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Resenha: Mistérios Divinos
Por Humberto Yashima
13/03/2007

Crime. Mistério. Anjos. Cigarros. Uma mulher chamada Tinkerbell. Coisas aparentemente sem ligação estão presentes no conto Mistérios Divinos (Murder Mysteries), escrito por Neil Gaiman e originalmente publicado no seu livro Fumaça e Espelhos: Contos e Ilusões, lançado no Brasil pela Via Lettera. Essa história curta foi adaptada para os Quadrinhos por P. Craig Russell no álbum Mistérios Divinos, lançado pela Devir Livraria no início deste ano.

Seguindo fielmente o conto de Gaiman – com alterações mínimas e necessárias para um melhor entendimento da HQ -, Russell narra a história de um pai de família inglês que se recorda (apesar de algumas falhas em suas memórias sobre o assunto) de um fato ocorrido há dez anos, quando esteve em Los Angeles, nos Estados Unidos. Impossibilitado de voltar para a Inglaterra por causa do mau tempo em sua terra natal, o jovem recebe um telefonema de uma antiga “espécie de namorada” e resolve encontrá-la. A colega de quarto de sua amiga Tinkerbell vai buscá-lo de carro; a recordação seguinte é de sua conversa com “Tink”, de quem recebeu beijos e “carícias”, antes que ela lhe mostrasse sua filhinha Susan. Depois de um último beijo, há uma nova lacuna em sua memória e ele está em frente ao lugar onde se hospedou. O rapaz resolve caminhar e encontra um homem misterioso pedindo por um cigarro; em troca, recebe uma história.

O relato é sobre um crime que teria ocorrido na Cidade Prateada, no Paraíso. Um anjo tinha sido morto e o Anjo Raguel, A Vingança do Senhor, é convocado pelo Anjo Lúcifer para descobrir e punir o culpado. A HQ, da mesma forma que o conto, mostra uma verdadeira investigação policial, onde Raguel atua como um detetive, interrogando os possíveis suspeitos e juntando pistas. A resolução do assassinato traz gravíssimas conseqüências para todos os envolvidos e, de uma forma ou de outra, afeta o ouvinte da história. O interessante conto de Gaiman – famoso por seu trabalho na série Sandman, onde lidava habilmente com mitologias de toda espécie – recebeu uma adaptação à altura pelas mãos de Russell.

A excelente arte de Russel se encaixa perfeitamente no estilo de literatura fantástica do autor, como já havia acontecido na HQ Ramadan, escrita por Gaiman e publicada em Sandman #50. E as cores de Lovern Kindzierski funcionam em harmonia com os desenhos de Russell. Na luxuosa e bem impressa edição da Devir, de capa dura, só se sente falta de um texto de apresentação e das biografias dos autores, o que não diminui em nada a qualidade da história.  

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