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O futuro dos gibis depende de você, meu chapa
Por Roberto Guedes
19/03/2007

Há uma preocupação cada vez maior de editores, estudiosos, jornalistas especializados e do fandom em geral quanto ao futuro dos Quadrinhos enquanto produto cultural de consumo popular. Cada vez mais afastados das bancas, enfurnados em escassas livrarias e comic shops brasileiras, os personagens de nossa infância tornam-se, gradativamente, artigos de luxo para poucos; afastados para todo o sempre do leitor eventual, que poderia ser “fisgado” no contrapé... transformando-se decididamente num fiel seguidor e perpetuador do gênero gibi.

Não quero parecer pessimista, mas as pessoas estão realmente deixando de ler Quadrinhos. Não sei ao certo por qual motivo: televisão, videogame, Internet. Para mim, tudo isso soa como desculpa esfarrapada. Parece-me sim, é que na neurótica sociedade de hoje, o simples ato de abrir um livro ou jornal tornou-se uma verdadeira “perda de tempo”, imagine, então, ler um gibi. As pessoas andam muito “espertas”, individualistas e, convenhamos... com uma cultura baixíssima. É só ver a programação de nossa televisão, não é? Há reflexo disso nas próprias Histórias em Quadrinhos americanas aqui publicadas. O povo de lá também padece desse mal. Os bons escritores “fugiram” para outras paragens. No competitivo e cretino mercado dos comic books só há lugar para papel brilhante e efeito de cor via computador.

Aqui no Brasil, então, a piada é mais sem graça ainda (...) Escritores arrogantes e desenhistas que jamais leram um gibi, despontam como as apostas de nosso “futuro mercado”. Que vergonha! Que raiva! Cansei de conversar com garotos que faziam curso de Quadrinhos esperando, um dia, trabalhar na área, mas que, por ironia, nunca haviam lido um gibi sequer. Como é que esse sujeito espera que alguém vá comprar seu trabalho se ele mesmo nunca deu chance a ninguém? Aliás, como será o trabalho dele? Há também o caso de falta de “bagagem”. Um cara que não tem idéia de quem foi Will Eisner irá produzir alguma coisa que presta? E mesmo aqueles que não têm pretensão de produzir nada, que são “apenas” leitores, assumem uma postura estranha...
 
Certa vez, alguém disse que odiava o Homem-Aranha porque ele tinha “aquela tia idiota”. Outro, alegava que o Quarteto Fantástico era ridículo devido à “atmosfera familiar” impregnada em suas histórias. Que tipo de revoltados há hoje em dia? Estamos voltando às cavernas? Um amigo meu, profissional da área e professor de desenho, contou-me vários casos em que alguns de seus alunos pensavam que a Europa era país e que Adolf Hitler foi zagueiro do Palmeiras nos anos 1950. É sério! E não pensem que são coitadinhos que não tiveram oportunidade na vida... alguns deles estão prestes a entrar na faculdade. 

E os leitores de uma dita “velha-guarda” sempre reclamam de tudo, também (muitas vezes, com razão, confesso). Olha, desde que eu me entendo por gente, sei que gibi é caro; que o Brasil está em crise; que há histórias boas e histórias ruins (OK, hoje estão ruins demais!); que as editoras brasileiras publicam os Quadrinhos estrangeiros ao Deus-dará, e que não investem como deviam no Quadrinho nacional. Mas... que é isso, pessoal... vamos deixar de onda! Vocês gostam ou não de Quadrinhos? Vamos deixar essa mídia fantástica desaparecer, assim, sem mais nem menos?
 
Parte deste texto, eu escrevi originalmente para a primeira edição do Gibilândia. Contudo, o curioso – e  triste – disso tudo, é que ele foi publicado... em 2001. Portanto, o assunto em questão que tanto nos aflige – enquanto amantes dos Quadrinhos –, já vem de longa data. Se a coisa já estava ruim antes, agora ficou pior. E fico imaginando o futuro. Aliás, terá futuro? O que você pretende fazer quanto a isso? Afinal, meu caro, se isso tudo não for da sua conta, por que, ora raios, você está lendo esta Coluna?

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