Quando eu lia freneticamente Mônica, nem a revista Cebolinha tinha aparecido ainda. Dava um orgulho danado de ver uma editora como a Abril ter tanto a gurizada de carinha espichada e orelhas grandes do Mauricio de Sousa quanto os patos da Disney. Anos mais tarde, me vejo trabalhando na Editora Globo, no início dos anos 1990, quando alguém do setor de fotolito me contava: "olha, as revistinhas do Mauricio são as que mais vendem na área de quadrinhos em todo o Brasil. E entre as revistas do Mauricio, o sucesso mesmo é do Chico Bento...".
Essa passagem dos personagens de Mauricio de Sousa, da Abril para a Globo, coincidiu com a ida da Folha de S.Paulo para o Estadão. Ventos de mudança. Esses ventos sopram uma vez mais. Antes mesmo de acabar o ano, é anunciado o contrato assinado entre a Turma da Mônica e uma das maiores editoras de quadrinhos européias – a Panini Comics. Iniciando, portanto, as atividades a partir de 1º de janeiro de 2007, os personagens de Mauricio terão distribuição exclusiva em Língua Portuguesa no Brasil e em Portugal. Ao mesmo tempo, as tiras de Ronaldinho Gaúcho e da Turma da Mônica começaram a ser distribuídas mundialmente pela Universal Press Syndicate, uma das cinco "majors" do mercado internacional de material de Imprensa (as outras são a King Features, a United Media, a Creators e a Tribune Media Services). Os desenhos animados de publicidade, com a imagem do goleador do Barcelona, são veiculados em campanhas em prol da Infância. E há sinais de dois longas-metragens vindo por aí.
O caso da Panini é interessante. Toda a gama de produções da Mauricio de Sousa (álbuns, gibis, livros de atividades, livros) ficará a cargo dela a partir da data estipulada em contrato. Assim, a editora torna-se, de sola, como ela mesma enfatiza, o maior conglomerado de quadrinhos infantis do País e uma das maiores e mais importantes do mercado global latino-americano. A composição dos títulos atuais de Mauricio com os que estão sendo projetados (isso quem diz é a campanha publicitária da Panini) ao lado dos títulos colocados em bancas atualmente é que dá esse cartaz. Mesmo as mensagens publicitárias da Panini, em italiano, pintam Mauricio de Sousa como o "Disney brasileiro", para que o público europeu possa ter a dimensão do alcance da produção gráfica em torno dos personagens da Turma da Mônica. Desta forma, o grupo empresarial liderado pelo cartunista se internacionaliza. E, ainda segundo a assessoria da Panini, há dez anos que o "cortejo" entre as duas empresas vem acontecendo. Claro que um fato será lembrado nesse momento, se bem que de importância questionável para o alavancar dos negócios, mas Mauricio de Sousa é detentor de um Yellow Kid, o prêmio máximo dos comics. Esse prêmio foi a ele atribuído na década de 1960, em Lucca, na Itália.
O fato é que o contrato celebrado entre a Mauricio de Sousa Produções e a Panini Comics tem prazo até a próxima década. A editora, sediada em Módena, na Itália, possui subsidiárias espalhadas pela Europa e pela América Latina. No segmento de cards e álbuns de figurinhas, é líder imbatível. Edita mangás e DVDs de animes nesses mercados que ela abrange. Em 2005, o faturamento do grupo editorial italiano ultrapassou a casa dos 400 milhões de euros, com canais de distribuição em mais de 100 países, contando com um staff interno de mais de 640 funcionários.