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Entrevista: Jorge Ventura (autor de Sock!! Pow!! Crash!)
Por Humberto Yashima
03/10/2006

O ator, jornalista e publicitário Jorge Ventura é o autor do recém-lançado livro Sock!! Pow!! Crash! - 40 anos da série Batman da TV (Opera Graphica) e escreve a coluna Bat-Nostalgia no site do fã-clube BatBase. Nesta entrevista, realizada por e-mail, Ventura fala sobre seu livro e outros interessantes bat-assuntos.

Quando e como começou o seu interesse pelo “Cruzado Embuçado”?

Foi a partir do seriado de 66 que passei a acompanhar as aventuras do herói nas Histórias em Quadrinhos. Eu tinha 5 anos quando assistia à série e, de lá pra cá, não parei mais. Dedico até hoje uma parte do tempo aos estudos do personagem e sua trajetória. Gosto de todas as fases e faces de Batman, mas confesso minha preferência pela série da TV. Afinal, é o Batman da minha infância!

Fale sobre o fã-clube Ordem Filosófica do Homem-Morcego e a publicação do hoje lendário fanzine Tribuna do Morcego.

Em 1991,  Leonardo Vieira veio com a idéia e a iniciativa de criar a OFHM (Ordem Filosófica do Homem-Morcego). No início, tudo me pareceu uma grande brincadeira, mas após algumas reuniões, com a chegada de novos integrantes, tive outra percepção. Havia uma linha realmente filosófica em tudo que nós pensávamos. Conheci então Márcio Escoteiro, que, em pouco tempo, tornou-se meu amigo e, inevitavelmente, o meu sócio em todas as jornadas da OFHM. Com o passar dos anos, apenas nós dois ficamos à frente do fã-clube. Resolvemos “dar um tempo” para nos estruturar melhor e, em 1995, criamos o fanzine Tribuna do Morcego – para variar, um tipo de fanzine com abordagem diferente, repleto de matérias analíticas sobre o universo do herói, sem deixar de lado, é claro, as notas e curiosidades. Foi um projeto muito árduo para nós e, ao mesmo tempo, muito prazeroso. Temos muito orgulho em saber que, hoje, um exemplar do Tribuna é um item raro e bastante disputado por batmaníacos. Nosso trabalho virou uma referência para muitos pesquisadores.

O projeto do seu livro já existia há muito tempo ou foi criado mais recentemente, com a proximidade do aniversário da série de TV?

Nelson Rodrigues, se estivesse vivo, certamente responderia por mim: “Este livro estava escrito há dez mil anos”. Eu considero este um dos projetos mais importantes da minha vida. Tinha 11 anos quando, sem a menor noção, comecei a anotar os nomes de todos os atores participantes, as falas dos personagens e as cenas mais marcantes. Inconscientemente, montei o meu primeiro bat-arquivo, apesar dos garranchos da idade e dos erros de inglês. Fui crescendo e colecionando as HQs, assistindo aos desenhos animados pela TV. Aí  surgiu o VHS. Passei, então, a gravar tudo relacionado a Batman, de documentários a programas, além de sátiras com referências ao Homem-Morcego. Em 1996, já presidia a OFHM e escrevia o fanzine Tribuna do Morcego com Márcio Escoteiro. Havia publicado, na edição #4, uma resenha especial em homenagem aos 30 anos da série. E cheguei a comentar em diversas revistas especializadas e, mais tarde, em sites de fã-clubes. No final do ano passado, defendi uma tese acadêmica sobre A força da marca Batman e sua poderosa bat-franquia. Registrei em pesquisa o que foi o fenômeno da “batmania”, deflagrada pela série televisiva.  Isto coincidiu com o interesse da Opera Graphica em lançar um livro sobre os 40 anos de Batman da TV. Fui indicado, então, pelo amigo Silvio Ribas (outro grande estudioso no assunto e autor do Dicionário do Morcego),  que muito me incentivou a aceitar o desafio de, em apenas três meses, organizar o livro. Sock!! Pow!! Crash! é, na verdade, um grande compêndio, uma releitura de tudo o que foi escrito por mim e por diversos pesquisadores, batmaníacos ou não. Mas com um diferencial: o livro foca a estréia de Batman na TV brasileira e os acontecimentos importantes da época, indo da ciência às artes e costumes, da pop art à psicodelia dos sixties e à contracultura no Brasil.

O proposital clima “camp” da série de TV estrelada por Adam West e Burt Ward foi bom ou ruim para a imagem de Batman?

