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Quadro da HQ que será publicada no Jornal da Tarde |
Sim, nesta última semana o
14 Bis de
Santos-Dumont foi lembrado. Mas ficou somente nisso. O primeiro vôo de um aparelho, o "mais pesado que o ar", realizado às próprias custas das engrenagens do aeroplano, alçou 60 metros de distância, um recorde até então, no dia 23 de outubro de 1906, nos campos de Bagatelle, em Paris, França. Um século de aviação, portanto.
Cientes disso, aqui no Brasil foram poucas e verdadeiras as comemorações em torno do espetacular feito para a época. Pouquíssimas, aliás. Mesmo o astronauta Marcos Pontes, que levou consigo para o espaço uma réplica de um chapéu panamá de abas esgarçadas a la Santos-Dumont, mesmo ele desapareceu do mapa estelar. Eu cheguei a ministrar duas palestras nesses últimos dias em torno do assunto. Uma delas foi a primeira do projeto A História na Ponta do Lápis, meu e do também cartunista Sergio Morettini, onde enfocamos exatamente Alberto Santos-Dumont. Fizemos até um blog para essa comemoração. O dia escolhido pela Gibiteca Henfil (do Centro Cultural São Paulo) foi o sábado, dia 21. Portanto, a dois dias do centenário do 14 Bis.
Nesta palestra, tivemos o cuidado, utilizando data show apenas com imagens diversas, de enfocar temas históricos brasileiros sob o viés do Humor Gráfico, isto é, com os participantes tendo a possibilidade de aprender a fazer charges, cartuns e caricaturas a partir de figuras e vultos de nossa História. Tal como foi explicado nesta matéria publicada aqui mesmo, no Bigorna.net. Qual surpresa não foi a minha quando a Olga, funcionária da Gibiteca – e que é formada em História –, me disse que o chamariz do evento (um tema histórico) foi o que afastou os prováveis inscritos? Tivemos até uma platéia, tal como demonstram a reportagem e as fotografias publicadas no Neorama dos Quadrinhos. Houve interessados sim, em Santos-Dumont. E ainda assim o foco do projeto é exatamente atrair todo o resto do grande público em direção à nossa História, por isso nossa continuação como divulgadores não acaba. Apenas começou. Os desafios e o caminho são enormes.
É necessário, é importante que tenhamos apreço, carinho, amor pelo nosso passado, do contrário, não vamos nos entender enquanto brasileiros de hoje e muito menos conseguir vislumbrar um futuro com seriedade. Pois bem, nesse meio tempo houve o convite da professora Carmen Gattás, integrante do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP (NCE/ECA-USP) para mais um desafio. Existe uma página dominical do JT, o Jornal da Tarde (um diário das empresas O Estado de S. Paulo) chamada Pais e Mestres, para a qual fui convidado a sugerir uma atividade de aula em que se pudessem usar Quadrinhos. O projeto do JT com o NCE da USP é coordenado pelo professor Ismar de Oliveira Soares. O objetivo da página - que tem sua versão digital no site da revista Nova Escola, da Fundação Victor Civita – é promover projetos da novíssima área conhecida como Educomunicação, um conceito recente onde se mesclam estudos da área de Comunicação para apoiar a Educação. E a página por mim escrita será, por sinal, publicada na edição deste próximo domingo, dia 29.
Além da sugestão de aula, acabei fazendo dois quadros explicativos sobre Histórias em Quadrinhos e uma historieta de duas páginas, todos com o meu personagem de tiras cômicas, o cão Jarbas. O tema interdisciplinar que pensei gira em torno de História (do Brasil, no caso), abrangendo também Artes e Língua Portuguesa. Como é dito na matéria, os elementos que constituem as Histórias em Quadrinhos (texto, imagem e seqüência) são aliados importantes na hora de explicar conceitos de qualquer conteúdo programático. Não esquecendo disso, a HQ que preparei usa exatamente Santos-Dumont como personagem. O quadrinho acima é da segunda página. A intenção é clara: criar oportunidades de o Brasil poder olhar com carinho e admiração para a sua própria História. Só assim ativaremos, em nossos corações e mentes, um senso real de responsabilidade, de cidadania, de comprometimento, quando estivermos diante da urna, exatamente neste próximo domingo, dia 29. Vejam bem, não significa agir com patriotada barata, evidente – e muito menos com aquela deplorável sensação de que livros de História lembram escola (o que não é ruim, afinal) e com aquela incompreensível sensação que as pessoas têm de que as coisas antigas de nada adiantam para nós, hoje em dia. A História serve sim e é a mãe de nossos atos. Exatamente hoje, e sempre.
Se as Histórias em Quadrinhos que mundialmente estão, como nunca estiveram, mirando uma queda inacreditável de leitores, se ao menos elas puderem contribuir um pouquinho para essa aproximação do brasileiro de ontem (Santos-Dumont, Mauá, Maria Quitéria, escrava Anastácia, Xica da Silva, seja quem for) com o brasileiro de hoje, já será um ganho. Nossa História tem salvação, sim. Portanto, que a coloquemos diante de nossos olhos, mentes e corações. E por que isso não pode também ser feito com os textos, as imagens e as seqüências dos Quadrinhos? Os Parâmetros Curriculares Nacionais, desde meados da década de 1990, já incentivam essa utilização. Eis a hora de arregaçar mangas.