
Foi através da pesquisa do Sr. José Eduardo Cimó que meu espírito se entusiasmou para que eu me debruçasse mais seriamente na pesquisa dos personagens brasileiros de Histórias em Quadrinhos, e dentre os muitos tipos relatados pelo Sr. Cimó, tive a felicidade de me deparar com alguns deles em bancas de usados, como por exemplo dois fascículos (o 4º e o 5º) do fanzine Ércio Rocha, com personagens dos quadrinhos criados por Giorgio Cappelli.
Fanzines editados no formato retangular (que hoje é chamado de widescreen), com 32 e 36 páginas, respectivamente. Como estamos falando de fanzine, há editorial, seção de cartas e artigos sobre o mundo das HQs. O editorial é assinado por Ramos, e esta foi a única informação que consegui. Os artigos não vêm assinados, mas pelo estilo tudo leva a crer que sejam da mesma pessoa que escreveu os editoriais. No 4º fascículo o artigo fala sobre o quadrinhista Messias e os tempos do tablóide A Gazetinha; e no 5º temos artigo sobre Raffles, personagem criado em meados da década de 30 do século passado por Carlos Thiré (de Os Três Legionários de Sorte).

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Detalhe da HQ estrelada por Minuano |
Passaram pelas páginas do fanzine Ércio Rocha alguns notáveis personagens da HQ brasileira, três deles aparecem nos fascículos que resgatei e merecem destaque, todos criados por Cappelli: Minuano é o herói dos pampas gaúchos, que com suas bombachas, lenço, botas e esporas, e é claro, sua boleadeira, está sempre pronto a espalhar a justiça na região sul do país, tal qual o vento que por lá sopra. Na aventura publicada no 4º fascículo do fanzine, Minuano enfrenta os capangas folgados de um rico estancieiro, e para isso conta com a ajuda de uma jovem, linda e valente gauchinha, que mete o pezinho dengoso, com força, no saco dos machões. Há certa altura ela pergunta a um bandidão, depois de lhe tascar uma pernada: “gostas de coices nos bagos?” Vindo de ti, guria, não deve ser tão ruim...
Jôse é a personagem convidada do 5º fascículo, uma aventura doidona sobre discos voadores e feminismo sensual (tudo é possível!). Bom humor retro-futurista e um leve toque de lesbianismo. Guido Crepax descendo no mundo do cinema exploitation. E o personagem que dá o título ao fanzine é um jovem da Força Aérea Brasileira vivendo aventuras no pantanal matogrossense. Foi criado pelo autor no ano de 1964, e publicado em jornais paulistanos nos anos 1989/90. Nesta aventura em dois episódios publicada nos fanzines, chamada Bento Lobato, Ércio Rocha e seus companheiros precisam deter um bando de vigaristas estrangeiros que praticavam pesca predatória na região. Os bandidos vão acabar raptando o pai de Ércio (o tal Bento Lobato), e para resgatá-lo o jovem da F.A.B. vai contar com a ajuda de um espertíssimo e mui corajoso vigário gaúcho. Este, a propósito, é um dos muitos personagens interessantes desta brilhante HQ – onde destaco também um índio imenso e de força incrível, Gurupi, sempre disposto a ajudar Ércio em suas aventuras. Destaque maior destes personagens formidáveis são os desenhos de Capelli, riquíssimos em detalhes e paisagens.