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Resenha: Adolf
Por Matheus Moura
03/04/2007

O tema não é novidade, Segunda Guerra Mundial, expansão do nazismo, perseguição aos judeus, etc. Por outro lado a execução é sublime. Osamu Tezuka, conhecido em seu país como “deus dos mangás” faz jus a sua alcunha na série Adolf (264 páginas, formato 14 x 21 cm, R$ 27,90), publicada pela Conrad do final de 2005 à meados de 2006 em cinco volumes bimestrais e originalmente editada entre 1983 e 1985.

A narrativa gira em torno de três xarás de nome Adolf Kaufmann, Adolf Camil e Adolf Hitler. E não é só pelo nome que estão ligados; de uma forma ou de outra o caminho deles irá se cruzar. Essa é até a premissa da argumentação de Tezuka: todos os personagens, por menores que sejam, acabam por cruzar caminhos impensáveis que os levam a situações nada esperadas. O emaranhado (uma verdadeira teia, muito bem demonstrada no início do volume 4) é feito de forma perfeita, não há brecha na argumentação do autor. Todos (não me lembro de nenhum que não) os fios dessa teia são tecidos de maneira coerente e crível; não há um que nos leve a pensar que “isso é forçar barra”.

A história tem início com a narração de Sohei Toge, jornalista que no começo está como correspondente na Alemanha cobrindo as Olimpíadas de Berlin de 1936. Toge possui um irmão no país que é assassinado por motivos suspeitos – mais tarde saberemos que é por conta de um estranho documento que supostamente provaria que Hitler é descendente de judeus. Isso, durante seu tempo de correspondente na Alemanha, o que o motiva a buscar respostas sobre as dúvidas a respeito do assassino de seu irmão. Enquanto isso no Japão, dois Adolfs se conhecem: Camil, que é judeu, e Kaufmann, mestiço de japonês com alemão, sendo o pai um oficial nazista da inteligência. O judeu protege o aspirante a nazi de um ataque de crianças locais que o descriminam por ser estrangeiro, assim nasce a amizade dos dois.
 
Além da teia de relações já mencionada, há o crescimento e formação de cada personagem no decorrer da história. Nos é apresentada toda a mudança de personalidade de Adolf Kaufmann por ele passada na época de estudante da Hitlerjugend (academia, ou melhor, uma espécie de escola para formação de oficiais nazistas) até sua idade adulta. Não é diferente com relação a Camil e muito menos com o próprio Hitler. Interessante quando o autor se mostra na obra ao indagar algumas questões sobre o pensamento nazista ou mesmo quando comenta sobre a conduta publicitária do Terceiro Reich, esses momentos são feitos por intermédio de Toge.
 
Na parte gráfica os traços de Tezuka são bem característicos, apesar de serem mais sóbrios que outros trabalhos cultuados do autor, por exemplo, Astro Boy ou mesmo Buda (também lançado pela Conrad). Vez por outra o autor incrementa a arte com elementos que fazem referência a trabalhos antigos, criando assim um retorno na memória do leitor a respeito de sua produção de mangás e animês. Característicos dos mangás são os enquadramentos dados por Tezuka à obra, muito bem propostos e dinâmicos, o que aumenta a dramaticidade da história. Outro recurso gráfico muito utilizado é a metalinguagem por “extrapolação do enquadramento”, que consiste nas imagens que ultrapassam as linhas de um quadro e se inserem em um ou mais fora o seu.

Ao final dos cinco volumes totais da história há os únicos textos extras retirados de publicações japonesas. Estes textos são escritos pelo próprio Tezuka a respeito de Adolf, sua criação, republicação, intenção e processo criativo. Durante a série, no decorrer dos capítulos, há uma tabela que discorre sobre os principais acontecimentos de determinado ano em que está a trama. Essa tabela é dividida por datas e faz um paralelo do mundo com o Japão reforçando o caráter histórico da obra.

Na parte física o acabamento é muito bem feito, papel de boa qualidade, número de páginas consideráveis e capas muito bem feitas com fotos reais que retratam bem o período de cada volume. Em poucos momentos repara-se em erros ortográficos, nada sério, porém poderiam ser evitados. Em suma, esta é uma daquelas obras que precisam figurar na estante de qualquer amante dos Quadrinhos. Não só pelo autor, mas por tudo que está envolvido, desde a época, história, o tratamento, criação, execução, etc. Uma verdadeira aula, sem mais.

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