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Entrevista: Fernando Ventura
Por Eloyr Pacheco
17/08/2006

Zé Carioca no traço de Fernando Ventura


Conhecido por seu trabalho nas revistas Disney da Abril, onde escreveu e desenhou diversas HQs de personagens como Zé Carioca e Mickey, o quadrinhista Fernando Ventura criou A Turma do Pipo e recentemente ilustrou histórias de Os Padrinhos Mágicos para a Revista Recreio. Apaixonado pelas HQs da Disney, Ventura é um dos coordenadores brasileiros do Inducks e participou de uma palestra sobre Mestres Disney na EBA! 2º Festival de Artes e Quadrinhos. Na entrevista a seguir, realizada por e-mail, o artista fala de suas influências, histórias preferidas e muito mais.

Como surgiu seu interesse por Quadrinhos, tanto como hobby como opção de profissão?

Aprendi a ler com os quadrinhos e desde os 5 anos dizia que "queria trabalhar na Editora Abril"! Anos mais tarde, durante a faculdade, conheci o saudoso Waldyr Igayara, que havia sido diretor-editorial da Abril. Com seu incentivo produzi uma história do Zé Carioca que agradou ao Euclides Miyaura, então editor da linha Disney.

E...?

Estávamos em 2000 e tive a oportunidade de escrever e desenhar histórias do Zé Carioca, Pato Donald e Mickey. Mas a Abril parou de produzir e passou a publicar apenas histórias estrangeiras e republicações. Desde então trabalhei com style-guides, ilustrações e projetos variados. Faço trabalhos para a Disney brasileira e sou ilustrador do site iGirl (portal iG). Meu interesse por HQs Disney inclui também o projeto Inducks, uma base de dados, do qual sou o coordenador brasileiro, ao lado do Arthur Faria Jr. Já pesquisei acervos de originais e troqueis centenas de cartas e e-mails com autores para descobrir quem fez o quê nesses 40 anos.

Quais são suas principais influências? Carl Barks nem precisa mencionar, não é?! (Risos)

Barks, Cavazzano, Hubbard, Scarpa, Branca e principalmente os brasileiros Podavin, Herrero, Kimura, Rogério Soud, Paulo Borges, Irineu e Moacir Rodrigues foram e são grandes influências. E claro, o Canini! Todos foram extremamente criativos e geniais.

Cite uma HQ inesquecível para você de um desses "monstros" dos Quadrinhos?

Se Meu Caminhão Andasse, do Paulo Paiva e do Canini é muito engraçada e toda vez que releio morro de rir. São 7 páginas do Zé Carioca e seus amigos tentando chegar à uma vila vizinha num caminhão velho, caindo aos pedaços. O caminhão não pega e os amigos tem que descer para empurrar várias, várias vezes: "Morreu, desce todo mundo - Pegou, sobe todo mundo". Um exemplo de simplicidade, brasilidade e bom-humor.

O que você já produziu na linha Disney? Qual HQ de sua autoria é a sua preferida?

Já escrevi, desenhei, colori e traduzi quadrinhos Disney. Pra Abril, Egmont e Gemstone. Minhas HQs favoritas infelizmente são projetos de gaveta! Em uma delas Tio Patinhas manda instalar torneiras de refrigerante nas casas da Vila Xurupita. Aos moradores basta pagar a conta no fim do mês.

E como é o processo para essas HQs sairem da gaveta?

Todo ano termino alguma história que ficou parada no meio do caminho ou escrevo alguma nova. Posso ter nascido 20 anos atrasado, mas continuo tendo certeza do que quero, nem que seja por hobby! A Abril conhece meu trabalho e o material inédito, mas sabe também que os gibis precisam vender bastante pra justificar o investimento. Mas, se um dia a produção voltar, tem muita coisa prontinha pra usarem! Só espero que não seja publicação póstuma...eh, eh, eh!

Você gosta mais de fazer roteiros ou de desenhar suas HQs?

Gosto de ambos! Escrever roteiros é esforço mental. Desenhar é um esforço físico. Fechar um roteiro é como terminar as complicadíssimas provas de matemática da escola. Desenhar é brigar com o lápis e o papel, para que saia do jeito que você quer! Portanto não consigo fazer nenhum dos dois com facilidade! Eh, eh, eh!

Como está sendo fazer HQs dos Padrinhos Mágicos para a revista Recreio?

Foram apenas duas histórias até agora (publicadas nas edições 330 e 331). Tomara que tenha mais. Foi ótimo trabalhar com o Arthur Faria Jr., excelente roteirista e o Toni Caputo, que fez a arte-final e as cores digitalmente. É um oásis poder desenhar personagens sem compromisso com o politicamente correto. Esses dias tive o prazer de assistir no Anima Mundi o clássico de 1945 Você Já Foi à Bahia?. Foi emocionante ver a reação da platéia, lotada, se divertindo com um filme tão antigo. E ninguém na platéia foi atingido pelos tiros do Panchito. E olha que ele atirou pra valer durante o filme todo! :)

O Bigorna.net agradece a Fernando Ventura pela entrevista.

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