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Entrevista com Telio Navega (da Gibizada, d´O Globo)
Por Pedro de Luna
04/08/2006

Você conhece a Gibizada? Não? Pois deveria. Trata-se de uma coluna especializada em Quadrinhos publicada no jornal O Globo pelo designer Telio Navega. No formato impresso, sai na última terça do mês, no caderno adolescente Megazine – por que os editores da grande mídia continuam achando que HQ é coisa de criança? – porém, no online, a atualização é quase diária. Ao comemorar o primeiro aniversário, o Bigorna.net conversou com o autor da façanha, afinal, nas palavras do próprio, “não dá para usar um veículo de comunicação tão poderoso como o Globo para falar somente de Super-Homem ou Homem-Aranha, existe muito mais que deve e precisa ser noticiado”.
 
Telio, sei que a iniciativa da coluna foi sua. Já tentaram acabar com ela ou, pelo contrário, cada vez mais ela ganha força dentro de um jornal grande e conservador como O Globo?
 
Tanto a versão online (o blog) quanto a impressa, foram iniciativas minhas, realmente, mas encampadas de imediato pelo Rodrigo Pinto, o editor de cultura do Globo Online e pela Adriana Barsotti, editora do Megazine. Jornalismo é algo difícil de se fazer sozinho, talvez o longo tempo como diagramador de cultura e colaborador eventual de textos para o Prosa e Verso e o Megazine tenham ajudado na aprovação da Gibizada pelas duas redações (a do Globo e a do Online). O Globo já não é mais tão conservador como antigamente, muito pelo contrário, hoje temos editorias, seções e cadernos mais modernos, como muitos outros jornais do Brasil. A coluna Rio Fanzine (N. do E.: Atualmente comandada por Tom Leão e Carlos Albiquerque), por exemplo, está prestes a fazer 20 anos. E é uma das melhores páginas de cultura alternativa do país.

Por que você acha que não existem "gibizadas" nos principais jornais do Brasil?

Talvez por preconceito com os Quadrinhos, por falta de iniciativa de editores de jornais, quem sabe? Acho que não dá para dar somente o que o leitor quer, veículos de comunicação também devem sugerir, há um princípio educacional. Mas com o volume de lançamentos dos últimos meses; a criação de duas novas editoras como a Pixel Media e a HQ Maniacs; e o surgimento de uma revista só de super-heróis (N. do E.: A Mundo dos Super-Heróis), isto com certeza deve mudar. Não via o mercado tão animado assim desde a década de 1980.

Ainda se atribui Quadrinhos a crianças e adolescentes. Porém, você vem quebrando este tabu e conseguindo publicar matérias no caderno Literário, o Prosa e Verso, mas também no teen (Megazine). Como conseguiu esta façanha?

Acho que só estava no lugar certo na hora certa.  Nada demais. Ainda não escrevi e nem vi publicado nem uma parcela do que gostaria. Acho que os Quadrinhos merecem, é uma arte poderosíssima que reúne milhões de referências, conteúdo e é tratada como menor. Boa parte da culpa, na verdade, é das grandes editoras, que só publicam a beirada da sopa: os super-heróis. Sãos bons? Sim, mas já esfriou.

Se você fosse um desenhista de Quadrinhos duro, como faria para conseguir imprimir seu trabalho e viver dele?

Acho que é bastante difícil, senão impossível viver só de Quadrinhos no Brasil. Acho que só o Mauricio de Sousa. Você acaba precisando ser designer, diretor de arte, jornalista (mais uma loucura), professor (outra loucura), etc. Mas tentaria fazer o que alguns desenhistas brasileiros andam fazendo: com o portfólio embaixo do braço, bater de porta em porta das editoras oferecendo o meu trabalho, mostrar aos jornais, levar às feiras internacionais, imprimir por conta própria através de empréstimos... o negócio é ser visto. Ninguém pode desenhar apenas para si. Ou morre de fome.

Sem se influenciar com o Eisner Awards, quem você premiaria até o momento como melhores do ano?

O Eisner é bom, mas não é o ideal, só enxerga o umbigo. Cadê as HQs de outros países? Os americanos de colonizados querem ser colonizadores, tremenda arrogância. Fiz uma listinha de melhores livros lançados aqui no Brasil este ano lá na Gibizada online e, dentre eles, poderia destacar o trabalho original do paulista André Kitagawa, publicado de forma independente (N. do E.: O álbum Chapa Quente); a excelente trama de Os Mortos-Vivos, de Robert Kirkman; a afinal estréia de Aldebaran no Brasil, do brasileiro Léo; e o provocador O gato do rabino, do francês Joaan Sfar, trabalhos tão diferentes que só reforçam o poder dos Quadrinhos em contar uma boa história. Há muito mais neste universo do que meros caras com superpoderes. Dá para acreditar que até hoje não saiu no Brasil nenhum álbum do Chris Ware ou do Craig Thompson? E Daniel Clowes?! Só saiu um.

Você sabe quantos acessos e visitantes tem o Gibizada por mês?

Por dia tem cerca de 1.500 visitantes únicos, é um parâmetro mais preciso que acessos, bem mais. Mas adaptações cinematográficas de Quadrinhos têm mais acessos no Gibizada. O post que fiz sobre o filme do Super-Homem de Bryan Singer teve mais de 10.000 visitantes no dia e o que postei a foto de Thomas Haden Church como o Homem-Areia está com 12.000 visitantes hoje, alguns meses depois da publicação.

Por fim, existe algum plano futuro para expandir o Gibizada?

Plano não existe nenhum, acho que ainda é muito cedo: um ano de Gibizada online e apenas três colunas no Megazine. Gostaria de ver a Gibizada impressa com mais atualizações, mas só pensarei nesta possibilidade depois de um retorno dos leitores do jornal. Quero saber se estou no caminho certo.

Para conferir a coluna clique aqui.

O Bigorna.net agradece a Telio Navega pela entrevista.

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