NewsLetter:
 
Pesquisa:

Resenha: As Aventuras do Capitão Presença
Por Pedro de Luna
27/07/2006

Ele foi chegando de mansinho e, aos poucos, entrando na roda. Agora, as aventuras do super-herói criado por Arnaldo Branco e inspirado no fotógrafo Matias Maxx, chega às livrarias através da Conrad Editora. Estou falando dele, o inigualável, o seqüelado, o polêmico Capitão Presença. Que ninguém pense que o processo foi fácil, como explica o autor. “A maior parte das 140 páginas é inédita. Quando a Conrad encomendou o álbum, eu só tinha 30 tiras e duas histórias de duas páginas”. Se alguém apostava que, entre tapas (cof cof) e beijos, ele não conseguiria, seis meses depois Arnaldo cumpriu a missão. “Sou profissional em relação a meus vícios, não deixo que nenhum hobby idiota como desenhar Quadrinhos atrapalhe nenhum deles”. Resposta da lata.

As Aventuras do Capitão Presença é um livro completo, que conta a origem do personagem, seus companheiros (Super Aba, o cão Malhado e o Mané Bandeira que, como diz o nome, sempre explana), seu inimigo (o editor JJ Blóide), a história da maconha e faz paródia com contos infantis como O Menino do Dedo Verde – no caso, amarelo. Com um humor ácido, Arnaldo não perdoa os políticos, as celebridades e sobretudo a polícia. “Quer ver apologia de verdade?” – pergunta o quadrinhista – “pergunta sobre a erva para um paciente de glaucoma com permissão médica para se tratar com canabis”. Generoso, o autor não prende o beck e passa a bola para quem, no livro, chama de cúmplices. São outros desenhistas que também fizeram suas versões para o Capitão Presença. Aliás, o personagem está licenciado no Creative Commons e qualquer um pode fazer a presença que melhor lhe convir. No entanto, Branco é crítico quando se fala em liberdade de expressão. “Temos alma de síndico de prédio, estamos sempre reprimindo, dando palpite sobre o que fulano ou sicrano devia fazer ou dizer. Então já estou acostumando, o Presença é o de menos”, rebate.

Totalmente impresso em off-set preto e branco, o formato cai como uma luva para o traço simples, quase tosco. Seria uma evidência de que Arnaldo Branco é melhor como roteirista, um Goscinny da ganja? “Odeio desenhar e odeio aprender da forma clássica”, responde ele. “Costumo dizer que o segredo da originalidade é não lembrar direito onde foi que você já leu aquilo. Mas a técnica de desenho se aprende ou freqüentando um curso ou desenhando bastante, e não gosto das duas coisas”, completa o autor destacando Crumb, Angeli, Sieber, Leonardo, Zimbres e Jaca como seus preferidos. Quando o assunto é a lei de Quadrinhos que tramita em Brasília, ele tem uma resposta na ponta da língua: “A única política que apóio para a cultura é a Condescendência Zero, em todos os setores”. Trabalhando há 10 anos com carteira assinada, com facadas/descontos mensais no contracheque, Branco diz que “ia se sentir mais ressarcido do que outra coisa”, porém “ninguém pode se fiar nisso para construir uma carreira artística”. E vai além: “O critério tem que ser sempre a qualidade ou interesse do público – se uma tira de valor contestável atrai leitores, bem, há que se suportar essas franquias do Ziraldo e do Miguel Paiva”, espeta. “Preferia ver mais gente como Peter Bagge, Johnny Ryan e Kaz nos jornais brasileiros do que um cartunista sem muito engenho – mas, vejam só, nascido em Quiprocó da Serrinha, brasileiro da gema”.

As Aventuras do Capitão Presença está à venda nas livrarias e lojas especializadas em Quadrinhos, mas também é recomendado para tabacarias. Aliás, poderia ser impresso em papel de seda. Dito isso, pare de enrolar (ou não) e chape o coco lendo as aventuras quase reais do super-herói que muita gente gostaria que existisse na vida real.

 Veja também:

Capitão Presença: lançamento em São Paulo

Capitão Presença, de Arnaldo Branco, pela Conrad

Quem Somos | Publicidade | Fale Conosco
Copyright © 2005-2024 - Bigorna.net - Todos os direitos reservados
CMS por Projetos Web