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Por Wilson André Filho 07/08/2006 A edição número 15 da Quadreca (divulgada aqui) teve o seu pré-lançamento realizado durante o HQ Mix 2006 (como noticiado aqui), neste dia mesmo garanti o meu exemplar e, de cara, numa rápida passada de olhos, já gostei da edição. Na festa de entrega do HQ Mix é muito difícil se concentrar em apenas uma coisa, pois todos estão correndo para lá e para cá, na intenção de encontrar os amigos e conversar com o máximo de pessoas possível e eu ainda tinha o lançamento do fanzine em que participo para cuidar. Passado quase um mês, finalmente terminei a leitura da revista, e, como não sou teórico (nem filósofo) vou comentar a publicação apenas como leitor, designer e produtor de Quadrinhos. A edição continua a me agradar, quanto à impressão e o acabamento gráfico; a diagramação das páginas editoriais não tem grandes arroubos em termos de design, mas é limpa, objetiva e funciona muito bem, possibilitando uma leitura clara dos textos. A única coisa que não gostei foi a divisão do segundo box na matéria Quadrinhos pra ensinar e aprender, não acho que precisava “quebrar” a leitura, passando para a página seguinte, quando podia percorrer todo o rodapé das páginas 20 e 21, possibilitando uma fluência constante da leitura e a matéria acabaria na página 22 sem problema. Como é uma questão de gosto pessoal não vou tirar o mérito do Leonardo Pascoal - que atuou como diretor de arte da edição - quadrinhista como o autor das tiras Red Killer e Ato Revolucionário nº 37. Começando pelo início, a capa, ao contrário da edição anterior, que era bem colorida, dessa vez é em duas cores, vermelho para o logotipo e o número e uma montagem em preto e branco de cenas das histórias, que começa na frente e emenda até a quarta capa. Já ouvi muita gente criticar esse tipo de capa; eu não desgosto, já que, como se trata de uma publicação com muitos artistas, agrada a todos os participantes. O que realmente acho ruim é que ela se repete na segunda capa, em benday de cinza e na página 4 por baixo do índice, ou Menu, como chamaram. Como é dito no editorial, há quadrinhistas conhecidos e outros nem tanto na edição, mas pelo breve histórico de cada um, no final, você percebe que mesmo os “desconhecidos” já têm envolvimento com Quadrinhos, ilustração e design de forma geral, o que acaba ajudando a revista; entretanto, faltam históricos de alguns participantes, isso não é bom. Quadreca #15 começa com Homem-Aranha brasileiro, com roteiro de Guilherme Kroll e arte de Wilsk Barbosa. A HQ é engraçada, o desenho é bom. Um conselho que sempre dou - ninguém gosta, mas eu falo assim mesmo -, desenhista: ao assinar a história, coloque seu nome legível; na edição ele estava junto com o título, mas quando seu trabalho estiver “solto” por aí ninguém vai saber quem é você, porque a assinatura do Wilsk é indecifrável. Ao trabalho, de Daniel Brandão, que é editor do premiado fanzine Manicomics, é a segunda; essa HQ não tem diálogos, como a anterior, o autor joga tudo na força do seu traço. Depois vem Bergen-Belsen, de Ronilson Freire, que me lembrou, de longe, o estilo do Jordi Bernet, criador da série Torpedo. Entrever, por Rafael Anderson, achei um tanto hermética, creio que o autor tem uma visão particular sobre o mundo, nesses casos eu prefiro me eximir de comentar. A próxima história é a que mais gostei pelo roteiro, Porca Miséria, com texto e arte de Marcos Caldas. Uma HQ inteligente, com enquadramentos e narrativa visual que funcionam. Tem uma cena muito boa na página 27 (a melhor) e o artista não esquece dos cenários, o que é bom, a ambientação integra o leito ao contexto. Em termos de arte, para mim, a melhor é Dois Sóis, de Marlon Tenório: o desenho é estilizado e lembra figuras entalhadas em madeira, ele usa dois tons de cinza em alguns quadros, criando um contraste entre primeiro e segundo planos, podia usar mais que seria legal. Abrindo o caderno colorido, temos Às vezes, tem que sê feito o que tem que sê feito, de Thiago Cruz, conhecido pelo fanzine Ossos-Tortos; essa me chamou atenção pela técnica de desenho e colorização utilizadas, fiquei na dúvida e recorri ao Leonardo Pascoal para esclarecer, o desenho em preto foi feito em envelope de papel pardo depois pintado com tinta mesmo e o contraste foi aperfeiçoado no Photoshop. Só nós dois, de Camila Torrano, fecha o caderno cor: o roteiro beira o terror e é legal, as cores são feitas no computador, usando uma paleta escura a artista dá o tom sombrio da HQ, pena que a história termina fora do caderno cor e por isso vira P/B, daí perde um pouco da força visual. Fazendo parte do grupo dos quadrinhistas conhecidos temos Bira Dantas com a HQ Quem espera sempre... Alcança?, com roteiro de Cláudia. Bira dispensa apresentações, é o caricaturista mais ligeiro que eu conheço, essa história me fez lembrar os desenhos europeus e os quadrinhos da Mad, dos anos 1970. Depois vem outro conhecido, o Joacy Jamys, que nos dá duas HQs curtíssimas (1 página cada) de humor, Squat Kasa Velha (o último “A” grafado como o símbolo anarquista) e Casamento, essa com roteiro de Curisco, gostei mais da primeira. A seguir Tchau nuvem, com roteiro e arte de Amora Bettany: o estilo de desenho passa raspando o mangá, a história tem um clima bem mais leve que as outras da edição. Confissão, escrita por Daniel Esteves - o nome não me era estranho, uma passada na internet e fiquei sabendo que se tratava do professor e diretor da Escola HQEMFOCO -, os desenhos, de autoria de Mario Mancuso (de quem eu não sei nada, desculpem a ignorância), são equilibrados, trabalhando o claro escuro muito bem e fazem jus ao clima de suspense da HQ, que, no entanto, não é inédita pois está no site da própria escola. Fechando a edição O Resgate, de Beto Nicácio, autor premiado em vários salões de humor, “pinta” a história com um tom de cinza que a deixa um tanto apagada, pois o contraste é mínimo. A respeito das matérias que completam a parte editorial da edição, além daquela mencionada no início, temos uma que trata dos Quadrinhos Alternativos e uma entrevista com os “cabeças” da revista Kaos!, Sam Hart, Jean Canesqui e Sandro Castelli; essa para mim foi a melhor, pois ficamos conhecendo as opiniões de quem conseguiu emplacar três edições de uma revista em Quadrinhos, mostrando que houve uma brecha no mercado nacional que eles souberam ocupar, por um tempo. Curiosamente, essa edição da Quadreca não mantém a distribuição da anterior e não vai para as bancas; na minha opinião, perdeu um espaço importante, na medida em que se fala tanto no tal mercado de Quadrinhos. É claro que estou falando agora como leitor, essa decisão deixa de fora uma parcela de consumidores, mas por outro lado, compreendo que as dificuldades de distribuição são sempre um complicador, o tempo dirá se a escolha foi acertada ou não. Para fechar, achei o preço, R$ 5,00, muito justo; a edição vale o investimento.
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