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Por José Salles 06/09/2006 Cada vez mais tenho a convicção de que as grandes cidades perderam a razão de ser. Diante de toda corrupção, violência, sujeira e grosseria que imperam nas metrópoles, uma única coisa vale (ou valia) a pena: o comércio de livros, gibis, revistas, filmes e discos usados – mesmo assim, diante do preço extorsivo que quase todos os comerciantes deste ramo cobram dos colecionadores, isso também deixa de ser uma das vantagens de se morar em cidade grande. Os correios, cada vez mais eficientes (ainda mais agora, impulsionados pela Internet), permitem aos colecionadores de cidades menores, que a princípio não teriam acesso aos “sebos” de usados das metrópoles, a adquirir as preciosidades desejadas. E, no caso deste sortudo colecionador que vos escreve, hoje um habitante de cidade de médio porte no interior do Estado de São Paulo, a presença de um “sebo” como a Banca Garagem, de propriedade da simpaticíssima dona Marisa e de seu filho, o jovem Alexsander, as cidades grandes já não têm qualquer razão de ser. E foi exatamente na Banca Garagem de Jaú que pude encontrar & acrescentar mais uma preciosidade em minha coleção, um exemplar raríssimo de Raimundo Cangaceiro, coisa que eu talvez não conseguisse encontrar na cidade de São Paulo. Eu já conhecia Raimundo através do Fã Zine #18 – Heróis Nacionais de José Eduardo Cimó, a maior enciclopédia já editada sobre personagens brasileiros dos quadrinhos. Está lá, na página 164: “Herói cangaceiro foi criado por José Lanzelotti em 1953, era exclusividade da Editora La Selva, de Salvador Bentivegna. As aventuras se passam nas caatingas nordestinas, onde Raimundo com 17 anos entra para o cangaço para vingar a morte do pai, morto pelo Coronel Venâncio, que roubara suas terras. A história está divida em capítulos com os excelentes desenhos de Lanzelotti, verdadeira obra-prima”. A revista de Raimundo que consegui parece tratar-se de republicação, o segundo número de uma coleção re-editada pela Editora Edrel, provavelmente em meados da década de 60 do século passado. Contém 32 páginas com duas aventuras de Raimundo, e de complemento uma historinha mais curta mitificando o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera.
A admiração de José Eduardo Cimó pelo trabalho de Lanzelotti faz sentido. Além do roteiro muito bem elaborado e desenvolvido, mostrando uma ótima aventura, os desenhos, se por um lado não parecem muito ricos principalmente nos cenários, mostram os personagens num traço levemente renascentista, com toques de Buonarotti e Caravaggio –as feições do personagem principal me pareceram fortemente andróginas. |
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