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Por Paulo Ramos* 25/08/2006 Se no mundo dos Quadrinhos há os que fazem, os que não fazem e os que só sabem falar - como diz o jornalista Gonçalo Junior (veja aqui) -, Henrique Magalhães encabeça a lista dos que fazem. E como faz. O interesse pelos Quadrinhos levou o professor da Universidade Federal da Paraíba a criar uma editora, a Marca de Fantasia. Ela existe, diz, "pela mediocridade do mercado, que não valoriza os autores nacionais". A editora existe há 11 anos. Possui obras com Quadrinhos e sobre Quadrinhos. É nestas o ponto forte. Possui o maior acervo do país de títulos teóricos sobre o assunto. O último livro, lançado nesta semana, foi escrito pelo próprio Magalhães. Humor em Pílulas é um estudo pioneiro. Remonta parte da história do Quadrinho Nacional sob o ponto de vista das tiras. Sempre que algo assim foi feito, o gênero ficava diluído como um dos elementos dos Quadrinhos. Há poucos estudos a respeito no país, em geral escondidos nas prateleiras das universidades. Seu livro aborda as tiras nacionais. No seu entender, há muita diferença em relação às americanas? Sim, há muita diferença no aspecto de conteúdo. As tiras brasileiras têm sua força na crítica social, ligada a nossa cultura e realidade. As norte-americanas, para poderem ser veiculadas em todo o mundo, são mais neutras, não buscam a provocação e a crítica, salvo as exceções. Por que o rótulo "humor em pílulas" (nome do livro)? Assim como as pílulas farmacêuticas, as tiras têm que ser compactas, comprimidas, e tomadas sistematicamente: são tiras diárias. Na sua pesquisa, você identificou um "marco zero" para a tira nacional? Não. Não tive essa preocupação, até porque este é um estudo pioneiro e as fontes de pesquisa são raras. Dei mais ênfase à produção da década de 1970 em diante, que é a que conheço um pouco mais. Há um outro formato de tira, a de aventuras, em que a história é contada um pouquinho a cada dia. Esse tipo de formato está em extinção no Brasil? Se sim, por quê? Creio que sim. Hoje os jornais são apenas mais um veículo de informação entre tantos e os leitores não são mais tão assíduos quanto em outras épocas, de modo que fica difícil acompanhar uma tira seqüenciada. A de humor se resolve o mesmo dia, o que facilita sua veiculação. As revistas em quadrinhos são mais apropriadas para as histórias de aventuras. O humor, que é o ingrediente principal das tiras, é muito sedutor e, não raro, leva à reflexão. É por isso que as tiras de humor gozam dessa simpatia do público. Existem no Brasil muitas coletâneas de tiras, mas pouquíssimos estudos e publicações sobre o assunto. Foi difícil encontrar material de referência para compor a obra? Sim. Não encontrei nenhum estudo aprofundado sobre o assunto, apenas artigos em revistas e citações em livros. Isso reforçou meu empenho em estudar o assunto. Não se compara com o modelo norte-americano, com sua eficiência e agressividade. Falta muito para o Brasil ter uma distribuidora profissional e abrangente. A internet é o novo canal de distribuição das tiras? Estamos caminhando a passos largos para um novo suporte? Não creio. A internet é boa para divulgação, não para veiculação. Não se compara o prazer de folhear um livro a ler na tela do computador. Talvez isso mude com as novas gerações de leitores, educados com os recursos eletrônicos. Por enquanto, vamos curtindo a revista, o fanzine, o jornal, o livro em seu formato impresso. *Paulo Ramos é editor do Blog dos Quadrinhos, onde esta entrevista foi publicada originalmente. |
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