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Por Ruy Jobim Neto 28/08/2006
Santô, de Spacca
Essa mesma Paris era percorrida pelo alto, por balões que subiam na vertical (apenas) e que voavam literalmente ao sabor do vento. Aquilo fascinou Santos-Dumont, ao mesmo tempo em que o instigava a maiores aventuras. Ele queria mais. E conseguiu. Nosso brilhante aeronauta queria domar aqueles balões, torná-los dirigíveis, isto é, dar a quem os pilotasse, a possibilidade real de ascender aos céus na hora em que bem entendesse, bem como na hora de tocar o chão, novamente. E que pudesse conduzir o balão para onde quisesse, para que direção desejasse, sem que o vento assim ficasse determinando.
Ele foi o primeiro que teve a idéia de construir hangares. Foi também o primeiro que teve a genial idéia de sugerir que um relojoeiro, Cartier, criasse especialmente para ele um relógio de pulso, algo que ele poderia consultar enquanto voava, sem que precisasse tirar o chamado relógio de bolso com toda aquela correntinha. Santos-Dumont era prático. Dentre os deliciosos costumes bizarros dele, coisa que os parisienses simplesmente adoravam, estava a mania de descer seus balões no meio das avenidas para uma pausa... Para tomar café. Havia mais. Santos-Dumont e um amigo caricaturista dele, o Sem, adoravam andar no mesmo passo, usando as mesmíssimas roupas, tudo combinado, para se divertir à beça com os olhares dos outros. Nosso aeronauta tinha outro costume intrigante, o de chegar sempre depois das dez da noite no famoso Maxim’s, o restaurante parisiense que aparece muitas vezes no filme Gigi (de Vincente Minelli), e de se sentar sempre à mesma mesa, num canto, para observar as demais pessoas. O aeronauta era um tímido. Baixinho que só, ele determinou, por um tempo, o modo de se vestir naquela Paris enlouquecida por novidades. Ele ditava moda, literalmente. Que bela contradição, a timidez e a moda. O chapéu côco (para dar impressão de altura), o sapato com sola alta, as golas altas, as roupas listradas, A gravata super apertada, o cabelo dividido. Tudo era motivo para ser copiado, e deliciosamente desenhado pelos chargistas da época, dos dois lados do Atlântico. E hoje, nessa foto que tirei ao lado dos desenhistas, somos a mais nova geração de pessoas que lembram do aeronauta com carinho. Com certeza, há muitas outras histórias a lembrar do inventor da Demoiselle, do Balão Número 1 (batizado de "Brasil"), do brilhante aeronauta brasileiro que deu a volta em torno da Torre Eiffel em 1901, em menos de meia hora. Do homem que viu sua invenção sendo usada para a guerra. Enfim, Santos-Dumont, que veio embora para o Brasil em 1915 por motivo de doença, de aposentadoria da aviação e, entre outras coisas, estava chateado com os franceses simplesmente por que tinha um mordomo alemão na sua casa de verão de Deauville (em plenos dias da I Guerra Mundial ele foi quase tido pelos como espião, como um colaborador dos alemães, por causa disso), e voltou para casa, tendo deixado para a Humanidade legados tão belos quanto a Encantada, a sua bela casinha de Petrópolis, aquela que não tinha cozinha, mas que para você subir até ela, pela escada, tem que pisar primeiro com o pé direito. Coisas de Santô, coisas de um brasileiro genial que um belo dia, em 1996, o presidente americano Bill Clinton, relembrando num discurso em Brasília, finalmente chamou de "O Pai da Aviação". Já não era sem tempo, né, Tio Sam? |
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