingênuos. E são, claro. Exatamente, onde os vilões são vilões, não traficantes, nem políticos corruptos, nem coronéis latifundiários que mandam matar por qualquer desavença, nem bandidos drogados que matam com requinte de crueldade sem nenhum sinal de remorso e os heróis... bem, os heróis são heróis na acepção da palavra: íntegros, justos, dispostos a dar a vida por uma boa causa.
           
Piada. Isto hoje em dia é careta. Passado. Ridículo. Hoje, em nosso dia a dia, o herói do passado virou burocrata, homem de conchavos, manipulações. Integridade. Bom, na boca do poeta é sempre bonita palavra, então vale pra um discurso. Muita gente deve se lembrar do filme Era uma vez no oeste do mestre Sérgio Leone, com Charles Bronson (novo, antes de ter intermináveis Desejos de matar), Henry Fonda (fazendo seu único papel de vilão em toda sua carreira) e a lindíssima Claudia Cardinale. Um clássico do cinema mundial, do faroeste, embalado por uma magnífica e definitiva trilha do grande Ennio Morricone, trilha esta que por sinal, é um personagem a mais na história do filme.
         
Pois bem, na seqüência final, vemos o cowboy solitário e sem nome (o próprio Charles Bronson) ir embora, desaparecendo na poeira do oeste deixando para trás a construção de uma ferrovia. Viva, repleta de gente cheia de esperança. O futuro chegando o passado dando adeus. Arrebatador final de uma belíssima e melancólica poesia. O gênero western, ou faroeste hoje em dia, não está entre gêneros prediletos da nova geração, mas sem dúvida  ainda tem seus fãs, logicamente por trazer tudo isso que comentei no início ou resumidamente falando um bom entretenimento e nada mais. Quer melhor?

Cowboy na caça do pistoleiro Billy The
Kid no traço de Adauto Silva (clique na imagem para vê-la ampliada
)

O mito do bandoleiro William Bonney, mais conhecido como Billy The Kid, serviu como ponto de referência principal de partida para o desenhista, roteirista e editor independente Arthur Filho criar sua revista Billy The Kid, lógico, homenageando o mito e o gênero do faroeste, publicada pela sua editora, Opção 2. Billy The Kid ainda hoje é um personagem polêmico, muitas histórias se conta a seu respeito. Mas é inegável sua astúcia, coragem e seu senso de humor, motivo aí de muitos “causos” a seu respeito. Como diz o próprio Arthur, a sua revista não pretende fazer nenhuma apologia ao banditismo, nem ir atrás do personagem real, histórico. Nada disso, ele só quer divertir, entreter e isso é muito bom.
         

Arte para a contracapa da edição número 4 de Billy The Kid feita pelo mestre Shimamoto (clique na imagem para vê-la ampliada)

A revista desde o seu início foi apadrinhada por um cara de peso, Júlio Shimamoto, que vem colaborando com HQs, capas e contracapas, sempre com seu estilo inconfundível, moderno e irrequieto. Além de um time de desenhistas de primeira, como Adauto Silva, Sandro Marcelo, Márcio Sennes, Eddie Bezerra, Hélcio Rogério, entre tantos colaboradores, além do próprio pai da criança, Arthur Filho. Uma das melhores coisas nesta revista, que já está no número 4 é o jeitão brasileiro de se contar as histórias, sempre tendo o jovem pistoleiro como protagonista (além de eventuais HQs com outros personagens), com cada desenhista mostrando sua versão do universo do faroeste. Traços, estilos, diversificados com a satisfação de contar uma boa história de bandido e mocinho. A publicação é trimestral, custa cinco reais e o número 5 deverá sair agora início de maio. E é só entrar em contato com o Arthur por carta: Rua Espírito Santo, 232/02 - CEP 90020-370 - Porto Alegre–RS ou via e-mail: arthur.goju@bol.com.br 
         
Uma historiazinha curiosa. Certa vez, há alguns anos, conversando com uma tia que mora no interior, uma senhora quase setentona, casada, mãe de dois filhos e avó de alguns netos, dizia admirar muito quem faz trabalha com desenho (sim, a figura em questão era eu) e aí, muito sem jeito, envergonhada me confidenciou: “Você sabe o que eu adoro ler, Junior?” (O Junior sou eu, fazer o que...), continuou: “Gibi do Tex!”. “Tex, tia?! Aquele gibi de cowboy?” perguntei-lhe numa questão redundante e surpreso, pois era a última pessoa que esperava saber ser fã de Quadrinhos. “Isso mesmo! Venha ver minha coleção!”. Em seguida ela me conduziu a uma dispensa em sua grande casa e mostrou-me um armário recheado de várias edições do cowboy italiano do Bonelli. “Que legal, tia! O Tex é muito bom!” lhe disse um tanto entusiasmado e feliz pela descoberta deste outro lado da minha tia. “Ah, Junior, é muito bom. Eu me divirto lendo estas histórias!”.
       
O prazer de ler e nada mais. O prazer de fazer e fazer os outros se divertirem. Não há mais nada melhor.

 Do mesmo Colunista:

Fazendo sem olhar para o vizinho

Mas aonde é que foi parar Jesus mesmo??

Quem Somos | Publicidade | Fale Conosco
Copyright © 2005-2024 - Bigorna.net - Todos os direitos reservados
CMS por Projetos Web