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Por Humberto Yashima 23/06/2006 O desenhista paranaense Tako X é co-criador do super-herói O Gralha e trabalhou durante muitos anos na versão brasileira da revista Mad. Atualmente está no Japão, onde continua fazendo o que mais gosta: ilustrar. Nesta entrevista, realizada por e-mail, Tako X fala sobre quadrinhos, cinema e sua carreira. Boa Leitura! Você trabalhou no Japão como ilustrador entre 1990 e 1994 e retornou à Terra do Sol Nascente em 2004, onde abriu sua própria agência de ilustração. Foi difícil conseguir isso, mesmo sendo descendente de japoneses? Fale um pouco sobre o tipo de trabalhos que produz na agência. Na verdade é mais um estúdio, não uma agência. Tenho feito trabalhos de desenho para clientes brasileiros que montaram empresas aqui e clientes japoneses também. Meus principais clientes são editoras, agências de publicidade e particulares, fazendo logos, ilustrações, criando personagens e até alguns designs. De 1990 a 1994 eu trabalhava basicamente com clientes japoneses, mas justamente em 1994 aconteceu aqui no Japão a famosa “Explosão da Bolha Econômica Japonesa” e ficou difícil manter o padrão de vida que eu havia criado até então. Os trabalhos que pagavam bem ficaram escassos, então voltei de férias ao Brasil no final de 1994, onde percebi que a economia estava melhor e os custos eram menores (pelo menos em Curitiba, minha cidade natal), então resolvi voltar e montar um estúdio de desenho lá. Fiz uma faculdade de Belas Artes, a EMBAP, onde me formei em 2004 Bacharel em Artes Plásticas, com especialização em gravura. Fiz também um curso de cinema com a Tizuka Yamazaki, o que quase me tirou do caminho do desenho (risos)! No Japão você não se envolveu mais na produção de nenhuma História em Quadrinhos? Há algum projeto de HQ de sua autoria que está engavetado e você gostaria de finalizar? Então, no Brasil eu fazia a tira Marco pra Gazeta do Povo e era um dos criadores de quadrinhos do Gralha no mesmo jornal, mas depois que ambas foram canceladas do jornal (o único do Paraná com capacidade para este tipo de projeto, mas que também começou a ter problemas econômicos com a Crise do Papel) eu praticamente não fiz mais quadrinhos. Acho que vou voltar agora, já que acabei de ser contratado para fazer a charge e uma tira pro maior jornal aqui da comunidade brasileira no Japão, o International Press. Como foi a sua experiência de direção nos curtas-metragens do Gralha. Você planeja voltar a dirigir? Foi muito legal, eu sempre sonhei desde pequeno em dirigir um filme, desde que assisti E.T., queria ser o Spielberg. Assim que terminamos o curso de cinema com a Tizuka, eu apresentei ao grupo de alunos a proposta de realizar um curta live-action com o Gralha, com a condição que eu dirigisse. Bolei o roteiro e chamei meu amigo Eduardo Moreira pra encarnar o super-herói. Todos gostaram e partimos pra produção. A maioria eram jovens universitários com muita vontade e sem emprego, o que garantiu a dedicação total do grupo no mês de preparação do filme. Corremos atrás de patrocinadores e parceria com empresas de edição de vídeo que se mostraram dispostas a colaborar e serem parceiras do projeto. Rodamos em duas semanas e editamos em dois meses o curta O Ovo ou a Galinha com o Gralha. O filme é todo original, inclusive a trilha sonora e incidental, algumas foram feitas exclusivamente para o filme e outras foram cedidas por bandas locais pra uso no curta. O resultado ficou melhor do que eu esperava, houve um empenho realmente muito grande para que o resultado saísse muito profissional. Havia o câmeraman que já havia trabalhado com o Walter Avancini, e o editor já havia trabalhado na Globo paranense, e havia pessoas muito competentes em cada área, ou seja, não tinha como sair ruim. A recompensa desse esforço acabou sendo a premiação de Melhor Filme pelo júri popular do Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba