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Por Matheus Moura 16/04/2007 Para começarmos cito Lucrécia D'Aléssio Ferrara, “...o objeto se descaracteriza das suas marcas quotidianas, para assumir a dimensão artística que não o auratiza, mas o impõe à atenção na concreção da formula de que a arte é, antes de tudo, percepção duradoura e estranha do quotidiano” (A estratégia Geral dos Signos, pág. 108). Separei este trecho para explicitar o que percebi com relação a Graffiti 76% quadrinhos, desde que a vi (há alguns anos), incluo aqui a número 15; edição mais recente desta revista que faz de si mesma um objeto artístico. Quando digo que a revista se faz objeto artístico é justamente por ela ter o conceito apresentado por Lucrécia na citação acima - de cenas quotidianas; a começar pela capa; o “Leão Marinho” deitado na praia; às imagens na seda de Isabel Nigri; o ensaio fotográfico retirado do projeto Cinema no Rio – 3ª edição de 2006, com fotos de André Fossati, e textos com depoimentos dos moradores da região; e claro, as próprias Histórias em Quadrinhos. A revista usa o dia-a-dia para construir sua narrativa singular e apresentar ao leitor uma visão própria, imperceptível aos menos atentos. Isso vale não só para a composição gráfica da revista. A primeira história trata de um sentimento comum à maioria das pessoas – para não dizer de todas – que é o amor. Talvez o sentimento mais ansiado pelos homens (e bem mais pelas mulheres), mas que muitos não sabem lidar com ele. Neste percurso de entender e perceber o amor é que o personagem principal de Amar é..., de Guga Schultze, caminha. Em seguida há Morte Encomendada e Mal Paga, de Luciano Irrthum, que também aborda o quotidiano de uma maneira singular, com traços carregados, sujos e personagens estilizados. Dando continuidade às estilizações temos Barroco, de Daniel Caballero, um exercício de narrativa textual, já que na questão da imagem foi trabalhado o conceito de vitrais de igreja, o qual faz a quadrinização ser através de uma imagem só, que é dividida em vários quadros. Os traços lembram uma mistura de Flávio Colin e Robert Crumb. Rotina II, com texto de Luciana Borges e fotos de Piero, não é uma HQ; esta é outra parte da revista que está incluída nos 24% de não Quadrinhos. A rotina abordada é de um morador de rua que estava de passagem por BH. Curva do Rio ou A Despedida do Barqueiro Josué, de Evandro Alves, é feita com traços simples e uma narrativa que explicita bem a forma de pensar de Josué – interessante - porém a história dele é muito similar à contada pelo morador de rua de Rotina II, deu uma impressão de pleonasmo. Sai-Sangue, de Sylvio Ayala, é a história mais séria da revista, aborda a guerras do século XXI no oriente médio e a situação política da região. Tudo feito com colagens e alguns desenhos. Texto preciso, informativo e com opinião. Quase uma reportagem em Quadrinhos. Para finalizar as HQs, há a mais comum de todas, uma releitura do conto de Hans Christian Andersen (1805-1875), A Menina dos Fósforos, adaptado por Phabiano, com traços simples e até infantis. Fecha a revista mais uma seda de Isabel Nigri. Graffiti 76% quadrinhos (formato 21 x 28 cm; p/b e cores; 62 páginas ao preço de R$ 10,00) é uma revista única no país, com uma proposta que destoa das outras publicadas em solo nacional. Uma publicação feita para ler e reler. Uma pena não ter uma periodicidade fixa. Pode ser adquirida pelo email graffiti@graffiti76.com através de depósito bancário. Para conhecer todo o projeto que envolve a revista, acesse seu site oficial. Altamente recomendado, vale a pena.
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