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Por Gonçalo Junior 07/12/2006
Acredito que, tenho dito, se um dia criarmos uma mentalidade profissional, de querer sempre oferecer produtos no nível de competidores internacionais, daremos um passo importante para uma produção relevante de Quadrinhos. É preciso conquistar a confiança do leitor, estimulá-lo a descobrir as produções nacionais. Mutarelli, Spacca, Gabriel Bá, Fábio Moon, além de todos os ilustradores que produzem super-heróis brasileiros, já pensam assim, creio. Este, porém, é apenas um lado da moeda. A cara. E a coroa? Na minha opinião, um aspecto fundamental que precisa ser discutido também é o papel do editor de gibis ao longo da história e hoje – quando praticamente nada mudou em sua relação com os artistas. Refiro-me aqui à parte daqueles que publicam quase ou exclusivamente Quadrinhos. Essas pessoas, empresários do ramo editorial, estão sempre de fora de qualquer debate para se encontrar caminhos que melhorem e consolidem títulos, consagrem autores e, portanto, valorizem a produção nacional. A impressão que se tem, em primeiro lugar, é que o editor brasileiro especializado em Quadrinhos, quando manda uma revista ou um álbum para a gráfica, pensa que não faz mais que um favor ou dá uma força para o artista. Não incluo nesse contexto as editoras convencionais, que pagam quem faz Quadrinhos como se fosse um autor de livro, num relacionamento completamente diferente: profissional e de respeito. Por mais que Quadrinhos brasileiros vendam pouco, estamos falando de negócio, de dinheiro e, conseqüentemente, de interesses dos dois lados. Se um tem de pagar papel, gráfica e funcionários, o outro precisa de royalties para quitar aluguel, condomínio, telefone, Internet e, claro, comer ao menos três refeições por dia.
Já na década de 1950, a La Selva ficou famosa por pagar mal e compensar seus esfomeados autores com macarronadas nos finais de semana – que depois seriam lembradas com nostalgia e romantismo por seus participantes. Pensei inicialmente em citar uma coleção de casos que tenho ouvido de artistas de duas ou três gerações sobre o que chamaria de sacanagens dos editores brasileiros de Quadrinhos, mas resolvi limitar a apenas um para evitar constrangimento a essas fontes. Uma grande editora do ramo de São Paulo publicou há exatos 24 meses um álbum de dois autores brasileiros. Ótimo, maravilha. A dupla ficou muito contente. Os amigos vibraram. Fizeram noite de autógrafos, etc. Verbalmente, a empresa se comprometeu a prestar contas a cada três meses e até o momento não o fez. Ou seja, deveria pagar em dezembro a oitava conta em royalties. Mesmo que esse valor fosse de R$ 1,00. Nada aconteceu desde então. Só fez um adiantamento, depois de muita pressão. O roteirista, após combinação prévia, foi duas vezes à sede da empresa, depois de enviar alguns e-mails desaforados. Ao chegar na portaria, em ambas as ocasiões, foi informado pela atendente que o contrato não estava pronto e que ele voltasse outro dia. O rapaz tentou falar com o editor, mas foi informado que ele estava numa reunião e não podia recebê-lo. Pelo menos dois outros autores se queixaram do descaso da mesma editora quanto aos seus direitos. O roteirista jamais recebeu qualquer correspondência sobre os resultados da venda de seu trabalho. O lado podre de histórias como essa é que comportamentos assim só afundam a imagem de marginalidade imposta aos autores de Quadrinhos. Como mostrou Gerard Jones no indispensável, imprescindível e fundamental Homens do Amanhã (Conrad), os comics nasceram na América ligados ao crime organizado. No Brasil, há uma tradição de desrespeito aos direitos autorais, de calotes, de apropriação de roteiros por parte de alguns editores que aproximam muito o mercado nacional do banditismo.
Não é o caso de voltar aqui à discussão sobre a qualidade do material brasileiro para se justificar atitudes assim. A referência tem a ver com uma etapa seguinte, aquela em que o produto foi aprovado e, conseqüentemente, reconhecido como publicável ou mesmo viável economicamente para a empresa. Editor no Brasil troca capa, muda texto, exclui Quadrinho ou página, altera o título e o formato, às vezes, nega-lhe o crédito, etc. Tudo sem consultar o artista. Esse tratamento é estendido aos Quadrinhos estrangeiros. Falta zelo na tradução – algumas editora sequer informam quem passou o texto para o português. E olha que não foi abordado aqui o modo como os novatos são tratados quando enviam seu material para avaliação. Voltarei ao assunto. A seguir: História em Quadrinhos, a maior de todas as subversões ou Uma defesa possível dos gibis contra o preconceito. |
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