de 2003. Depois fizemos somente mais um curta com ainda menos recursos pessoais e de verba, dessa vez com uma câmera digital (o outro foi em beta) chamado O Gralha e o Oil-man – um Encontro Explosivo contando o inusitado encontro entre as duas lendas vivas de Curitiba. No início desse curta fizemos uma experiência de desenho animado com o personagem e no final um trailer falso de um suposto filme chamado O Mito e lá no fim do trailer nós colocamos uma brincadeira onde o locutor anunciava: “Breve num cinema perto de você!” e em seguida aparecem só umas legendas pequeninas escrito na tela: “... se algum patrocinador se interessar!” Essa brincadeira, com o passar do tempo, provou ter um grande fundo de verdade: realmente estamos até hoje esperando esse patrocinador que nunca apareceu. Mas eu nunca tive uma ilusão muito grande sobre fazer cinema no Brasil, eu vi muitos exemplos da dificuldade de produzir filmes, inclusive da própria Tizuka que levou vinte anos pra fazer a seqüência de Gaijin, seu filme mais importante. Por isso, se o tal patrocinador não aparecer, seja no Brasil ou no Japão, o terceiro curta ou um longa do Gralha estão muito longe de acontecer. Como artista, eu estou satisfeito com os dois filmes já produzidos, acho que eles contém tudo que eu gostaria de ter falado sobre o tema de super-heróis, não acho que tenha faltado algo. Claro que se houvesse oportunidade eu faria outros filmes, por dinheiro e também pra me divertir, por que não? Mas artisticamente, se não vierem mais filmes por falta de grana, estes dois passaram a mensagem que eu quis passar, a de que um filme de super-herói no Brasil é ao mesmo tempo possível, mas improvável também. Tão improvável quanto o fato de um filme como este ganhar um prêmio num festival de cinema sério, coisa que acho difícil acontecer de novo. No seu site há belas ilustrações sobre o Japão. Elas foram publicadas ou expostas em algum lugar? Gostaria de fazer isso? Sim, como sou formado em Belas Artes, quero desenvolver este lado de desenho artístico também. Eu me identifico muito com a arte, a técnica e o desenho japonês, quero trabalhar temas orientais com uma visão de quem nasceu no Brasil e descende de japoneses. Já estou expondo e vendendo meus desenhos numa galeria em Curitiba, mas estou planejando expor meus trabalhos aqui no Japão para breve. Tenho muitos desenhos inéditos e ainda estou preparando novos. Você acompanha a produção de quadrinhos japonesa? Tem contato com artistas de mangá? Eu admiro muito os desenhistas de mangá e animê, embora eu não tenha sido influenciado por eles na minha adolescência. Nessa época os desenhos japoneses parece que foram censurados da TV brasileira por conter mais violência que os desenhos norte-americanos, então eu só me lembrava do que havia visto na minha infância como Speed Racer, Oitavo Homem, Simba, Robô Gigante e os filmes do UltraSeven e do National Kid. Quando os Cavaleiros do Zodíaco estouraram no Brasil eu já era adulto e publicava na Mad, esta sim, a minha maior influência no desenho. Outras grandes influências minhas foram as revistas Circo e Chiclete com Banana. Aqui no Japão é muito difícil encontrar os grande autores de mangá, eles são celebridades e são tratados como tal, então não são muito acessíveis. Mas quem sabe eu não esbarre em algum por aqui? Qual a sua opinião sobre o Projeto de Lei 6581/06, que incentivaria a produção de quadrinhos no Brasil? Acho fantástico! Espero que essa lei seja aprovada logo e obrigue as editoras a contratar autores nacionais e desenvolver projetos de quadrinhos brasileiros! Vai ser um bom investimento, pois a criação de uma produção nacional de quadrinhos vai elevar o nível dos trabalhos e fazer os leitores quererem ler quadrinho feito no Brasil, por brasileiros, e criar um estilo próprio de quadrinhos no futuro. É o que espero! O Bigorna.net agradece a Tako X pela entrevista. |
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