Batman é um personagem de diversas fases e múltiplas faces.O clima “camp” apenas caricaturou uma época marcada pela psicodelia e pelas grandes transformações sociais, políticas e artísticas. A década mais revolucionária do século XX deu abertura para o avanço desenfreado de novos estilos, modas e costumes. E a série da TV, poucos sabem disso, traduziu com fidelidade as aventuras do herói das HQs, dos anos 60. Neste fase, a dupla dinâmica enfrentava seres de outra dimensão, monstros marinhos e seres fantásticos. Isto sem contar que os heróis eram submetidos a armadilhas das mais absurdas. Muitas vezes eles encolhiam, esticavam, quando não eram congelados em cubos gigantes ou petrificados durante o combate. As histórias eram contadas com bastante fantasia e o clima “camp” adotado pelos produtores da TV soube explorar bem isso. Pena que esta estética – que traduz o exagero, o humor espalhafatoso, foi deturpada por teorias infundadas, como a de Fredric Wertham, que afirmava que as HQS provocavam o desvio de jovens e adolescentes, levando-os à delinqüência e à perversidade sexual. A mídia aproveitou o gancho para “apimentar” o mal-entendido e vender uma imagem completamente distorcida. É claro que, hoje,  o clima “camp” não mais se sustenta, nem tampouco teria cabimento no atual universo do Homem-Morcego. O Batman do século XXI é bastante sério e disposto a enfrentar um mundo cruel e injusto. Mas costumo dizer que, “camp” ou “dark”, Batman é bom de qualquer maneira.   

Os “vilões especialmente convidados”, o turbinado Batmóvel, as escaladas da dupla dinâmica, as onomatopéias (utilizadas no título do seu livro) e as chamadas para o próximo episódio, na “mesma bat-hora e no mesmo bat-canal” marcaram a infância de muitas pessoas. O que você mais gostava na série?

Tudo o que foi mostrado na série de 66 serviu de inspiração e referência para outros produtores de TV. Como bem escreveu, na 4ª capa do meu livro, Rodney Gomes (ator/ dublador do personagem Robin nas duas primeiras temporadas e recém-falecido): “(...) Passamos a entender, então, o que a série tinha de mais puro e inovador, de mais crítico e revolucionário: os figurinos, os cenários, as expressões – tudo foi estudado e planejado para entreter crianças e adultos e, simultaneamente, dizer nas entrelinhas o que os adultos queriam ouvir (...)”. Eu acho a sátira televisiva perfeita em todos os detalhes. Mas poderia destacar a cena de descida pelos bat-postes, em que os heróis dinâmicos partem com o turbinado Batmóvel. As cenas de bat-lutas também são antológicas, pontuadas pela orquestração magnífica do maestro Nelson Riddle.

Na sua opinião, qual a melhor História em Quadrinhos do Homem-Morcego? Quais os seus roteirista e artistas preferidos?

Seria impossível para mim destacar qual a melhor história do Homem-Morcego. Foram tantos clássicos que até hoje releio com bastante atenção. Cada argumento retrata uma fase do herói, portanto, fica difícil dizer qual a minha preferida. Mas sempre é bom lembrar de que na estante de um batmaníaco não podem faltar títulos como A Legenda de Batman, Crise nas Infinitas Terras, O Cavaleiro das Trevas, Batman Ano 1, A Piada Mortal, Batman – O Messias, Asilo Arkham, Gritos da Noite, A Queda da Morcego, Longo Dia das Bruxas, Contágio, Terremoto, Silêncio, entre outros. E na minha galeria de roteiristas e desenhistas, desfilam nomes como Bob Kane, Bill Finger, Jerry Robinson, Denny O´Neil e Neal Adams, Jim Starlin, Jim Aparo, Alan Moore, Bernie Wrightson, Len Wein, John Byrne, Frank Miller, David Mazzucchelli, Scott Hampton, Archie Goodwin, Bruce Timm e Paul Dini.

Batman Begins não iniciou uma nova “Batmania”, mas ressuscitou a cinessérie do Cavaleiro das Trevas. O que você acha das adaptações produzidas para cinema com o personagem até agora?

A trajetória do Homem-Morcego no cinema apresentou uma qualidade irregular, de altos e baixos. Os produtores se preocuparam muito mais com a plasticidade das cenas, com o estereótipo dos personagens, do que com o conteúdo. Faltou um bom roteiro na maioria dos filmes, mas acho que, entre erros e acertos, estamos caminhando para uma versão definitiva e satisfatória. Sem dúvida, Batman Begins foi o filme que mais se aproximou do argumento original, da versão desejada pelo batmaníaco.

O Bigorna.net agradece a Jorge Ventura pela entrevista.

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