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Por Roberto Guedes 14/08/2006 Um fenômeno bem interessante vem ocorrendo em nosso mercado editorial de Quadrinhos, e não é de hoje: o de tiragens cada vez menores para o aumento substancial de títulos à venda. Ao contrário do que se previa no começo deste século – de que as revistas em Quadrinhos iriam sumir de vez das prateleiras –, nunca se viu tantos lançamentos e novidades à disposição dos leitores. Há revistas, álbuns e especiais para todos os gostos, tendências e “bolsos” que você puder imaginar. Por outro lado, é difícil encontrar uma banca de jornais que tenha em seu mostruário tudo que as editoras publicam mensalmente. Alguns títulos, inclusive, são encontrados apenas em comic shops (estabelecimentos voltados única e exclusivamente aos aficionados por Quadrinhos e derivados, como DVDs, trilhas sonoras, action figures, etc.), devido às tiragens pequenas, que variam de mil a três mil exemplares. E mesmo as grandes editoras, com tiragens cada vez mais mirradas, são obrigadas a se valer do expediente da tal “distribuição setorizada” que, de imediato, e por questões econômicas, privilegia determinadas regiões em detrimento à outras. As praças “renegadas”, portanto, são forçadas a receber o encalhe das primeiras um mês depois. Para o autor brasileiro, a coisa torna-se mais desesperada ainda, já que ninguém quer arriscar mais um investimento – pequeno que seja – em algo novo, sem qualquer amparo de mídia; casos dos super-heróis americanos e/ou dos mangás. Estes, por si só, já trazem em seu bojo anos de exposição em desenhos animados, telefilmes, games e produções cinematográficas. É claro que para toda regra há exceção, mas é exatamente pelo fato da exceção não ser regra é que devemos sempre procurar soluções, certo? Desde sempre, coube à maioria dos quadrinhistas brasileiros a missão da auto-edição, seja em fanzines, seja em revistas independentes; ora em sistema cooperado, ora solitário com seus próprios recursos. Alguns alcançam uma produção gráfica mais profissional, mas falham em conseguir encaixar o produto num sistema de distribuição decente e que, ao final das contas, não arranque suas calças. Bem, isso é algo bem difícil de se conseguir, haja vista que muitas editoras também sofreram reveses irreparáveis devido a uma distribuição equivocada. Por outro lado, a impressão também continua sendo um “Deus-nos-acuda”. Por mais que você negocie com a gráfica e consiga coadunar interesses e possibilidades, o custo/benefício nunca bate, e o preço de capa da revista/zine acaba sendo determinante na hora do seu – possível – leitor preferir comprar um outro gibi qualquer com o triplo de páginas, colorido e com aquele herói que aparece todo dia, há 40 anos no televisor da casa dele. Que coisa terrível, não?! Mas uma luz no fim do túnel parece estar surgindo – é bem verdade que, ainda nem é uma luz... está mais para uma fagulha de um palito de fósforo meio molhado... duro de acender. E veio da Europa... no segmento de livros. Editoras que também são gráficas vendem serviços de impressão digital e montagem de livros para autores novos (ou não) em tiragens específicas, que chegam ao mínimo de, até, uma única cópia impressa. Assim, poetas, ensaístas, contistas, romancistas, historiadores, biógrafos ou sei lá o que mais, têm a possibilidade, enfim, de publicarem suas obras – que por um motivo ou outro não o fizeram antes. A tal impressão digital, dizem, é superior à fotocópia e se equipara a do offset. Seus defensores garantem, inclusive, que para um leigo, não há diferença alguma e que somente alguém habituado a lidar com processos gráficos, com o famoso “olho clínico”, saberia reconhecer uma impressão de outra. Na verdade, não importa muito, contanto que o produto final fique decente... bem apresentado. Em geral, essas editoras/gráficas também possuem pontos comerciais: redes de livrarias e/ou revistarias, e se disponibilizam a distribuir e expor as obras do autor interessado mediante um acordo de valores pré-estabelecido entre as partes. Quer dizer, você poderia imprimir uma tiragem pequena, “experimental” de, digamos 50 ou 100 exemplares e colocá-los à venda em estabelecimentos comerciais. Pode até rolar uma “tarde de lançamento e autógrafos”, hein? Definitivamente, não parece um mau negócio (...) ainda mais, quando se vislumbra a possibilidade da reimpressão contínua, ad aeternum. A outra boa nova é que esse tipo de serviço já existe no Brasil (mas não me pergunte nomes... faça uma pesquisa num site de busca da Internet, escrevendo “impressão sob demanda”), com algumas variações de serviços, mas que no geral, fazem tudo isso que descrevi acima. E para um futuro não tão distante, dizem os feras do setor gráfico, até mesmo as grandes editoras de livros irão partir para impressões digitais, para não amargarem mais prejuízos com estoques de certos títulos que se recusam a findar. Assim, o cidadão chegará numa livraria e, depois de consultar num terminal (uma tela de computador) todos os títulos disponíveis para venda, poderá chegar ao balconista e dizer: “Quero o Tom Sawyer do Mark Twain!” – e lá vai o cara imprimir o livro na hora pra você, com direito a encadernação, e papel de miolo que você escolher. Praticamente, um livro personalizado. A pergunta é: esse sistema de impressão sob demanda não seria uma boa, também, para os Quadrinhos brasileiros? Eu acho que sim. Afinal, com a garantia de uma impressão boa a preços razoáveis, e com a distribuição garantida em pontos de vendas de boa freqüência – além de poder figurar no site e catálogo da editora – o autor de HQB tem uma ótima chance de emplacar seu produto – claro, se o produto for bom. Mas esse não é o assunto em questão aqui. A editora Marca de Fantasia, do editor, escritor e pesquisador Henrique Magalhães, vem há anos operando num sistema, salvo engano, bem próximo desse da impressão sob demanda – reimprimindo continuamente seus títulos que, pela lógica, jamais sairão de catálogo. Vale ressaltar que algumas dessas gráficas/editoras que operam com impressão sob demanda, por questões técnicas, não aconselham uma impressão em preto para material que tenha muitas figuras, o que, de cara, já descartaria uma revista de História em Quadrinhos. Caberá, então, ao autor interessado, uma verdadeira pesquisa de mercado em busca de orçamentos interessantes e serviços bem executados. No campo da distribuição, será preciso repensar o formato de revista para, quem sabe, o de álbum, para que chame a atenção dentro de uma livraria. O futuro está aí, e o autor brasileiro deve buscar seu espaço... e quem sabe agora, com a colaboração desses sofisticados e acessíveis recursos tecnológicos. |
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