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Ilustração de Angelo Agostini |
Todos aqueles que acompanham as matérias do Bigorna.net ou que já leram algo sobre a História dos Quadrinhos no Brasil já ouviram falar do grande ítalo-brasileiro Angelo Agostini. O número um em publicar Quadrinhos em toda a História, todos dizem. Sim, essa é uma verdade para nossas versões brasileiras e para muitos de nossos historiadores de Quadrinhos, com muito orgulho. Os americanos, obviamente, puxam a sua lata de sardinha para a página de Quadrinhos Hogan's Alley, a criação de Richard Fenton Outcault, onde surgiu o famoso personagem Yellow Kid. Um espaço de mais de 30 anos na segunda metade do século XIX separam Agostini de Outcault. O mesmo acontece com o avião... Seriam os Irmãos Wright ou o brasileiro Santos-Dumont quem fez o primeiro vôo aeronáutico?
Se perguntarmos nas ruas quem é o nome em quadrinhos atualmente no Brasil, a grande maioria dirá sem pensar A Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa. É uma versão nossa, pois Little Lulu (Luluzinha), de Marge, e Peanuts (Charlie Brown e Snoopy ou ainda Minduim) de Charles Schulz são tiras americanas no mesmo gênero e chegaram muitos anos antes. Perguntando ainda sobre tira com personagem felino, ninguém piscará ao dizer Garfield, de Jim Davis. Cachorro? Snoopy (e não Bidu, de Mauricio de Sousa). Editora? Talvez seja a Abril, com grande chance de acerto. TV? Alguém duvida de que a Globo virá na frente? Alguém lembrará de outra tira com garotinho traquinas além de Calvin, de Bill Watterson? Reparemos nos tempos e nas décadas em que cada um desses nomes surgiram e como mantêm sua posição no mercado. E olha que Calvin parou de ser escrito e desenhado quando completou dez anos de tiras e livros.
"É melhor ser o primeiro do que ser o melhor". Pois estou falando de A Lei do Primeiro Lugar, uma das primeiras leis do marketing desenvolvidas por dois gurus da publicidade mundial, que são Al Ries e Jack Trout, autores de livros interessantíssimos e deliciosos de ler como Posicionamento, Marketing de Guerra e Marketing de Guerra II. As leis do marketing vislumbradas por esses dois "rapazes de Connecticut" são vinte e duas ao todo. O livro das leis onde eles escreveram essas idéias chama-se exatamente As 22 Consagradas Leis do Marketing, publicado no Brasil pela Makron Books. As outras demais leis também se aplicam perfeitamente ao mercado de jornais, TVs, rádios, computadores, cervejas. Servem para tudo. E para o nosso meio de Quadrinhos também.
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O livro e seus autores, Al Ries (no centro) e Jack Trout (à direita) |
Quantas vezes eu já esbravejei (até cansar, e quando cansei, deixei de lado) na lista ImagoDays2 para que nós, cartunistas, venhamos a ler pelo menos uma única vez na vida os livros desses dois gurus do marketing! Ou fazer um curso de vendas. Temos sempre problemas crônicos com precificação dos nossos serviços. Ou problemas com auto-estima. Temos problemas com mercados enxugados, ou ainda mercados ocupados por posições flanqueadas. Esbravejei e não tive resultado. Deduzi que os cartunistas estão mais preocupados com outras questões. Só que a mercadologia do produto (quadrinhos, cartuns, animações, tiras cômicas) é o miolo da vida útil de um cartunista. Isso, claro, se eles estiverem mesmo interessados em se colocar perante o público.
