NewsLetter:
 
Pesquisa:

Resenha: Sertão Vermelho 2 (Quadrinho Nacional Cabra Macho, Sim Sinhô!)
Por Marcio Baraldi (igualmente cabra-macho)
08/01/2007

Clique na imagem para ampliá-la

Ouço por aí muita gente discutindo o que é e qual é a cara do Quadrinho Nacional. Alguns defendem que a HQB tem que abordar apenas temas e personagens típicos e folclóricos de nossa História e cultura. Outros defendem que não há fronteiras para a imaginação e a arte deve ser livre para beliscar a bunda de qualquer assunto, de qualquer época e qualquer cultura.

Pois bem, o fato é que ninguém é dono de cultura nenhuma, senão de sua própria e individual, e toda a cultura existente no planeta está à disposição de toda a Humanidade, incluindo naturalmente, os inquietos e sedentos artistas do globo inteiro. E, cá entre nós, para mim o que realmente dá gosto é ver um artista realizando com talento e sentimento o que realmente sabe, o que realmente conhece. É este o caso da dupla baiana Haroldo Magno (textos) e Edvan Bezerra (desenhos), verdadeiros estudiosos da história do sertão nordestino e sobretudo da figura polêmica de Lampião, o tal rei do cangaço, que barbarizou no agreste brasileiro durante as décadas de 1920 e 1930.

Haroldo e Edvan quadrinizaram com fidelidade e muita emoção a vida do bandido mais famoso da história do Brasil em dois volumes: Sertão Vermelho, lançado em 2004, e este Volume 2, lançado em 2005. Tá certo, tá certo! Eu sei que já se passou mais de um ano de seu lançamento, mas eu só consegui o livro em 2006 e só agora consegui resenhá-lo com calma. Mas não faz diferença nenhuma, porque a obra é tão boa e atemporal que merece resenhas e mais resenhas até o final dos tempos. O livro é tão bem feito e contundente que não tem prazo de validade, como, aliás, acontece a toda boa obra cultural.

Pois vamos a ela, então! Começando pelo texto de Haroldo, que dá uma verdadeira aula de história e te leva através do tempo para o sertão ardente, miserável e sufocante daqueles pavorosos dias em que o controverso Virgulino Lampião e seu bando caminhavam sobre a terra seca e rachada, tal qual um PCC da época, porém numa versão ainda mais tosca e selvagem. Seu roteiro é cinemão ágil e dinâmico e os diálogos reproduzem fielmente toda a grossura e primitivismo do linguajar da época. É tudo emocionante, realista e verossímil como um filmão bem feito!

Já os desenhos de Edvan têm sabor europeu, moderno e comtemporâneo. Dramático, com sombras abundantes e uso perfeito da aguada. Seu traço bebe nas tendências anatômicas mais estilizadas do momento, mas também parece ter um pezinho na estupenda geração espanhola da revista Kripta (Creep e Eerie no original americano), dos anos 1970, como José Ortiz e Luis Bermejo. E, claro, seu traço também paga tributo aos monólitos supremos nacionais como Collonese, Zalla e Shimamoto. Aliás, o tributo é tão bem prestado que Collonese e Shimamoto comparecem pessoalmente no volume, desenhando três dos capítulos da saga, enquanto Zalla realiza a ótima capa com um de seus grafitões inconfundíveis!

Enfim, discussões e polêmicas à parte, taí um maravilhoso exemplo de uma legítima HQ nacional até a medula, pelo tema óbvio, e também universal, pela qualidade incontestável de seu texto e arte. Agora, chega mais, leitor, se você gosta mesmo de bons Quadrinhos e gosta do Brasil, compre este livro, leia-o de cabo a rabo e aplauda-o de pé! Não espere o Alan Moore ou o Neil Gaiman escreverem sobre o Lampião pra você bater palma,ok? Bata já para o Haroldo e o Edvan, mesmo porque nenhum gringo vai fazer melhor do que eles fizeram! Para pedir o livro, escreva para Edvan Bezerra: R. Pedro Álvares Cabral, 150 – CEP 48601-150 - Paulo Afonso-BA ou entre em contato através do email eddiebezerra@ig.com.br.

Quem Somos | Publicidade | Fale Conosco
Copyright © 2005-2024 - Bigorna.net - Todos os direitos reservados
CMS por Projetos Web