|
Por Ruy Jobim Neto 17/07/2006
Winona Ryder, quem diria, não acabou no Irajá. Depois de uma temporada complicada, com prisões em lojas de grife em Los Angeles graças aos seus ataques de cleptomania, e depois de participar de alguns filmecos, a atriz retorna num grande projeto. Ufa! Já não era sem tempo. O filme chama-se A Scanner Darkly, de 2006, e bem que poderia ser lançado como longa-metragem numa sessão adulta do Anima Mundi, graças à sua técnica primorosa de rotoscopia. Nele, a bela Winona não está na categoria de produtora, como em Garota, Interrompida ou em Adoráveis Mulheres (filmes que ela produziu pra ver se descolava uma indicação ao Oscar, o que não deu certo), e entre os produtores estão ninguém menos que os sócios e amigos Steven Soderbergh e George Clooney. A direção e o roteiro são de Richard Linklater (que também dirigiu e roteirizou Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol, aqueles, com Julie Delpy e Ethan Hawke). A história é baseada em romance lançado sob o título de O Homem Duplo em 1977 e escrito por Philip K. Dick (autor de Blade Runner). Aqui, Winona Ryder trabalha apenas como atriz. O filme foi bem recebido pelo público e a crítica americana, mesmo tendo uma apresentação da história considerada deficiente, a trama, ou a ausência dela. No entanto, é todo composto em rotoscopia, que é, em parcas palavras, a técnica de animação na qual os movimentos são primeiramente filmados com atores reais e depois transferidos, quadro-a-quadro, para a animação 2D (feita a lápis e arte-finalizada com pintura digital). A equipe de animadores é, pelo visto, primorosa. Basta uma olhada nas imagens do filme.
O personagem central é de Keanu Reeves. Ele interpreta Bob Arctor, um agente de narcóticos que vai atrás da fonte de produção e venda da letal "Substância D". O "D" do nome da substância vem de "death" (morte) e compõe, portanto, a mais perigosa droga existente no mercado, conseguindo cancelar o link entre os hemisférios da mente, levando a um irreversível dano cerebral. Daí, a trajetória de Arctor ser tragicômica, pois ele mesmo é um dependente da Substância D. Ele vive tantas vidas a ponto de seus superiores, na polícia, não saberem como identificá-lo. Ora ele pode ser confundido como sendo Bob Arctor, traficante, ora como "Fred", uma outra identidade do também agente do Narcóticos Bob Arctor. Enfim, só assistindo pra conferir. Se o filme tiver no mínimo a carga psicanalítica do livro homônimo de Philip K. Dick, já será um ganho. A Scanner Darkly trata, entre outros temas, do consumo de drogas. Em relação às técnicas de filmagem, o filme se mostra cativante. Reside aí o seu diferencial. Nesse aspecto, ele é bem sucedido, permitindo à platéia compartilhar lampejos de paranóia e de desilusão dos personagens. O "blur" (ou seja, a tela embaçada) utilizado em boa parte do filme ajuda nessa atmosfera de desconexão, de confusão total provocada pela tal Substância D. Assim, consegue se enfatizar a caricatura bastante ácida e mórbida, repleta de diálogos que vão do surreal ao cômico entre pessoas cujas mentes se renderam a viagens alucinantes e alucinógenas. O trailer, na internet, é um show de imagens (clique aqui para assistir). A crítica americana e mesmo os fóruns sobre A Scanner Darkly nos adiantam que, embora talentoso pela maneira de ser construído, o filme peca pela dificuldade de mostrar o conflito, de decolar a tensão, sem a qual é impossível assistir a qualquer coisa. Mesmo o mundo de paranóia e conspiração (o trailer enfatiza a idéia de que "qualquer ação sua pode ser gravada", daí a idéia de scanner) fica inerte, porque essa experiência parece perdida no plot, na trama. O curioso é que Linklater faz isso, só que suavemente e tendo o romance como pano de fundo, em dois de seus filmes anteriores, aqueles dois que têm no elenco a dupla Julie Delpy e Ethan Hawke passeando pelas ruas de Viena e Paris. |
Quem Somos |
Publicidade |
Fale Conosco
|