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Por Gazy Andraus 23/02/2007 O universo dos fanzines é vasto e farto. Atinge todos os rincões do planeta, e se dissemina em todos os temas, gêneros e formatos imagináveis (e inimagináveis). Os fanzines (ou zines), não são simples experimentos amadores, que servem de “rascunho” para edições gráficas profissionais. Este é um engano que já deveria ter sido sepultado: os zines são edições independentes de “vida” própria, e têm sua importância maximizada, já que independem de outras confrontações para serem avalizadas. Eles, os zines, se prestam a dar forma às mentes inquietas e sedentas de criatividade...sem eles, sem os zines, mais do que a metade da produção nacional de HQ, artigos culturais, músicas e afins inexistiria! Não, caros, fanzines não são simples experimentos de meninos e/ou adolescentes ávidos por serem profissionais do mercado de HQ ou de Rock. Há, sim, este tipo de fanzineiros (ou zineiros), mas há destes que já são “profissionais” no fanzinato, e alguns deles já se encontram, inclusive, na chamada melhor idade. Como os zines são independentes, obviamente, a mídia não os reconhece muito bem, e muitos pensam se tratar de revistas simplórias, ou jornaizinhos de bairro. Mas muitos profissionais, de diversas áreas, fazem seus fanzines até hoje. Um deles, Henrique Magalhães, fez seu mestrado na USP, e doutorou-se na Sorbonne, na França, tendo pesquisado as relações entre os fanzines brasileiros, portugueses e franceses. Hoje, além de autor de HQ e professor universitário, é dono da editora independente Marca de fantasia, um ícone nacional da editoração de material artístico e teórico de História em Quadrinhos, abarcando uma grande gama de profissionais e pesquisadores que dividem, como Magalhães, suas profissões com a paixão da produção zineira. É em sua editora que a maioria dos “fanzineiros” (muitos, mestres e doutores em diversas áreas) publicam suas criações. A visão de “mercado” de Magalhães permite a existência de um oásis no vazio semi-desértico da editoração nacional. Mas há outros editores independentes também, com outras propostas distintas que completam o circuito valorativo do fanzinato. Uma dessas propostas em especial, é o NFL Zine, editado no formato tablóide, em papel jornal, pelo competente Hamilton Tadeu. Publicando-o há anos (o zine #11 acaba de ser lançado), o editor prima pela informação, e pelo mix de Rock e HQ. Um prato cheio, já que ambas as artes encontram vários pontos em comum: um deles é que muitos autores de Quadrinhos são também músicos, e vice-versa. Outro é a questão da música-rock estar vinculada à fantasia, como os desenhos fantásticos de muitas Histórias em Quadrinhos. Quando o gênero, então, é super-herói ou ficção científica, a aproximação com os estilos de rock, como o heavy metal e o progressive rock, se dão totalmente as mãos. Basta lembrar-se das capas “viajantes” produzidas por Roger Dean para o conjunto progressivo Yes. Sou testemunha de um amigo que, há muitos anos, mencionou que durante a audição das homéricas suítes elaboradas pelos integrantes do Yes, seu olhar levava sua mente para “passear” dentro das capas dos discos (naquela época eram os LPs de vinil), de acordo com as imagens criadas por Dean! Eis aí mais uma comprovação do poder imagético e do sentimento de estesia que inundam os apreciadores do coquetel música-desenho...
