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Crítica: A Rainha (Helen Mirren dispara em direção ao Oscar)
Por Ruy Jobim Neto
13/02/2007

Stephen Frears acerta uma vez mais. E desta vez foi no tom absolutamente crível de A Rainha (The Queen), onde uma atriz perfaz sua escalada certeira em direção a sua estatueta em Hollywood. Helen Mirren é o nome, anotem. O diretor britânico de sucessos como Ligações Perigosas e Os Imorais concede ao espectador, no escuro do cinema, uma análise apurada da aura da realeza britânica, colocando todos os pontos nos devidos "is". E Helen nos delicia com uma interpretação irretocável, simplesmente sem brechas ou firulas, da atual monarca inglesa Elizabeth II. A atriz, com razão, ganhou o Bafta, o Oscar britânico, pelo papel.
 
A história do filme começa em maio de 1997, alguns meses antes do acidente em Paris, dentro do túnel, onde morreram Dodi Al Fayed e a Princesa de Gales, Diana Spencer. Em solo inglês, é empossado o primeiro ministro Tony Blair – atual ocupante da casa 10 da Downing Street, em Londres -, e todo um novo staff começa a ocupar as atenções da mídia do Reino Unido. A equipe de Blair (muito bem interpretado por Michael Sheen) é um show à parte, no filme. Quando ele faz sua primeira visita (com a esposa) à rainha, alguns artigos de sua assessoria começam a trafegar pelos tablóides britânicos, causando alguma saia justa.
 
Mas é a partir do acidente que matou Diana que a história ganha ares dramáticos, e Mirren defende sua construção de Elizabeth II com o magnetismo, a sobriedade e principalmente a inabalável frieza da monarca. Blair entra em conflito direto com a rainha, pois a família real britânica passa uma temporada num castelo de campo, tentando distrair os filhos de Charles e Diana com torneios de caça. O povo inglês fica indignado com a realeza e sua atitude perante os Spencer e perante todos os súditos, que amavam a Princesa. Vitória da assessoria do Primeiro Ministro, derrota parcial de Elizabeth. E é através de arquivos de imagens feitas no período, com impressionantes cenas de multidão e montanhas de flores depositadas em frente ao Palácio de Buckingham, que o filme é brilhantemente costurado.
 
Imagens da BBC e de tantos outros canais noticiosos fazem o contraponto à mise-en-scene de Frears, em que ele deposita tudo o que sabe acerca de sobriedade. Afinal, Ligações Perigosas não tem aquela postura toda a troco de nada. E enquanto o conflito entre Blair e Elizabeth vai se desenvolvendo, para delícia de quem assiste ao filme, é que o público vai tomando contato com as filigranas desta produção tão britânica, em que cabe a bem comedida porém não menos impecável direção de fotografia do brasileiro Affonso Beato (que rodou filmes como Orfeu, de Cacá Diegues, e Carne Trêmula para Almodóvar), sempre com as câmeras Panavision.
 
Alexandre Desplat, que substituiu outro compositor cuja música Frears não aprovou muito, faz uma trilha grandiloqüente, e cujo trabalho levou apenas três semanas de concepção. É muito bom ouvir essa trilha, à medida que os passeios de Elizabeth II, dirigindo um Land Rover pelos bosques de sua propriedade de verão, conseguem transmitir a dureza e a solidão dessa mulher. Indicado para seis estatuetas em Hollywood (entre as indicações estão as de Melhor Filme, Diretor, Roteiro Original e Atriz), A Rainha recebeu outros 43 prêmios, incluindo os Bafta, na Inglaterra, onde ganhou de lavada. E além disso, foi indicado outras 35 vezes nos mais diversos festivais de Cinema em 2006.

Não é nenhum grande filme de Frears, não beira um Os Imorais e muito menos um Ligações Perigosas. E que não seja visto como uma propaganda a favor de Blair ou mesmo uma tentativa de mostrar alguma humanidade por trás de Elizabeth II. Não levará, por certo, o Oscar de Melhor Filme, mas Helen já tem a sua estatueta garantida. Mesmo que ela esteja concorrendo com outra inglesa, Kate Winslet (por Pecados Íntimos), e mesmo que ela já tenha interpretado outra rainha britânica, Elizabeth I. 

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