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Por Leonardo Santana 26/03/2007 A revista Garagem Hermética #2 começa com uma HQ curta escrita por Heringer e desenhada pelo Bira, intitulada Vida e Morte. Os desenhos de Bira são excelentes, mas a história, que mostra um motoqueiro linha-dura a favor da pena de morte, talvez por ser curta, não se desenvolve bem. Ela corre e se atropela, não detalhando mais os argumentos do personagem principal e deixando o final um pouco vago. Eterno, de Rodrigo Alonso e Felipe Cunha, é um prólogo que apresenta um jovem com uma visão bastante crítica em relação à superficialidade de nosso mundo e, ao contrário da primeira HQ, se desenvolve muitíssimo bem e os desenhos são competentes, o que permite classificar o Felipe Cunha como uma promessa futura no nosso meio. Cidade Kemel: A história do porvir, escrita por Luciano Vieira e ilustrada por Patrícia de Almeida, conta, em forma de manchetes de jornais através dos anos, a galopada da violência na cidade de Kemel e o catastrófico destino para o qual a cidade caminha. É um excelente exercício narrativo e é uma história muito interessante, apesar das ilustrações serem bastante simples. Já A desencarnação de Stella Schunk, escrita e desenhada por Fabiano Gummo, segue uma linha narrativa que, na minha humilde opinião, afasta os leitores ao invés de atraí-los. É uma daquelas HQs minimalistas onde a arte (e quando falo em arte, não falo nos desenhos) parece importar mais que o conjunto em si. Uma espécie de viagem do próprio autor onde temos arte, poesia, história, mas, de alguma forma, nada parece estar funcionando em harmonia. Seguimos na análise do Garagem Hermética #2 com a HQ Fragmentos, de Edu Mendes. Mais um excelente exercício narrativo, onde Edu conta as histórias que acontecem no edifício Porchat, desde 1939 até 3028, usando um recurso bastante interessante: Raios-X nos andares do prédio congelando momentos de vários anos intercalados entre esse período. Embora os desenhos do Edu sejam quase homens-palitinhos, é uma das melhores histórias da revista. A seguir, temos uma matéria sobre Quadrinhos independentes escrita por Nobu Chinen, na qual eu posso destacar que, além de muito bem pesquisada e escrita, conta com uma excelente diagramação. Chegamos, então, à melhor história da revista em todos os aspectos: Always look on the bright side of life (tradução livre: Sempre olhe para o lado positivo da vida), de Cadu Simões e Jeff Batista. A história conta a tentativa de Thanatos, o Deus da morte, em evitar – isso mesmo – um suicida de se jogar de um prédio para poder ensaiar com sua banda de Death Metal. É a melhor história por vários e óbvios motivos. Tem um roteiro muito bem escrito e desenvolvido, que permite aos personagens se expandirem, sem correria nem atropelo, sugere e debate temas interessantes e de forma coloquial, e conta com a arte limpa, bonita e extremamente eficiente de Jeff Batista (que contou com a arte-final de Ricardo Marcelino). O título da HQ, em inglês, é uma homenagem ao grupo de humor – muitas vezes negro, porém estimulantemente intelectual – Monty Python. Frio e Doce, de Fábio Santos, é mais um exemplo de como não fazer Histórias em Quadrinhos. Desenhos ruins e uma história muito fraca sobre a vingança de uma garotinha com uma velha rabugenta. Mas, ainda bem, logo em seguida temos uma outra excelente, porém curtíssima, HQ: O melhor trabalho do mundo, de Kleber de Souza, onde o dilema de um herói em contar a verdade para a sua namorada acaba criando uma engraçada situação. E é esse roteiro curto, divertido e bem desenhado que fecha a segunda edição da Garagem hermética. A inconstância, portanto, é a marca que mais pesa sob o segundo número da Garagem Hermética. Numa tentativa de agradar a mais de um público, a revista dá algumas derrapadas, justamente, nas HQs mais experimentais. Isso não significa que a revista não seja boa, apenas que o experimentalismo deva ser melhor dosado para não comprometer a totalidade da revista. Finalizando, apesar de tudo, a Garagem Hermética é mais um belo exemplar da nova safra de Quadrinhos nacionais independentes que vem apostando alto na qualidade gráfica e editorial. A belíssima capa desse número, assinada por Camila Torrano, é uma síntese do que vamos encontrar dentro da revista. Uma miríade de estilos e propostas de autores independentes, porém voltados para um público, acredito eu, mais abrangente. E é, talvez nesse fator, que eu acredito que haja o maior pecado da revista: tentando agradar a Gregos e Troianos, corre o risco de não agradar a nenhum dos dois.
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