Apesar de ter sido lançado em 1998, Lampião... era o cavalo do tempo atrás da besta da vida (56 págs., formato 23 x 32 cm, Editora Hedra) do historiador e quadrinhista Klévisson Viana merece destaque por nos trazer o que há de melhor em HQs nacionais: regionalismo, conteúdo e embasamento histórico.

O álbum tem início com um texto do jornalista Álvaro de Moya, depois há um texto intitulado Cangaço: heróis e bandidos do nordeste brasileiro, escrito pelo próprio autor para situar o leitor à época e aos personagens. A história retrata os últimos dias de Virgulino, vulgo Lampião (curiosidade, Virgulino recebeu seu apelido de Lampião por ter iluminado a caatinga com disparos de fuzil em pleno combate para seu companheiro achar o cigarro que havia caído!) e sua “tropa” de cangaceiros, contada por um matuto da região que conhecia suas proezas.

Klévisson não deixa de lado as críticas à sociedade da época que era baseada no coronelismo (apesar deste estar perdendo a força) principalmente em áreas remotas do país, algo também já retratado por Mozart Couto e Wander Antunes no álbum Crônicas da Província. Os traços do autor são um tanto caricatos, sem serem exagerados, me fizeram lembrar os de Flávio Colin pela aparente simplicidade e beleza. O texto é todo feito com base no linguajar falado na época pelos habitantes do cangaço, às vezes, até cria uma certa dificuldade de compreensão, mas nada que uma segunda ou terceira leitura do balão não corrija.

Após o término da história, há treze páginas dedicadas a servirem de referência para futuras HQs sobre o cangaço e sua gente, com desenhos de casas, pessoas, utensílios, brinquedos e ferramentas, sem falar no vestuário e armamento completo do cangaceiro e do vaqueiro “herói romântico do sertão”; um texto da pesquisadora e doutora Sônia Bibe Luyten que exalta a obra e aponta sua importância didática e, ainda, a referência bibliográfica utilizada pelo autor, que serve como um catálogo sobre o período de Lampião e seus antecessores. Uma lista de comentários de outros autores de HQs, jornalistas e pesquisadores quase fecha a obra, mas, antes disto, há a reprodução de uma xilogravura intitulada A chegada de Lampião ao Inferno, de José Costa Leite, e de um texto escrito pelo próprio punho de Virgulino Ferreira da Silva. E, para realmente fechar esta grande obra dos quadrinhos nacionais, há um texto do jornalista Tarcísio Matos, a respeito do autor.

Vale lembrar que a Lampião... era o cavalo do tempo atrás da besta da vida, que no ano de seu lançamento ganhou o HQ Mix como melhor graphic novel, faz parte da PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) que consiste na distribuição do livro para bibliotecas no estado de São Paulo, sem contar nas do Ceará e Tocantins. E ainda é cadastrada no SBEC que é a Sociedade Brasileira de Estudos do Canganço. Vida longa a Klévisson e que todos seus trabalhos tenham o mesmo tratamento deste. Altamente recomendado!!