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Entrevista: Rodrigo Arco e Flexa
Por Paulo Ramos*
26/06/2006

Uma história pode ser contada de várias formas. Depende do ângulo dado ao assunto. O jornalista e pesquisador Rodrigo Arco e Flexa preencheu mais uma etapa da longa trajetória da Editora Brasil-América, ou só EBAL. Ele escolheu um momento específico da empresa criada por Adolfo Aizen (1907-1991), o da publicação dos quadrinhos de super-heróis entre os anos 60 e 70. Foi uma fase de proliferação das revistas do gênero.
 
A pesquisa levou três anos para ficar pronta. Foi o tema de seu mestrado na Escola de Comunicações e Artes da USP (Universidade de São Paulo), intitulado Super-Heróis da EBAL - A publicação nacional dos personagens dos comic books dos EUA pela Editora Brasil-América (EBAL), décadas de 1960 e 70. A defesa - que conferiu a ele o título de mestre em ciências da comunicação - foi na última terça-feira, dia 20.
  
Nesta entrevista, feita por e-mail, o paulistano Rodrigo Arco e Flexa conta mais detalhes da pesquisa sobre os Quadrinhos da EBAL, material que lê desde os sete anos (hoje, está com 40). E fala também do impacto que os títulos tiveram nos leitores.
 
Qual foi a hipótese da dissertação de mestrado? E a que conclusões chegou?

Minha dissertação teve como tema central de pesquisa a publicação dos super-heróis dos comic books dos EUA pela EBAL, entre meados de 60 e 70. A proposta do trabalho foi analisar as razões desse processo editorial - contextualizado dentro da história da EBAL e dos quadrinhos de uma maneira geral - investigando, ainda, de que maneiras gerações de leitores foram influenciadas por tais publicações. Realizei um amplo levantamento iconográfico das revistas da EBAL da época, além de entrevistas com leitores das publicações de Adolfo Aizen. As narrativas dos super-heróis dos quadrinhos do período, de variadas maneiras, representam (seja isso intencional ou não) a crise das antigas certezas da luta do "bem contra o mal" - marcada pela Guerra do Vietnã, a revolução do comportamento, o avanço da mídia e da tecnologia sobre aspectos da sociedade, entre diversos outros aspectos da sociedade contemporânea. E foi a EBAL a editora nacional a publicar e difundir no Brasil grande parte das histórias mais importantes desse período, com qualidades, virtudes e dificuldades que são analisadas ao longo da pesquisa. A análise contextualiza a trajetória da EBAL, propondo a leitura de histórias relevantes lançadas pela editora.
 
Adolfo Aizen é uma figura que parece permear toda a sua dissertação. Qual a importância dele: para o momento da Editora Brasil-América estudado por você; para a indústria de quadrinhos nacional?

A história da EBAL, em sua amplitude, confunde-se com a evolução da imprensa no Brasil e seus variados impactos sobre a sociedade. A EBAL investiu na publicação de revistas e álbuns em quadrinhos feitos por artistas brasileiros (ou aqui radicados) sobre fatos da história brasileira, além de adaptações da literatura nacional. Artistas reconhecidos por sua contribuição na trajetória das HQs no Brasil trabalharam para a EBAL, como André Le Blanc, Gutemberg Monteiro, Nico Rosso, Monteiro Filho e Ivan Washt Rodrigues. Os títulos aqui produzidos são importantes no lento processo de legitimação das Histórias em Quadrinhos no Brasil.
 
O que a série de entrevistas mostrou? Alguma marcou mais?

Em todas as entrevistas, aparece uma recorrência: a leitura dos quadrinhos pontuou, exerceu influências (as mais variadas) sobre a vida de cada um. A dissertação dedica o quarto e último capítulo às entrevistas colhidas, destacando comentários dos leitores sobre edições e histórias da EBAL, acompanhados pela iconografia correspondente.
 
Você sentiu algum tipo de preconceito na academia com relação a trabalhos científicos envolvendo quadrinhos?

Antes de ingressar no mestrado, imaginava que isso poderia ocorrer. Mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário, muitos colegas que trabalhavam com assuntos diferentes mostraram interesse pelo tema e até comentaram a importância em se aprofundar o conhecimento sobre uma forma de expressão tão relevante ao mundo contemporâneo, mas ainda com poucos trabalhos produzidos no país, em relação aos EUA e à Europa.
 
Este mestrado vai render um doutorado na mesma linha?

Certamente. Uma possibilidade é um estudo sobre as variadas relações da imprensa com as Histórias em Quadrinhos, uma linha de pesquisa que já venho desenvolvendo. Mas ainda não é o momento para me concentrar nisso. Ainda quero reler com calma, nas próximas semana, tudo o que escrevi. Daí, naturalmente as coisas irão ocorrer.

*Paulo Ramos é editor do Blog dos Quadrinhos, onde esta entrevista foi originalmente publicada.

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