Em 2001, o zine passou a sair a cada 45 dias mudando seu formato várias vezes. Seu logotipo sempre mantinha a mesma estrutura, mas com fontes diferentes. O editor planejara que os formatos seriam diferenciados a cada edição do NFL NEWS, e, caso o tivesse continuado e completado seus dez anos em 2003, a forma do zine teria sido octogonal, similar às placas de trânsito, como as que trazem a inscrição "pare", e outros formatos diferentes do comum, sendo entre eles as letras do título do fanzine recortadas no formato delas (N em uma, F para a seguinte e L para última) e as notas e os textos inseridos nesses formatos, algo trabalhoso que não compensaria tanto. O título, NFL, aliás, significa Nice Fuckin Life, homônimo inspirado em uma música da banda Anthrax, que flerta com as Histórias em Quadrinhos (outra música da banda menciona o Juiz Dredd). Coisas interessantes sobre o assombroso e enigmático universo das HQ e do rock pesado. Hamilton explica o porque do título: “Quando voltei a fazer o NFL NEWS em 1999 resolvi substituir o F de Fuckin por F de Freak, já que não tinha mais vontade de falar palavrões o tempo todo e pra qualquer coisa e também por ter gostado um pouco do personagem Freakazoid, criado pelo Spielberg, para o Cartoon Network e Warner Channel, e porque o tema desenhos animados iria ser abordado com mais freqüência no zine a partir desse retorno”.
É incrível que um país como o Brasil, de tão prolífica cultura, tendo os mais variados autores e criadores, ainda pareça se resumir no trinômio Futebol, samba e carnaval (e as respectivas mulheres seminuas). Há muito mais do que apenas o tradicional arroz e feijão ou a laranja e a banana: há milho, trigo, cevada, centeio, vagem, legumes os mais variados. E no campo das frutas, umbu, jatobá, jabuticaba, pequi e toda uma gama extensa de maravilhosas frutas. Só no cerrado (se não for devastado por completo para o pasto de gado), há frutas exclusivas brasileiras que não existem em lugar algum do globo terrestre, assim como o próprio cerrado! Mas os setores de comunicação teimam em hipnotizar o povo, dando a eles o básico, ou empurrando estrangeirismos, sem sequer notificá-los da riqueza que grassa pelos subterrâneos neocorticais dos humanóides brasilis que querem, pensam, e desejam uma vida criativa e abundante, e não uma morte em vida! Pois, só para lembrar, Edgar Morin já alertou que o ser humano não é um mero animal sapiens... ou seja, não somos “animais racionais”, mas sim, animais sapiens, bem como animais demens: animais que falam, que choram, que riem, que se emocionam de todas as formas, e convivem quanticamente num mundo que faz parte de um universo complexo e sistêmico. Se nos reduzirmos a meros espécimes de uma ou duas categorizações, tornamo-nos o que todo rei e governante adora: servos, robôs (a palavra robot tem origem checa, significando trabalho escravo). Hamilton e seu NFL Zine é só uma pequena amostra da coragem, da fraternidade (Hamilton teima em distribuir gratuitamente este compêndio rico e cultural) que os cidadãos tupiniquins - mesclas originadas de todos os quatro cantos do globo - teimam em fazer existir: vida em si, acima de tudo! E vida, meus caros, é mesmo criatividade...e sem esta, nada há porque existir ou se justificar! Só para lembrar: o NFL Zine tem tiragem atual de 5000 exemplares, e seu editor, Hamilton, confessa no último editorial que a “fórmula” utilizada no zine, que agregou textos acerca de rock de várias vertentes, Quadrinhos, séries de TV e desenhos animados, progrediu de forma não planejada. Mas avisa que o formato vai sofrer uma mutação e diminuição, pois confessa que não está mais suportando o impacto dos gastos... mesmo assim, é um zine legítimo: criativo, independente, autoral, informativo, e traz em suas páginas o exemplo do autor-editor nacional, que prima pela criatividade e esforço em espargir suas idéias, comungando-as com todos os que quiserem e estiverem abertos a elas. Com esta atitude, ele demonstra que, não confiando na “oficialidade” das mídias nacionais, ou seja, não se satisfazendo com a limitada “cultura” pasteurizada que a indústria teima em regurgitar sobre nossos neuroplásticos cérebros, há um universo muito mais rico e dinâmico que pode ser espargido e partilhado! Se você for uma dessas almas em busca de expansão, contate o editor pelo e-mail nflzine@hotmail.com e embarque nesta viagem sem volta, ao universo do novo e do apaixonante! |
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