Posicionamento – outro dos livros bárbaros de Trout e Ries – é aquilo que conhecemos no Brasil como o "Top de marketing", nada mais que isso. E está muito interligado com a primeira das leis, a do primeiro lugar. Mas há a Lei da Mente, que fala sobre ter a percepção do mercado, estar na mente das pessoas, que é ainda melhor do que ser o primeiro. Lembremos do caso do Calvin, Mônica e Garfield. Vamos ver que a tira do Bill Watterson ficou em cartaz durante dez anos (de 1985 a 1995), que os personagens de Mauricio começaram a aparecer no final dos anos 1950, mas principalmente em 1969 com a revista Mônica sendo publicada pela Abril e finalmente o famosíssimo felino criado por Jim Davis, que é de 1978. Nenhum desses personagens que citamos é o primeiro nos ramos deles, há muitos personagens anteriores. Só que eles estão na mente do público. Por isso palha de aço para nós é BomBril e cópias reprográficas são Xerox. Essas marcas estão encravadas em nossas mentes, assim como Aspirina (ácido acetil salicílico) ou Gillette (lâmina de barbear). Qual é a jogada? Com o mercado todo entrincheirado (e aí entram os livros Marketing de Guerra I e II) o que esses personagens (Calvin, Mônica e Garfield) fizeram foi colocar "uma idéia ou um conceito na mente do cliente em perspectiva" (sic). Veja bem, se formos pensar em Cinema, ocorre o mesmo fenômeno: lembrando de todo bom desenho animado 2D logo o público pensará em Disney. Não em Mauricio de Sousa. Nem mesmo em Hanna-Barbera (que pega o ramo da televisão). E muito menos Don Bluth, que é sempre confundido com Disney.
Se pensarmos em filmes de aventura, a coisa é mais louca ainda – todos confundem filmes dirigidos por Robert Zemeckis (a série De Volta Para o Futuro) e Tobe Hooper (Poltergeist – o Fenômeno), pois muitos dirão que se tratam de trabalhos com direção de Steven Spielberg, quando na verdade Spielberg foi produtor executivo dessas obras cinematográficas. Spielberg, como Disney, viraram grifes, assinaturas de qualidade, garantia de bom produto em suas áreas, no caso, Cinema. São os primeiros na mente do público. Ponto final. Isso é muito comum. É curioso. Fale mesmo, nas ruas, numa banca de revista, sobre Quadrinhos nacionais. Só dá Mauricio de Sousa na mente das pessoas, não importando os seus doze ou treze títulos em bancas. Há uma visibilidade construída nacionalmente há mais de 40 anos pelo estúdio que produz a Turma da Mônica. Um marketing pesado e incisivo. Os métodos pelos quais se chega a isso podem ser até discutíveis, mas não se pode negar o posicionamento do desenhista brasileiro perante o grande público. O material de Mauricio aparece em diversos gibis, aparece nas videolocadoras em VHS e DVD, aparece nos jornais (publicações "que não se abrem" para outros títulos do mercado, sabe-se lá se por que força de acordo ou contrato), aparece nas gôndolas de supermercados, nos outdoors das ruas, aparece, aparece, aparece. Quem mais aparece como ele?
Enfim, o livro das 22 Leis de Marketing traz algumas idéias bem interessantes e que podem também ser aplicadas a qualquer setor do nosso metiér. Vou dar aqui dois exemplos delas – a Lei dos Opostos ("a estratégia de quem está almejando o segundo lugar é determinada pelo líder"), a Lei da Escada ("a estratégia a adotar depende do degrau ocupado na escada") e por aí vai. E como foi dito, os demais três livros de Al Ries e Jack Trout (Posicionamento, Marketing de Guerra e Marketing de Guerra II) são estudos de mais de 25 anos desses dois publicitários (de Connecticut, como eles mesmos dizem) observando "cases" de empresas em todos os ramos de negócios. São livros altamente recomendáveis, cheios de idéias, daquele tipo de idéias capazes de nos deixar pensando sobre como está o mercado do Quadrinho nacional atualmente (em todos os ramos – editorial, mercadológico, criativo, entre outros) e como poderia ser o mercado que nós realmente desejamos, se quisermos entrar nele.